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#5 — Vamos criar uma História de Fantasia Genérica!
Acompanhe o desenvolvimento da ideia de uma História de Fantasia Genérica cujo título será escolhido por VOCÊ (provavelmente), veja a estratégia que defini pra comer frango e descobertas arqueológicas chocantes da Colônia Modesto em Oxygen not Included

Faz bastante tempo que eu não escrevo ficção e isso se deve a um monte de coisas (sobre as quais falarei outro dia). Mas, por hora, vamos falar sobre

Estou pensando numa coisa: por que não nos permitimos a fazer arte genérica? Não estou falando da mediocridade de fazer algo que não tem nada de especial e sair vendendo como se fosse a mais perfeita obra-prima da história, mas sobre pegar o conhecimento acumulado e esboçar algo só para sentir como é executar aquela arte.
Resolvi me permitir a só experimentar e vou criar uma História de Fantasia Genérica. Não vai ser melhor do que nenhuma história, mas a ideia é tentar escrever um projeto com início, meio e fim — algo que não faço há muito tempo.
Agora vou rascunhar as primeiras ideias aqui ao vivo, deixar vocês acompanharem todo o processo.
Numa história de fantasia genérica, é comum termos um vilão que ameaça o mundo do protagonista (seja o mundo mesmo, ou seja só a parte do mundo que o protagonista valoriza). Primeiramente pensei num Rei-Demônio. Esse é tão clichê que aparece em quase todo anime que se propõe a brincar com um cenário de fantasia genérico.

No anime Mayouu Maou Yuusha, o “Rei Demônio” é essa mulher aí. E tudo o que ela quer é desenvolver as forças produtivas de um mundo medieval para que a educação acabe com as guerras.
Mas não vou querer trabalhar com a ideia de “raça maligna”. Posso estar planejando um cenário genérico de fantasia, mas não quero reproduzir apologia a ideias colonialistas (escrevi sobre isso no texto “A problemática colonialista dos inimigos bestiais (ou sem rosto) na fantasia” e depois no texto “Literatura não é didática, mas pode ser ideológica”). Então decidi que o grande mal vai ser um império. O mal não vai ser natural, e sim uma postura de ação, uma decisão política. Nosso vilão, então, será o Deus-imperador Nicolas Albigorn— porque eu gosto de usar nomes comuns e também porque tanto “Nicolas” quanto “Albigorn” são figuras mitológicas que surgiram na minha vida. Quem sabe, sabe.
Podemos preencher os detalhes do Deus-imperador Nicolas Albigorn depois. Por enquanto é suficiente saber que (1) se é imperador, então ele governa uma nação que oprime outras e (2) se é “Deus-imperador”, ele é visto como divindade dentro do território em que governa e (3) ele consegue se manter visto como divindade porque é imortal e invencível (pelo menos, é o que todos pensam).
Agora precisamos de um protagonista. Acho que manuais de RPG de fantasia, estilo Dungeons and Dragons, são perfeitos para gerar protagonistas genéricos de fantasia. Qualquer personagem de jogador ali vai ser um protagonista legal. Então vou pegar o livro básico de Tormenta20, porque gosto mais de Tormenta20 do que de D&D. Há 17 raças no livro básico e mais algumas no livro Ameaças de Arton. Então vou rolar aqui nos dados para ver qual eu escolho.
E o resultado é: Goblin. Isso com certeza vai ser muito interessante. Vou jogar aqui uma descrição do Goblin como aparece em Tormenta20
Pequenos, de pele rugosa verde, marrom ou amarela, orelhas longas e nariz pontudo, os goblins vivem nas frestas do mundo civilizado. No Reinado, habitam zonas de grande pobreza. Nos ermos, ficam entocados em cavernas. Erroneamente são vistos como inferiores — ou, na pior das hipóteses, como monstros. Mas essa é uma visão simplista. O que define os goblins é perseverança e inventividade. (…) O instinto de sobrevivência e a inventividade tornam os goblins aventureiros furtivos e malandros. A necessidade de se virar com o que têm faz com que possam improvisar melhor do que o mais criativo humano. Para quem nasceu sem nada, qualquer coisa é uma ferramenta, uma arma, um tesouro. Além disso, aos que sabem reconhecer seu valor, um goblin pode ser um parceiro para a vida toda.

Aqui está Dok, um personagem de T20. Não sei qual das pessosa da equipe artística desenhou, mas essa ilustração está lá no Livro Básico.
Então já podemos imaginar, por exemplo, nosso protagonista vivendo numa pequena vila de goblins no início da história. Uma vida difícil, pois seu povo estará sendo oprimido pelo Império Albigorn (é, resolvi chamar assim), porém pacata, já que é uma vila pequena e tal. Ao contrário do que fiz com o vilão, vou deixar para escolher o nome do nosso Herói Goblin depois.
Bom, a outra parte rpgística que podemos usar é a classe. Qual tipo de habilidades nosso goblin vai usar para derrotar o domínio maligno de Nicolas Albigorn? São 14 classes listadas no livro oficial de Tormenta20, então vou rolaros dados
O resultado foi: ladino! Então nosso goblin vai precisar se dar bem graças a sua esperteza e furtividade.
Aventureiro cheio de truques, confiando mais em agilidade e esperteza que em força bruta.
Acho legal ele ter uma origem também, e vou usar Tormenta 20 outra vez. No livro básico, temos 35, então vamos aos dados.
E saiu “Estudioso”. Não tem muito a dizer, significa que nosso protagonista vai ser alguém estudioso antes de iniciar a aventura.
Sendo assim, temos um Goblin Ladino Estudioso como protagonista. Acho que isso vai ser bem divertido.
Outra coisa importante numa história de fantasia genérica é a profecia. Por que, né? O protagonista é o ESCOLHIDO, a pessoa que está destinada a derrotar o vilão. Então podemos imaginar que antigas anciãs já profetizavam que um dia um rapaz pequeno, porém de grande inteligência, derrotaria um grande mal que assola as nações. Essa profecia fica correndo na boca miúda não só entre os goblins, mas entre todas as nações oprimidas pelo Império Albigorn, alimentando suas parcas esperanças.
Agora tudo o que precisamos fazer é estruturar o arco do personagem e a estrutura da história inteira.
Para o arco do personagem, vamos usar a clássica Jornada do Herói, concebida provavelmente por Christopher Vogler (nunca li o livro dele) com base na teoria do monomito de Joseph Campbell (desse aqui eu li o livro).
Então vamos lá.
O Homem Comum. Aqui temos que apresentar o protagonista em sua vida comum, ordinária e nada heróica. Então imagino um goblin órfão (porque protagonista genérico geralmente é órfão) no vilarejo. Ele pode ter sido adotado por uma sacerdotisa da religião dominante (a que considera Nicolas um deus), e daí essa sacerdotisa bondosa o ensinou a ler e a escrever para que ele tivesse uma boa vida no futuro. Em troca, ele trabalha na igreja, limpando o chão, lavando roupas, essas coisas. Uma vidinha bem pacata mesmo.
O Chamado. O momento em que o herói será chamado para a aventura. Tipo aquele momento em Star Wars em que o Luke vê a mensagem da Leia “Ajude-nos Obi-wan Kenobi, você é nossa última esperança”, descobre que o seu velho vizinho é um antigo cavaleiro jedi e que seu pai também era, daí ele precisaria treinar para isso e se juntar à luta contra o Império.
Acho que pode passar alguém pelo vilarejo e o reconhecer como o herói da profecia, botando essa pressão toda. Vou gerar esse alguém da mesma forma que gerei o protagonista, com exceção da classe. Vai ser ladino, alguém precisa treinar o goblin. Rolei os dados e vai ser um… Sulfure Ladino Mercador. Não posso usar o nome sulfure, esse pertence aos criadores de Tormenta20, mas um sulfure é basicamente um demônio: ser humano com chifres, rabo e magia, com aparência inspirada no deus grego Pã. Vou chamar esse pessoal de abisses. Então vai ser um mercador abis, que na verdade é um ladino, quem vai fazer o chamado para a aventura. “Venha comigo e te ensinarei a cumprir seu destino.”
Recusa do Chamado. Óbvio que sair de seu vilarejo assim do nada seria uma doideira, então nosso goblin ia dizer um grandessíssimo não. O mercador abis vai embora, mas aparece então a polícia secreta do império procurando por ele. Não demora muito para um dos policiais imaginar que nosso goblin como o rapaz da profecia proibida, mas não consegue levá-lo assim de cara sem uma desculpa. A desculpa perfeita seria envolvimento com rebeldes, como aquele abis. Para salvá-lo, a sacerdotisa se entrega no lugar dele. O policial aceita levá-la, vai até servir de isca para o goblin. E isso dá super certo, porque em seguida nosso goblin vai atrás do mercador abis pedir treinamento. Ele precisa salvar sua mãe adotiva.
Encontro com o mentor. Ele alcança o mercador abis, conta o que houve, e então eles começam uma jornada rumo à cidade que serve de base de operações para o grupo do qual esse mercador faz parte. Durante a viagem, o mercador conta mais sobre seu grupo e vai passando algumas lições de ladinagem.
Travessia, o desafio menor, 1º portal. Onde o protagonista vai enfrentar seu primeiro desafio, testar seus poderes e tal. Imagino que o mercador não estivesse de passagem ali por qualquer motivo. Talvez tivesse alguma missão, de roubar algum item que ajude na revolta contra o Império. Daí podemos deduzir que o goblin vai ajudá-lo nessa missão, como um primeiro teste. Podemos até pegar essa parte e planejar da seguinte maneira: eles montam um plano, estudam o plano, e na hora vai ter alguma situação imprevista que ferra o plano todo, mas daí o goblin vai improvisar e eles vão ter sucesso por pouco.
O Encontro: Provações, Aliados e Inimigos. Ele chega a base dos ladinos. Lá, os líderes do grupo rebelde — que acabei de decidi que não vão se tratar apenas de ladinos — não aceitam muito bem o goblin, então ele precisa provar seu valor. Nisso vai conhecer uma rival que também é interesse romântico, e ela vai ser (rolando dados no Tormenta20) uma sereia maga. E também vai fazer um grande amigo, que vai ser um (rolando dados de novo) minotauro cavaleiro com uma ligação íntima com animais. Vamos acabar com essa seção com o goblin sendo aceito por todos. Daí vão criar algum plano pra roubar algum artefato que poderia ser a ruína do Deus-imperador Nicolas, e nesse plano o nosso goblin vai ter um papel crucial.
Aproximação da Caverna Secreta. O momento em que o herói vai enfrentar seus piores medos e vai se questionar: vale mesmo entrar nessa aventura? Aqui pode ser quando eles estiverem indo executar o plano, e então recebem um ataque massivo do Império Albigorn. Dá tudo errado, mas eles conseguem sobreviver e fugir. Os problemas: o mercador abis sai gravemente ferido de lá e descobrem que o plano deu errado por causa da traição do minotauro cavaleiro. Isso vai colocar nosso goblin em crise existencial, porque com certeza o mercador abis vai morrer no final dessa parte.
A Provação. Mutcho louco por causa de tudo isso, o goblin vai tentar resolver a cagada sozinho. Vai confiar em suas habilidades recém-adquiridas para recuperar aquele artefato lá e vai conseguir, mesmo que a muito custo (porque foi uma estratégia impulsiva e arriscada). Só que quando ele consegue, descobre algo terrível: a sacerdotisa na verdade era sumo-sacerdotisa do Deus-imperador mesmo, ela não era diferente como parecia ser. Aquilo tudo o que aconteceu, desde ela tê-lo acolhido até ter sido sequestrada, era uma encenação para transformá-lo numa isca. Ele, o goblin da profecia, seria usado para desmontar toda a rebelião. E aí, com esse choque, ele vai ser capturado.
Recompensa. Depois de se remoer muito na prisão, a sereia arcanista vai resgatá-lo — e melhor, ela vai ter pego o artefato lá que pode virar o jogo. Eles vão ter conversar, resolver o que tiver de resolver intimamente, e talvez até role um beijinho.
O Retorno. Eles se infiltram na igreja do vilarejo onde o goblin cresceu, procurando mais informações sobre a sumo-sacerdotisa, Nicolas Albigorn, e a profecia. Aí o goblin revisita tudo o que passou. Tipo, parece um século desde que saiu dali, né minha filha?
Ressurreição. Com todas as informações, eles dão início a um plano para assassinar o Deus-imperador. Colam com os rebeldes, invadem a capital, tiro, porrada, bomba, confronto contra o minotauro e a sumo-sacerdotisa, e depois batalha final. Eles vencem, e a profecia é cumprida.
Retorno com o Elixir. Vão declarar uma república, fazer um monumento pro mercador abis, e então o goblin volta para seu vilarejo junto com a sereia maga. Eles enfim vão poder ter uma vida tranquila. O ponto aqui é que o goblin é uma nova pessoa agora, depois de toda essa aventura. Ele se tornou o Herói.
E, por fim, só falta colocar todo esse arco de personagem numa estrutura mais redondinha. E a estrutura usada é a Estrutura em 3 Atos, super usada por muita gente. Se você não conhece e quer saber mais sobre, tem esse vídeo do Vilto Reis que explica direitinho.
Mas vamos lá, os 3 atos são: Apresentação, Confrontação e Resolução.
Apresentação. O início da história, onde vamos falar da profecia, do Deus-imperador Nicolas Albigorn, dos rebeldes, e colocar partes do que a gente colocou lá na Jornada do Herói. Apresentação do Personagem é o equivalente ao ponto Homem Comum, Incidente Inicial é a parte do Chamado, e a Crise Inicial seria a parte da Recusa do Chamado e Encontro com o Mentor. O Clímax do Primeiro Ato seria a parte da Travessia, o desafio menor, o 1º portal. Então tenho que escrever essa parte de um jeito bem emocionante.
Confrontação. Toda a parte lá na base dos rebeldes vai envolver esse segundo ato. Começamos com a parte do Encontro, aliados e inimigos. O Obstáculo 1 pode ser uma das primeiras provas (que vou inventar). O Obstáculo 2 pode ser um confronto mais direto com a sereia maga, sua rival (que vira interesse amoroso). Quanto ao Obstáculo 3 aqui seria legal que os rebeldes o pedissem para fazer algo que ele não concorda, talvez contrariando algo que a sacerdotisa lhe ensinou.
Então chegamos ao Meio do Segundo Ato, que vai incluir agora a Aproximação da Caverna Secreta e A Provação, que vão ser uma grande virada na história (oh no, o minotauro é do mal e a sacerdotisa também!). A morte do mestre pode servir como Desastre, a traição da sacerdotisa e sua prisão podem ser uma Crise… E esse momento de Crise vai ser resolvido no A Recompensa. O momento do resgate, em que o goblin foge da prisão com ajuda da sereia, pode ser o Clímax do Segundo Ato, então preciso escrever essa parte com mais detalhes.
Resolução. Ela começa com O Retorno, onde ele vai se preparar para enfrentar de vez Nicolas Albigorn, o Deus-imperador. Então vem o obstáculo crucial, que será o plano para se infiltrar no Palácio Imperial, ou seja: A Ressurreição. É importante que essa parte seja escrita como um espelho daquela primeira missão que o goblin fez com seu mestre, o mercador abis. Só que se antes ele teve que improvisar, aqui vai ter um sucesso completo, mostrando a evolução. Além disso, o goblin confrontará a sumo-sacerdotisa e dessa vez não vai ter outro colapso psicológico por isso. O minotauro cavaleiro vai ficar por conta da sereia maga.
Bom, mas não pode ser tudo tão previsivelmente bem-sucedido. Ainda na parte da Ressurreição, precisamos trabalhar o Clímax do Terceiro Ato, a batalha final contra o Deus-Imperador Nicolas Albigorn. Depois de colocar tudo na estrutura, é fácil imaginar o que vai acontecer. O artefato que permitiria matar Nicolas vai ser uma fraude, não vai funcionar. Isso colocaria todo o plano abaixo, mas o nosso goblin vai lutar até o final. E durante a luta ele vai ligando os pontos de informações que obteve ao longo de toda a história e vai perceber uma coisa: o Deus-Imperador Nicolas Albigorn não é imortal e invencível de verdade. Com essa nova iluminação, adquirida no momento final do combate, o goblin herói vai derrotá-lo de uma vez por todas e expor para todo o Império que Nicolas Albigorn era uma farsa.
O Desfecho vai ser a parte do Retorno com o Elixir. E uma vez que tudo aquilo estiver concluído, teremos o fim da história.
Com isso temos um bom esqueleto básico para uma história de fantasia genérica. Claro, não são leis escritas em pedra que eu não possa alterar quando efetivamente escrever, são mais como um guia.
Se eu fosse continuar planejando a história — algo que muitos escritores preferem — acho que o próximo passo seria construir melhor os personagens. E se eu fizesse isso, começaria pelo vilão: Deus-imperador Nicolas Albigorn.
Claro que é legal criar a aparência física para o descrever, mas a personalidade é o que conta mais. Na história que escrevemos, a presença do vilão fica mais no imaginário dos personagens. Ele vai aparecer de verdade só no final. Por isso acho importante definir a personalidade real dele. Durante toda a história, Nicolas Albigorn será uma ameaça onipotente, quase sem pontos fracos. O final deverá trazer o choque: na verdade, ele é uma pessoa, tão vulnerável quanto qualquer outra.
Eu definiria também qual é o segredo da imortalidade do Nicolas. Precisa ser algo relacionado ao próprio império, algo que o goblin vai aprender durante toda a história, mesmo que só ligue os pontos no final. Não tenho muitas ideias ainda, mas no momento estou pensando em algo parecido com a pedra filosofal de Fullmetal Alchemist Brotherhood. De alguma forma, o imperador rouba a vida das pessoas. Ou pode ser aquele lance da fé que algumas histórias baseadas na mitologia grega usam: ele se alimenta da crença das pessoas. Mas não vou resolver isso agora.
O próximo personagem na lista de prioridades seria o protagonista. Preciso que os leitores gostem dele de alguma forma, porque vão passar um tempo considerável o acompanhando. Ele é inteligente, mas no início da história quero que ele seja ingênuo e com muita coisa a aprender. Então preciso colocar características que façam qualquer um pensar: “nossa, ele é muito gente boa” e falhas comuns, que façam as pessoas se identificarem com ele. Preciso definir suas fraquezas e seus medos, todas as coisas que o goblin deverá enfrentar em sua Jornada do Herói.
Então eu criaria a sumo-sacerdotisa. Aqui ela precisa ter muito carisma no início da história, então ela também seria “gente boa”. Tão gente boa que o protagonista seria até parecido com ela, pra gente pensar: “ah, foi com ela que o goblin aprendeu a ser gente boa”. Mesmo assim, preciso criar pistas aqui e ali de quem ela é de verdade: alguém devotada ao Nicolas Albigorn.
Daí vem o mercador abis, o mestre. Decidi agora que vai ser a mercadora abis, porque tem homens demais nesse elenco principal. Ela não precisa ser tão carismática de início. Durante o tempo em que ela passará com o protagonista, as pessoas aprenderão a gostar muito dela para sofrer no momento de sua morte. A característica mais marcante dela vai ser a competência. A mercadora abis será uma ladina foda, de deixar até mesmo o Altair de Assassin’s Creed de queixo caído. Inserir uma história passada triste também é legal.
Então eu criaria o minotauro cavaleiro traidor. Deixaria ele com competência alta e seria legal que ele fosse um personagem extremamente carismático. O goblin vai ser hostilizado por todos os lados lá na base rebelde, mas esse minotauro vai colocá-lo debaixo de suas asas metafóricas. Eu teria que colocar várias cenas dos dois se divertindo. Vai ser legal.
Daí vem a sereia maga, que seria muito competente também, mas não tão carismática. Não é para gostar dela logo de cara. Mas é para mostrar como ela é proativa, mais proativa que o protagonista. Até a aparição dela, o goblin vai estar sendo conduzido por outras pessoas. Essa aqui vai ser a primeira a jogar o balde de água fria na cara dele: vê se põe a cabeça pra funcionar e faz uma coisa por sua conta. Ela não precisa de história triste. Pode ser filha de uma das líderes dos rebeldes.
Outra coisa importante que eu consideraria na hora de criar essas personagens é: cada uma delas é protagonista de sua própria história, então eu criaria um elenco secundário orbitando cada uma delas. Não daria tantos detalhes porque não queremos mapear toda a população mundial-ficcional, né? Mas as pessoas tem famílias e amigos, e isso deve aparecer. Não somos nós mesmos sem os outros.
Em seguida, no meu planejamento hipotético, eu selecionaria as pistas principais sobre a imortalidade do Nicolas Albigorn e depois criaria pistas falsas. Então as distribuiria por toda a história. Não preciso criar um sub-enredo detalhado de mistério, mas posso tentar chamar atenção dos leitores para a pergunta: “quem é o Deus-imperador Nicolas Albigorn de verdade?”. E quando o goblin ligar os pontos no final, seria legal se eu desse a oportunidade para os leitores ligarem os pontos um pouco antes.
Por fim, pegaria cada um dos atos e tentaria planejar capítulo a capítulo. Quais cenas devo escrever para cumprir os objetivos? Usaria uma mini-estrutura em três atos para cada capítulo, o que aceleraria o planejamento.
Mas…. Fazer tudo isso não seria tão divertido. Comecei a escrever essa newsletter com uma ideia: escrever uma história de fantasia genérica. A ideia já tomou forma, mesmo que não em seus mínimos detalhes, e penso que se eu formatar demais, vou me cansar. Então acho que meu próximo passo vai ser criar enquanto escrevo a história mesmo. Já surgiram até algumas ideias de cenas na minha cabeça.
Por exemplo… o Prólogo. Não vamos começar logo de cara com o goblin. Vou apresentar o mundo, o vilão e a profecia do ponto de vista de Nicolas Albigorn, acordando e contemplando a Grande Cidade de Bigorna, capital do seu império, uma vibe Nabucodonosor II. Vou tentar transmitir o orgulho que ele tem de ter construído tudo aquilo e seus sentimentos acerca dos rebeldes e das profecias. Só então eu iria para o capítulo 1 e veria como as coisas vão se construir para nosso protagonista.
Bom, acho que agora vou realmente escrever a história. Vou publicá-la provavelmente no Scriv, mas também vou enviar os capítulos aqui. Como é para ser uma história genérica, não vou me preocupar tanto com revisão e edição.
Acho que isso conta como uma alteração das regras iniciais. Então é o seguinte: vou criar uma thumbnail diferente e enviar os capítulos da história em dias diferentes da newsletter ordinária. Significa que haverão semanas em que vocês poderão receber a newsletter num dia, e o capítulo da história em outro.
O único problema é: caramba, isso significa que eu preciso pensar em um nome, né? Vocês sabem o que vai acontecer mais ou menos (só não tem tanta certeza ainda de como as coisas acontecerão). O que acham de me ajudar com o nome? É só responder esse email aqui com suas sugestões. O nome que eu mais gostar, será o nome da história.

Umas marinadas de frango. Eu comecei minha carreira como cozinheiro oficial do casal há 3 meses (quando viemos morar juntos na nossa própria casa e tal) e tem sido um desafio criar uma rotina alimentar ok para nós dois. Casal de autistas, cada um com sua seletividade alimentar, e ainda preciso lidar com a rotina de fazer almoço. E eu quero almoços gostosos, né? Se vou cozinhar, pelo menos tenho que comer coisas boas.
É bom ter proteína nas refeições (ainda mais porque começamos a fazer musculação na academia), mas aí vem a questão: eu não gosto de carne vermelha e Vanessa tá meio enjoada de ovos. Daí o jeito tem sido comprar frango, a gente compra uns 4Kg de peito de frango toda feira.

Corto o frango em cubinhos, coloco numa marinada, ponho tudo em saquinhos e aí no dia-a-dia é só descongelar e jogar na wok. Ficou muito prático e daí a parte da proteína tá resolvida.
Para tentar evitar o enjoo do frango, resolvi variar nos temperos. Por enquanto tentamos alguns e temos 2 campeões que foram aprovados para a lista recorrente de preparos:
Marinada de Shoyu e Mel → Aqui vai molho shoyu, sal, pimenta calabresa, um pouquinho de óleo de gergelim (só um fiozinho minúsculo porque o gosto pega forte), e mel. Fica meio agridoce e é muito gostoso (se você gosta de shoyu e esses temperos comuns naquela região do Japão e China e tal).
Marinada Alho e Ervas → Aqui vai um pouco de azeite de oliva, sal, pimenta do reino (que eu esqueci de colocar dessa vez), cebolinha picada, folhas e talinhos de manjericão picados, lâminas ou cubinhos de alho fresco, raspas de limão e suco de limão (só espremer o limão lá). Esse cítrico do limão dá um match muito bom com o manjericão.
Ainda tenho muito o que aprender sobre cozinha, tipo medir as proporções de temperos (que tem sido meu terror, daí todo dia eu fico TOMARA QUE ESTEJA GOSTOSO). Mas o que aprendi sobre peito de frango é: o tempero pega melhor se ficar marinando porque leva tempo para a carne absorver, mas a carne de frango tem uma absorção muito boa (por isso você NÃO LAVA CARNE DE FRANGO). Aí a gente se aproveita do processo de osmose e coloca o tempero num meio aquoso (por isso o azeite, molho shoyu, suco de limão), e daí o sal ajuda nesse processo também. Isso ajuda também a carne não ficar muito seca no preparo, porque peito de frango tem pouca gordura, daí tende a ficar seca demais — o que é ruim. Eu pelo menos não gosto muito de carne seca, a textura fica ruim.

Pizza de pão de alho. Putz, eu amo alho!
Mas de vez em quando ainda pedimos nossos lanches, tipo a pizza de pão de alho da Domino’s. Sério, foi uma ideia de gênio criar essa pizza, a gente só pede dela.
Oxygen not Included → A colônia Modesto tem atualizações muito importantes. Fizemos grandes obras, sendo a principal delas uma estação de tratamento de água. A parte mais desafiadora foi conseguir gás cloro para a sala de tratamento de água. Durante a expedição para bombear gás cloro, um dos duplicantes se esforçou demais e morreu sufocado. Foi assim que perdemos nosso primeiro cozinheiro, Abe.

Todos lembrarão das barras de rango frito que você grelhou, Abe. Outra pessoa vai assumir sua função, mas você nunca será substituído nos corações da Colônia Modesto
Apesar disso, conseguimos construir a estação. Também construímos um hospital e uma clínica de massagem para os duplicantes. Mas dessa vez o mais surpreendente nem foram as construções, mas sim o que achamos enquanto procurávamos por materiais.

Esse lugar estava enterrado bem perto de onde Abe morreu.
Vasculhando os armários e os computadores, encontramos algumas entradas interessantes.
Diário Pessoal: B835
Nível de Criptografia: Nenhum
Comecei hoje a trabalhar numa nova companhia chamada “Instalação Gravitas”! De início, estava nervose de não conseguir pegar o emprego porque acabei de me formar na faculdade, e eu estava muito muito agressive na entrevista de emprego. Mas le Diretore aparentemente gostou da minha tese sobre a regulação térmica fisiológica dos lagartos do ártico. Vou trabalhar com geneticistas brilhantes, organismos de bioengenharia construídos para viagens espaciais em ambientes de difícil acesso e sobrevivência! É a realização de um sonho. Vou começar a trabalhar em um lugar completamente novo onde ninguém me conhece.
Diário Pessoal: A046
Nível de Criptografia: Nenhum
Gravitas está crescendo muito rápido desde que lançamos nosso primeiro produto no mercado. Acabei de dar uma olhada nas nossas novas contratações — são praticamente uns bebês! Não era bem o que eu estava esperando, mas nunca tive a chance de ser mentore de alguém até então. Talvez seja divertido!
Daí achamos outras entradas, como um email corporativo (nível de criptografia 3) em que a administração orientava aos funcionários que não usassem a função CC (confira) para emails triviais. E também um outro email (não criptografado) de um tal Dr. Jones para um Senhor Kraus, com o título Leis da Termodinâmica, dizendo
Olá, Sr. Kraus
Mandando esse email depois da nossa conversinha de hoje mais cedo para compartilhar algo que você talvez queira ler — acho que vai ser super útil na sua pesquisa!
Primeira Lei
Energia não pode ser criado ou destruída, apenas transformada.
Segunda Lei
A entropia num sistema aberto que não está em equilíbrio tende a aumentar ao longo do tempo, se aproximando do valor máximo quando vai chegando ao equilíbrio.
Terceira Lei
A entropia em um sistema se aproxima de um mínimo constante à medida em que a temperatura se aproxima do zero absoluto.
Lei Zero
Se dois sistemas termodinâmicos estão em equilíbrio com um terceiro, eles estão em equilíbrio entre si.
Se isso for muito complicado para você, pode vir conversar comigo. Eu ficaria emocionado em responder suas perguntas.
Beijos
Dr. Jones
Departamento de Informação e Estatística
Não sei quem é Dr. Jones ou o Sr. Kraus, nem mesmo sei se as entradas de diário pessoal que encontramos pertencem à mesma pessoa ou a pessoas diferentes (acredito que a pessoas diferentes). Mas essa Instalação Gravitas… Parece que não somos os primeiros a chegar nesse lugar.
E não foi só aquilo que achamos. Também achamos isso.

Construtor de Biorobô: Meus duplicantes descobriram um laboratório cheio de maquinaria empoeirada. OS vestígios de experimentos de outra colônia, talvez? Não está claro se o aparato é para ser um experimento biológico ou macatrônica avançada… ou os dois.
Steve, nosso pesquisador sênior, resolveu dar uma olhada e restaurar a máquina. O que ele relatou foi o seguinte:
Conheça P. E. E. G. Y
Nosso trabalho de restauração está completo!
Uma pequena placa no tanque de montagem diz: “Pathogen-Fueled Extravehicular Geo-exploratory Guidebot (Y)”, algo como Robô-Guia (Y) de Geoexploração Extraveicular movido à Patógeno.
O tanque adjacente contêm um organismo mal-formado flutuando. Sua cor viva me lembra dos anfíbios venenosos que erradicamos das selvas do nosso planeta natal.
Uma transcrição impressa esfarrapada foi recuperada da bagunça:
[Registro começa]
… e aí a Cápsula de Impressão diz: toc toc, goo’s there? (uma trocadilho com “who’s there” usando “goo” que é gosma)
Ah. Eles nunca vão rir daquele fedorento.
E se-
(som de um ding)
Ei, ei, amiguinho fofinho! Olha quem está todo grandão. Está pronto para um passeio num robozão? Dr. Seyed Ali deve voltar a qualquer momento. Ele vai ficar tão feliz de ver você!
(som de um tapa molhado no vidro)
Ah, sim. Eu também estaria impaciente no seu lugar.
Quer saber? Por que não vou em frente e te coloco em sua nova casa? Já ajudei o doutor milhares de vezes a fazer isso.
“Veja uma vez, faça uma vez, ensina uma vez”, né?
[Fim do Registro]
Isso com certeza devia ser da tal Instalação Gravitas. Mesmo assim, não conseguimos fazer a Peggy funcionar. Ela pede uns itens bem estranhos: 300 Kg de aço (isso é ok, só não tenho) e esporos de zumbi (??????).
Enfim, por hoje é só tudo isso. Vou me despedir de vocês mostrando o Stinky madando a mess.

Nem sempre o Stinky, mas sempre o Stinky. Oh dó do Burt, aposto que ele não pediu por esse golden shower. Além disso, ISSO AÍ NÃO É XIXI NÃO, É UMA CACHOEIRA.
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