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#16 — Vamos mesmo escrever uma história de fantasia genérica? A Lenda de Larzo fracassou.

Onde falo o porquê de não continuar A Lenda de Larzo

Existe algo interessante sobre os experimentos que, muitas vezes, é ignorado: experimentos podem falhar. Todo mundo sabe disso, mas ao mesmo tempo, a gente cria a expectativa de que todos os experimentos deem certo — em parte por nosso próprio desejo de confirmar nossas hipóteses, mas em parte de só ouvirmos falar de experimentos que funcionam. Quem é que publica fracassos?

Hoje eu quero falar sobre uma frustração. Meu experimento fracassou. A minha ideia em escrever uma história de fantasia genérica era escrever uma história (formato romance ou novela) com início, meio e fim. Minha hipótese para tal objetivo era: se eu me permitir a escrever algo mais básico, até mesmo clichê, altamente repetido, não vai ser difícil terminar. E assim nasceu A Lenda de Larzo.

Mas daí fui escrever e… É assim que morreu “A Lenda de Larzo”. Ou pelo menos morreu na forma como foi pensada inicialmente. Hoje vou falar um pouco mais sobre esse fracasso no experimento, então o assunto é…

Mudanças na vida afetando toda a história

Eu gastei a newsletter #12 para falar da minha mega mudança de Parauapebas (PA) para Uberaba (MG). E nas newsletters seguintes esse tem sido meu motivo alegado para o hiato em “A Lenda de Larzo”.

Isso não deixa de ser verdade. Talvez, se eu ainda estivesse no Pará, eu tivesse mantido o ritmo de um capítulo por semana dando atualizações de making off. Mesmo assim, era improvável. Isso porque eu troquei o SSD de 216 GB do meu notebook por um de 2 TB e esqueci de fazer backup, então tinha perdido o arquivo do Scrivener em que escrevi os capítulos 1 a 4. Daí o 5 eu escrevi no Word super insatisfeito com a situação.

A insatisfação com a plataforma de escrita (antes Scrivener e agora Word) também se converteu em insatisfação para escrever. E, se não bastasse essa mudança, veio a outra antes do capítulo 6: tive que vir às pressas a Uberaba garantir meu emprego e também procurar casa para morar.

As duas mudanças interromperam um fluxo de escrita e, quando fui retomar, já não estava mais com o mesmo fôlego. Isso de forma alguma pode ser negado, mas seria injusto eu dizer que foi esta a causa do fracasso do experimento.

Uma peculiaridade do que podemos chamar de narrativas longas é que o período de escrita vai ser, quase sempre, longo. É de se esperar que haja mudanças na nossa vida enquanto escrevemos. Aquele contexto e o ímpeto da ideia inicial não vai permanecer até o final, então até mesmo o tom da escrita pode ir mudando. A única coisa que impediria o trabalho final de ser um Frankenstein de partes emendadas seria o processo de edição e reescrita ao final, que leva menos tempo que o primeiro rascunho. Afinal, estamos falando de lapidar um material bruto já existente, e não de criá-lo do zero.

Nesse tempo de hiato também me trouxe tempo de reflexão e contato com outras visões, e por isso o desencantamento com as estruturas literárias me provou que a mudança que mais impactou foi, na verdade, a minha postura quanto à ideia de escrever uma história de fantasia genérica: não é uma ideia fácil, é uma ideia chata que limita minhas possibilidades de inserir minha personalidade na história. Se isso ficou claro, por que continuar escrevendo desse jeito? Por que não parar e reformular tudo?

Temas do protagonista

Eu diria que manter a história o mais genérica possível falhou logo no começo quando fui apresentar os personagens. Seguindo o sorteio que fiz no planejamento inicial, meu protagonista seria Larzo, um pequeno goblin da classe ladino. Defini também que, como a maior parte dos protagonistas de fantasia, Larzo seria um órfão.

O que eu não segui de forma genérica foi aquela ideia de “legado da família perdida”, como um Hércules da Disney que, após descobrir ser adotado, descobre também que o pai é o próprio Zeus. Não tem sangue real ou sangue dos deuses correndo nas veias de Larzo para torná-lo especial. A verdade é que, no início da história, ele já sabe que seus pais biológicos eram provavelmente pessoas comuns e que provavelmente foram mortos injustamente pelo império tirânico no qual ele vive.

Esta decisão narrativa é uma postura pessoal minha: acredito que essa coisa de semideuses e legado de família traz uma carga ideológica. Em muitos dos mitos nos quais nos inspiramos para este arquétipo do órfão especial que na verdade é um semideus, a ideia costuma ser de reforçar a autoridade de instituições sociais: ou exaltamos o templo, já que indivíduos só poderiam fazer coisas excepcionais por meio dos deuses e, portanto, devemos temer os deuses; ou exaltamos o palácio, com a ideia de que indivíduos só poderiam fazer coisas excepcionais pertencendo a uma dinastia de governo.

Se mesmo os mitos carregam uma ideologia, eu gostaria de imprimir a minha: indivíduos podem fazer coisas excepcionais quando se unem em coletividade.

Apesar de a escolha da raça fantástica de Larzo ter sido sorteada, me pareceu interessante ser um goblin. Protagonismo e heroísmo atribuídos a um ser de quem não esperam muita coisa não é novidade na literatura fantástica. O próprio Tolkien fez isso primeiro em “O Hobbit” e depois em “O Senhor dos Anéis”, povoando seu mundo fantástico de seres poderosos e heróicos para deixar o dia ser salvo por pessoas pequenas, bucólicas, e extraordinariamente comuns. Mas, a partir daí, não é como se víssemos muitos Frodos e Bilbos por aí. E o goblin carrega algo que os hobbits tolkenianos não carregam: um preconceito associado a eles. Goblins são exaustivamente tratados como monstros selvagens, bárbaros, e que devem ser destruídos. Sou contrário a ideologia dos inimigos bestiais, e aqui era uma chance de ouro de trabalhar o contrário disso. Goblin também é gente. Aqueles que sofrem preconceitos também são gente. E toda a gente pode mudar o mundo.

Mas, por causa da proposta de seguir uma história de fantasia genérica — que eu erroneamente julguei ser tarefa fácil por já possuir um esqueleto pronto — acabei deixando isso de lado. Há uma cena no capítulo 2 em que Larzo chora ao cair na real, outra vez, de que não possui família mesmo. Ali ele vive um luto que muitas pessoas não compreendem, mas todos aqueles que não possuem família sabem: não é preciso ter conhecido seus pais, quando você é a única pessoa que não tem pais, o sentimento de perda e abandono é inevitável. Não há cura para isso, tudo o que resta é aprender a lidar.

Então temos aqui um tema de personagem que não foi explorado e poderia: O luto de Larzo por sua família. E existem possibilidades interessantes de se trabalhar isso. Não acho que preciso retirar a cena de Larzo e Evangeline lidando com esse luto logo no início, afinal, isso mostra algo importante sobre o personagem: ele já perdeu sua família biológica, não vai querer perder sua família encontrada (Madre Celéstia, Irmão Humberto, Evangeline, Razeru, e vão haver mais pessoas que se tornarão família para Larzo). Só acho que preciso abrir mais espaço para desenvolver mais o processo de entendimento de Larzo sobre seu próprio luto.

Ele vai embarcar numa aventura. Isso é certo. Então não seria estranho que, mesmo sabendo que seus pais provavelmente foram mortos no Expurgo de Calena, Larzo começasse a nutrir esperanças de ser descendente de goblins especiais que podem estar por aí. Isso aparece logo no capítulo 1, quando ele lê vagamente sobre “goblins do deserto” no Diário Vermelho. Larzo começa a imaginar se ele próprio não seria descendente de goblins do deserto — é este o evento que engatilha a cena do capítulo 2, já citada.

Eu poderia fazê-lo imaginar de novo: se ele estava aprendendo a ser um ladino, se estava no caminho para se tornar um herói, haveria algum motivo para sua excepcionalidade, né? Daí a expectativa do Larzo pode se misturar a uma criação de expectativa dos leitores que já estão acostumados com esse arquétipo do órfão semideus ou membro de dinastia e, lá na frente, posso quebrar a expectativa com a coisa mais comum: Larzo não tem linhagem especial e também não precisa ter. O que aconteceu com sua família, sua infância de abandono, tudo isso é uma tragédia, mas foi isso o que aconteceu. Entretanto, ele não é definido só por isso. Existe futuro pela frente.

Um último tema para o Larzo seria suas habilidades de ladrão. Antes de ser adotado por Madre Celéstia, ele era usado por um grupo de ladrões. Não dá para dizer que, no início da história, Larzo seja um ladrão experiente: mas algumas habilidades do ramo lhe foram ensinadas desde a infância. Larzo não as esqueceu, mas se envergonha. Ele é mal tratado por muitos na vila por ter sido um fora-da-lei, e agora quer seguir pelo caminho da justiça: se tornar um presbítero da igreja. Essa contradição de alguém que quer se redimir por faltas que não são suas, a rejeição das habilidades de ladrão que serão as habilidades necessárias para essa pseudo-redenção… Acho que vou perder uma oportunidade muito interessante se não trabalhar isso.

Posso inserir mais pesadelos nessa fase de apresentação com flahsbacks do período em que Larzo foi ladrão. Posso colocar mais conflitos de sentimentos quando ele usa suas habilidades — no primeiro capítulo mesmo ele acaba se infiltrando no escritório de Madre Celéstia para ajudar Evangeline. Isso deveria ter bugado a cabeça dele pra caramba! Posso inserir mais cenas que mostram a reação dúbia das pessoas quanto ao passado daquele menino excessivamente gentil e educado. Poderia mostrar Larzo sendo excessivamente gentil e educado.

Larzo seria um personagem vazio, mas aqui tenho três temas para trabalhá-lo: alguém comum que mudará o mundo ao se juntar ao coletivo; alguém que vivencia uma perda irreparável e precisa lidar com isso; e alguém que acredita precisar de uma redenção, quando não precisa. Em vez de introjetar preconceitos trazidos de outras pessoas, Larzo deve se aceitar e fazer parte da transformação do mundo.

Agora sim ele parece um protagonista interessante, né?

Diário Vermelho e a Profecia

Um outro elemento surgido na história que é ao mesmo tempo interessante e fora de lugar é o Diário Vermelho. Eu gosto desse negócio de personagem descobrir novos detalhes do mundo através de documentos proibidos, então é um elemento que vou manter por gosto mesmo.

A ideia do Diário Vermelho é de uma sacerdotisa antiga que fez descobertas sobre o deus-imperador Nicolas Albigorn no sentido de ele não ser, de fato, um deus. Até onde escrevi, ele teria vindo de outro mundo — sim, um vilão isekaiado — e sua imortalidade seria artificial. A importância deste documento para a resistência seria indicação de informações sobre um artefato, o margarete, que seria a fonte da imortalidade de Nicolas Albigorn. Sem a imortalidade, eles viam uma chance de derrotá-lo.

Este diário caiu nas mãos de Larzo por ter sido apreendido pela igreja na Vila Amora. Madre Celéstia, em sua política de não destruir conhecimento, teria deixado ele trancado em seu escritório pessoal. Até aí tudo bem, não precisa de mais explicações. Mas quando eu coloquei Razeru tendo lido o diário — recurso para ela tentar convencer Larzo a se juntar à resistência — o negócio complicou. Quem estava na posse deste diário antes de ser apreendido? E se Razeru leu inteiro, por que não vai direto investigar o margarete? Coloquei lá que o diário é inconclusivo quanto ao artefato, mas se for o caso, pra quê enfatizar o diário?

Uma solução possível seria alguém da resistência ter lido o diário, juntado um grupo para investigar o margarete e partido sem compartilhar muitas informações com o restante. Talvez alguém que não fosse do mesmo grupo que Razeru, mas outro grupo que se opõe a Nicolas Albigorn. Talvez isso tenha acontecido há muito, muito tempo atrás, durante o Grande Expurgo — quando goblins em Calena foram caçados pelo Império Albigorn. O diário estava lá, trancado no escritório da Vila Amora, até que Larzo o encontrou por acaso (igual aos eventos narrados no capítulo 1).

Larzo poderia ter copiado todo o diário no seu dispositivo de memória e este dispositivo teria sido apreendido pela Polícia Imperial. Por esse caminho, já teríamos um pouco de ação logo no começo: Larzo e Razeru se infiltrariam na Cidade de Calena e roubariam o dispositivo de memória antes de voltarem a base da resistência. Inclusive, este poderia ser o evento decisivo para Razeru querer recrutar Larzo.

Falando no recrutamento do Larzo, temos a questão da profecia. Inicialmente, inseri só porque quase toda história de fantasia que eu considero genérica possui a profecia. Tem algo que me incomoda em existir uma profecia: daí eu teria que pressupor a existência de uma divindade que traça o destino, ou uma entidade que calcula todas as variáveis da realidade para dizer o caminho determinado. Geralmente profecias são elementos que trazem para reforçar ou contrapor a ideia de livre-arbítrio e poder dos deuses — como é o caso da peça de Ésquilo, “Édipo Rei”. Enfim, eu não tenho interesse de trabalhar esses temas.

Entretanto, não posso jogar a profecia fora. A profecia da queda de Nicolas Albigorn é o que motiva o vilão a ter medo o suficiente para promover massacres na região de Calena, o que tornou Larzo um órfão aproveitado por ladrões. É o que motiva as ações de Madre Celéstia, que na verdade é a outra pessoa imortal da história e a verdadeira Margarete.

A solução que pensei: a profecia não precisa ser verdadeira. Se o deus-Imperador reina há séculos, não vai ser a primeira vez que encontra resistência. Em algumas dessas vezes alguém de Calena pode ter usado o próprio pensamento religioso — que neste contexto é instrumento de opressão — para dar um último golpe no Império: profetizar que ele seria derrotado. Isso pode acabar entrando na cabeça do deus-Imperador a ponto de motivar todas as ações e aí a profecia falsa vira uma profecia autorrealizável: não tinha nada realmente destinado a acontecer, mas o desespero gera uma reação em cadeia que nos leva até a história que Larzo vivenciará.

Acho que isso é o suficiente. Larzo não precisa ser a “criança da profecia” ou algo assim. Tudo o que precisamos é que os vilões da história temam essa tal profecia a ponto de tropeçar.

Nicolas Albigorn, Margarete e o Império Albigorn.

Então, eles são mesmo imortais. Mas não no sentido de morte matada, eles só não tem morte morrida. E a outra coisa que defini é que eles foram isekaiados, vieram de outro mundo. Eles provavelmente trouxeram, de seu mundo natal, um jeito artificial de prolongar a vida e aproveitaram para dominar este mundo.

No planejamento inicial, Nicolas Albigorn seria um vilão ausente que assombraria muito mais a imaginação dos personagens. Na hora de enfrentá-lo, ficaria bem claro que ele sangra como todo mundo. Acho que me inspirei no Lorde Soberano de Mistborn, do Brandon Sanderson, que no final não era tão poderoso quanto imaginavam ser.

Ainda gosto dessa ideia, principalmente quando perceberem que o Nicolas Albigorn se tornou um personagem bem patético. No momento em que chegar perto de ser derrotado, ele vai desmoronar psicologicamente. Mas ainda quero deixar a questão da imortalidade (de morte morrida) nesse eixo. Não vou fazer uma conspiração das Unas como é o caso de “Ordem Vermelha: Filhos da Degradação”, do Felipe Castilho.

Agora o quanto esses elementos vão afetar o desenrolar da história ainda é difícil prever. Acho que gosto mais do desenvolvimento do núcleo protagonista. Não acho que vou precisar de um arco para Nicolas Albigorn.

O arco de Margarete/Madre Celéstia já pode ser outra coisa, mas também mais simples de ser trabalhado. Vivendo entre as pessoas comuns para tentar prevenir a tal profecia, ela pode ter pegado gosto pelas pessoas — principalmente Larzo. Acho que ela vai querer ter Larzo como filho, ou algo assim. Ela pode oferecer algo do tipo quando Larzo confrontá-la.

O momento em que a Polícia Imperial vai pegar Larzo, mas Madre Celéstia vai em seu lugar, pode ser um gesto genuíno e não uma armadilha como eu havia pensado. Faria até mais sentido do que a cena que eu efetivamente escrevi no Capítulo 4. Ela estava tentando salvar Larzo. Ele se juntar a Razeru na resistência vai ser um desenrolar triste. Madre Celéstia não queria ter Larzo como seu inimigo.

Imagino a cena do confronto entre os dois um momento bem emocionante. Larzo podendo escolher retomar a uma de suas famílias encontradas — algo importante, já que ele tem esse trauma do abandono — e Madre Celéstia tendo escolher com qual dos mundos sociais ela prefere ficar: o mundo do poder onde ela é Margarete, a companheira do Imperador; ou o mundo comum, onde ela é Madre Celéstia, uma pessoa amada pela comunidade e que acolhe órfãos.

A Resistência

O Império Albigorn é uma mistureba de modelos de sociedade reais. É uma teocracia no sentido das sociedades mesopotâmicas, onde a religião se mistura com a política a ponto das pessoas acreditarem que o governante é uma divindade. A divisão é quase feudal como na Idade Média, com muita censura cultural. Imaginar um mundo diferente deste seria heresia. Mas a modernização que este mundo está sofrendo é quase capitalista, com classes dominantes se formando não mais por direito divino e títulos de nobreza apenas, mas também pelo acúmulo de riquezas: daí o projeto de especialização das províncias.

Nesse sentido, imagino algumas coisas.

1) A revolução que está para acontecer não é a única da história: já houveram várias. Parte do sucesso desta se deverá a um esforço de resgate histórico das revoluções anteriores. Uma tradição revolucionária terá sido mantida aos trancos e barrancos.

2) O grupo de Razeru não será o único existente. Devem haver muitas lutas por aí, desde libertação de povos conquistados, lutas de religiões diferentes da religião imperial, lutas camponesas… O grupo de Razeru provavelmente vai estar tentando uma articulação de todos esses grupos, mas não significa que estarão sempre agindo em conjunto. Inclusive, assim que destronarem Nicolas Albigorn, surge a questão: qual será o novo projeto de nação?

3) O novo projeto de nação não terá sido amplamente desenhado, mas vai ser construído passo-a-passo. Para mim é o que faz sentido.

Isso supre uma questão importante. Não é só sobre matar Nicolas Albigorn, é sobre tomar os postos de poder. Então, no decorrer da história, vou precisar dar espaço para atacarem generais, nobres, e conquistar parte do exército. Isso só será possível graças a uma coisa: vão perceber que a influência imperial não é tão onipresente assim no território do império.

Quanto aos rumos que este lugar tomará no pós-revolução…. Bom, vou fechar as cortinas e deixar para a imaginação dos leitores. Já tenho outra história (em desenvolvimento) que pensa mais nesse tipo de questão.

O que já está bom?

Nem tudo deste experimento, porém, foi um fracasso. No início eu quis criar o núcleo do Larzo e povoei este elenco com alguns personagens: Madre Celéstia, Theo, Irmão Humberto, Evangeline e o pessoal da Vila Amora. Explorei um pouquinho a relação entre eles e essa é a parte que me deixou mais satisfeito.

Na nova versão ainda vou manter a cena inicial em que Larzo vai roubar desenhos eróticos para Evangeline. A apresentação de Razeru pode ser a mesma: Theo pedindo ajuda para Larzo pechinchar uma mercadoria.

A relação entre os personagens me deixa muito satisfeito, então não faz sentido alterar. Acho que, no caso, o que preciso é ampliar.

Fundo preto, um sinal circular de setas verdes, e a inscrição Atualizações.

Show do Tiago Santinelli. Então, um EVENTO na minha vida e da Vanessa foi descobrir que o Tiago Santinelli estaria fazendo um show na cidade que a gente mora. Uberaba proporcionando experiências.

Duas pessoas negras, felizes, sorrindo e abraçando o mestre Tiago Santinelli. Da esquerda para a direita; Ícaro, homem negro, de óculos e cabelos cacheados, vestindo uma camiseta de botões branca e short azul. Ao seu lado, Tiago Santinelli, comediante e militante, homem branco com barba, camisa e calça preta. Por fim, Vanessa, esposa de Ícaro, mulher negra com cabelo crespo preso a uma bandana vestindo um cropped e calça lilás.

Mesmo sendo autistas sem a carteirinha de identificação, enfrentamos fila pra tirar foto com o Mestre e marcar o dia

A gente já tinha assistido os outros dois especiais de comédia dele pelo youtube, o Antipatriota (o primeiro) e o Pai da Mentira (o segundo), mas sem dúvidas esse que a gente viu ao vivo foi o mais engraçado. Acho que a graça já começa pelo título. O nome do show é, para o terror de muita gente, Anticristo. Mas o show não é sobre falar mal de Jesus e exaltar o Satanás, como muitas pessoas podem imaginar.

A premissa do show é a seguinte: o que a figura de Jesus segundo o que lemos nos evangelhos na bíblia representa não combina muito bem com os valores do cristianismo, algo de errado não está certo. Uma divindade cujos poderes manifestados envolvem curar doentes, ressuscitar mortos e multiplicar comida para alimentar pessoas famintas não combina muito com a ideia de matar LGBTQIAP+, defender pena de morte, e essas coisas que a gente vê as igrejas cristãs defenderem…

Certo, a premissa é bem lógica e traz uma reflexão muito boa — que não é novidade, já que o Tiago Santinelli inventou de fazer a Igreja Aliança Libertadora Nacional que fez um culto público em Belo Horizonte cuja temática foi Fim da Escala 6×1, embora oferecesse momentos espirituais para pessoas que professem mesmo a religião cristã —, mas foi sim um show de comédia. Um muito engraçado. A gente riu pra caramba. Não vou reproduzir as piadas aqui, mas se vocês puderem assistir, vale muito a pena.

Mas enfim, sobre o show “Anticristo”, tem essa entrevista aqui do Tiago falando. E se alguém quiser recomendações de vídeo pra sacar o tom do humor dele (apesar de que no YouTube é menos piada e mais falas engraçadinhas que, no final, tão é certas).

Para começar com vídeo curtinho: pega aqui como fazer um humor ácido bem construído no “Meu Amigo Sidney”.

Para a galera da psicologia: eu gosto bastante desse aqui sobre constelação familiar, mas o histórico mesmo foi ele detonando o metaforando.

Para quem já viu pilantragens no meio evangélico: com certeza vai ter a experiência catártica de ver crente passando vergonha. Porque, na moral, desde que igreja virou mercado o negócio desceu foi muito (lembrando que, seguindo a bíblia, quando Jesus viu isso ele foi meter o chicote na galera, hein).

E de forma geral: ele descendo o pau em machista redpill é muito bom. Ele até criou um podcast chamado Bluepill em contraponto kkkkkkkkk

FoundryVTT e Universitários de Tuga. Consolidado meu gosto por RPGs de Mesa e minha incapacidade de manter uma mesa presencial, resolvi usar as bençãos de ser finalmente um psicólogo concursado e gastei 50 DÓLARES (pois é, convertendo para real ficou carinho) num programa chamado FoundryVTT. Mas, tal qual meu queridinho Scrivener, a licença é vitalícia. E se o Scrivener é o melhor software para escrever livros que eu conheço, FoundryVTT é a melhor mesa de RPG virtual (isso que significa VTT, virtual tabletop, o tabletop fazendo referências ao tabletop role-playing game, que é RPG de mesa).

Se você é novo por aqui (ou sempre pulou as atualizações e agora resolver ler) e quer saber o que é um RPG, vai uma explicação rápida: é um jogo de interpretação de papéis onde uma pessoa narra uma história e as outras interpretam personagens. É tipo quando a gente era criança e brincava de ser super heróis, só que aqui tem regras, daí não faz sentido dizer “mas o meu poder é ultra super mais forte que o seu”. Existem inúmeros sistemas de regras: Dungeons and Dragons, GURPS, Tormenta20 (esse é brasileiro)… Falando nisso, fica aqui a recomendação de leitura do texto “3D&T e antropofagia” do Yuri Cortez na VAL, onde ele relaciona o sistema brasileiro 3D&T com as ideias antropofágicas do movimento modernista da literatura brasileira (aquele da semana de arte moderna de 1922).

Enfim, com isso resolvi criar um jogo de GURPS com meu irmão mais novo, minha esposa, e o Daniel, que já vinha jogando com a gente o “Lâminas do Caos” (no sistema Tormenta20, se você não viu nada disso, é só clicar no link e ir para a parte de atualizações de todas as news que aparecerem).

Dessa vez não fui de aventura pronta, resolvi ir com uma autoral. Universitários de Tuga foi um experimento que fiz para Dungeons and Dragons em 2024 com Ítalo (meu irmão mais novo) e Vanessa (minha esposa), mas não continuamos a jogar. D&D tinha umas coisas que me irritavam muito, como um certo racismo na elaboração do mundo e um travamento na evolução da narrativa (sério, fazer os personagens subirem de nível tava difícil). GURPS me permitiu maior controle sobre essas coisas, e daí eu recriei a República de Áglia e voilá, vamos jogar.

Em próximas newsletters vocês poderão ler sobre a história. Vou tentar uma abordagem mais estilizada, tipo diários de personagens, mas terei tempo de elaborar ainda.

Goodreads. Mais um dos livros lidos.

Fios de ferro e sal: trama ancestral (Portuguese Edition)Fios de ferro e sal: trama ancestral by Wilson Junior
My rating: 5 of 5 stars

Continua mantendo a mesma qualidade que Trama Ancestral. Aqui acompanhamos Ekundayo velho e, em vez de recuperar suas memórias, dessa vez ele corre o risco de perdè-las. Sem spoilers, mas é uma conclusão excelente para o arco do Ekundayo.
E abre espaço aqui para novos personagens que roubam bastante a cena também: Kayin, que pareceu um Moisés Negro para mim (mas sob a benção de Ogum, não de Yaweh) e a jangadeira Iracema.
Ao mesmo tempo que continua nessa temática fantástica de libertação dos escravos no Brasil Colonial, aqui a trama se passa mais no mar (temos a Iemanjá aparecendo, hein). Me passou muito vibe histórias de piratas, indo pro lado mais fantasioso, com perigos mágicos no mar. E é sempre muito bom ver isso sendo representado no Brasil. Tá próximo. Tá perto. E fala de uma visão que eu também posso ter.

Wilson, você tá conseguindo sim trilhar esse caminho de escritor negro. É uma bandeira necessária e precisamos de mais.

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Enfim, é isso por hoje. Até a próxima!

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