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Uma história de magia [versão excluída]
Agora uma visão de um texto que foi para a lixeira
Outro dia compartilhei um sneak peak do início de um experimento de escrita, hoje eu gostaria de mostrar o primeiro rascunho. Se você gostou da história de magia, veja como foi minha primeira tentativa agora.
O primeiro rascunho
Já era a terceira vez que Leonardo passava pela triagem para a enfermeira aferir sua pressão arterial. Era difícil para ele evitar a ansiedade enquanto aguardava pela entrevista final para a admissão na Academia Solstício de Ferro, onde eram formados os Magos da República.
— Tudo bem — a enfermeira, que era uma maga curandeira chamada Helena, disse entre algumas risadinas — Sua pressão ainda tá um pouco alta, mas dá pra passar. Sem histórico de hipertensão na família, com registros médicos muito bons, a administração vai entender que é só a ansiedade mesmo.
— Abençoado seja nosso sangue! — Leonardo suspirou aliviado — Eu usei todas as técnicas de relaxamento que conheço, juro pra você.
Helena riu enquanto assinava o atestado de saúde ocupacional de Leonardo, logo antes de lhe entregar os papéis.
— Agora é só entregar para a secretária da sala no final do corredor e aguardar seu nome ser chamado para a entrevista.
— Certo! — E relaxa — ela sorriu — você conseguiu passar pelas provas teóricas e práticas, foi a parte mais difícil. A entrevista dá pra tirar de letra.
Leonardo agradeceu e seguiu para a sala. Helena era simpática e teria conseguido tranquilizar qualquer outra pessoa. Mas para Leonardo, ela era parecida demais com Nyx. Sendo honesto, na verdade Helena não tinha nada a ver com Nyx. Helena ria fácil e distribuía sorrisos para todo mundo, enquanto Nyx mantinha a cara fechada quase o tempo todo. Helena tinha cabelos lisos, enquanto Nyx usava dreadlocks. Helena tinha uma pele mais bege, e a de Nyx era marrom. O único motivo para Leonardo se lembrar de Nyx é porque viu o braço de Helena coberto de tatuagens com simbologias do movimento metanóico, e se tinha alguém que era metanóica, esse alguém era Nyx.
Pensar em Nyx deixava Leonardo nervoso. Afinal, assim que ele estava chegando à reitoria para concluir os exames admissionais e a entrevista com o Conselho de Magos, ela estava saindo de lá, com suas roupas prestas, tatuagens, piercings, e o envelope dourado que todos os novos alunos da academia recebem quando são aprovados e matriculados.
Nyx cresceu em Drova, assim como Leonardo, e não foi uma surpresa para ele que ela tinha sido aprovada. Nyx sempre fora uma maga elemental excepcional. A questão era ele próprio. Leonardo não tinha 1% do controle de mana de Nyx e sabia disso. Mesmo assim, se tornar Mago da República era seu sonho há anos. Ele não suportaria a ideia de ver Nyx sendo aprovada e ele não. Com que cara ele voltaria para casa?
— Leonardo Victores de Drova — a secretária o chamou, depois de alguns minutos de espera.
E aquele seria o momento da verdade. De frente para o Conselho de Magos, Leonardo seria aceito e matriculado na Academia, ou seria reprovado.
Luminova era um país jovem que, no passado, era dividido em três reinos: Xalvar, Ythelia e Zorvath. Porém, há 400 anos os três foram invadidos e colonizados pelo Império Thalassar, que tinha vindo do outro lado do Oceano Titânico. A pior fase da colonização tinha sido, sem dúvidas, durante o governo do Imperador Lucian Magnus, com sua doutrina anti-magia. Campos de trabalho e extermínio foram construídos em todas as colônias para perseguir todos os magos. Aquelas terras já devastadas pela exploração colonial tinham se tornado, além de tudo, um abatedouro.
Nessa época surgiu a FULN, a Frente Unida de Libertação Nacional, que, após a Batalha de Karagrad — ocasião conhecida pela destruição do Campo de Karagrad, o maior campo de extermínio de Thalassar Magnusista — iniciou a Guerra Revolucionária Anticolonial que expulsou os colonizadores thalassa de lá. Mas após séculos de colonização, não era possível simplesmente voltar a época dos Três Reinos.
Assim, a FULN se converteu numa assembleia constituinte e fundou um novo país unindo os antigos xalvitas, ythelianos e zorvathanos com os magos thalassa que se juntaram na luta anticolonial. Este novo país é a República Socialista de Luminova.
Os primeiros anos da república não foram fáceis, mas além do exército revolucionário da antiga FULN, alguns magos se organizaram para aprimorar as defesas do país. Assim surgiram os Magos da República.
O bisavô de Leonardo, Charles Xalvita, tinha sido resgatado do Campo de Karagrad durante a Guerra Anticolonial e foi também um dos fundadores dos Magos da República. Leonardo cresceu ouvindo histórias de como ele, com sua magia de ilusão, fora a diferença entre vitória e morte em inúmeras batalhas de defesa nacional. Apesar disso, sua família não seguiu a carreira. Os avós de Leonardo trocaram a espada pela enxada, se tornando lavradores nas Unidades Agrícolas Populares. Sua mãe, por sua vez, optou por cursar medicina na Universidade Popular de Drova, onde conheceu seu pai, que na época ainda era um estudante de literatura. Todos tinham poderes mágicos incríveis, mas preferiam usá-los nos afazeres comuns da vida diária.
Leonardo queria mais. Queria viver como o bisavô. Queria proteger Luminova. Claro que ele poderia fazer isso a partir das Forças Armadas regulares: as bases militares estavam sempre aceitando novos recrutas, principalmente desde o início das tensões com Aurênia — país que não era assumidamente magnusista, mas que operava com a mesma ideologia colonialista. Mas a vida de soldado não era a que ele desejava. Ele queria figurar seu nome nos Magos da República. Era como se isso fosse fechar um ciclo, pensava.
Por isso, todos os dias usava seu tempo livre para treinar sua magia. Assim como o bisavô Charles, Leonardo era um Mago Ilusionista Ouviu histórias de que o avô era tão poderoso que suas ilusões deixavam de ser efeitos sensoriais e ganhavam materialidade. Durante a guerra, seu trunfo tinha sido criar um pequeno exército de clones de si próprio para enfrentar as forças thalassa. E era nisso que Leonardo se especializara: criar clones.
— Seu histórico escolar é impressionante e sua nota da prova teórica seria o suficiente para figurar entre os melhores alunos da Academia — disse a reitora Zenit Vanesses, ao final da entrevista — Suas habilidades de combate corpo-a-corpo são razoáveis, mas suas habilidades de magia estão muito aquém do que esperamos. Reconheço seus motivos para retomar os passos do seu bisavô, mas o senhor já considerou o alistamento na infantaria regular?
Leonardo já tinha ouvido aquela pergunta várias e várias vezes em seu tempo de escola e era um choque ouvi-la da própria reitora. Zenit Vanesses de Valarion era neta de Astrid do Cogumelo, uma poderosa maga de ilusão ytheliana que foi líder da FULN. Para se tornar reitora da Academia Solstício de Ferro, Leonardo imaginava que Zenit seria tão habilidosa quanto sua avó.
O Conselho de Magos todo observava Leonardo. Ele reconhecia todos os rostos ali das fotos nos jornais: no centro, estava a reitora Zenit e, ao redor dela, os coordenadores de cada tipo de magia: Maria, da Magia Espacial; Geraldo, da Magia de Cura; Isolda, da Magia Elemental; Renata, da Magia Artífice; e Vincet, da Magia de Ilusão. E todos eles queriam saber o porquê de ele querer ser um Mago da República.
— Os Magos da República não são apenas um apoio importante às forças de defesa de Luminova — ele começou — são também um símbolo antissegregacionista. A sombra da discriminação contra magos que alimentou a Thalassa Magnusista no passado ainda assola muitos países, e Luminova é um farol que extirpa essa sombra. Eu quero fazer parte deste farol, assim como meu bisavô o fez.
Isolda, a mulher de pele preta e cabelos lisos platinados, começou a bater palmas ao final da fala de Leonardo. Aquilo lhe arrancou um sorriso. Não tinha preparado o discurso para impressionar, aquilo era o que ele genuinamente sentia. Ele sempre soube que seu esforço e seus sentimentos reais seriam recompensados. Em poucos segundos, sairia dali com o broche dos cadetes dos Magos da República, ele sentia!
— Infelizmente, você terá de fazer parte deste farol como um cidadão comum — a reitora Zenit falou — Está dispensado, senhor Leonardo.
Leonardo estacou. Achava que estava indo bem até aquele ponto da entrevista, mas daí foi dispensado? Aquilo nem parecia real, deveria ser…
Se uma árvore cai isolada, longe de qualquer pessoa que possa ouvi-la, ela fará barulho ou não? Essa é a pergunta que move a Magia de Ilusão. Ser um ilusionista é, antes de tudo, manipular os sentidos. Então, para um mago ilusionista, não existe barulho se ninguém pode ouvir.
As ilusões não estão lá de verdade. Não há substância nos sons, texturas, cores, cheiros e gostos criados por magos ilusionistas. Tudo aquilo que é percebido é falsamente percebido. Magia de Ilusão é, antes de mais nada, pura enganação.
Por isso, os magos ilusionistas há séculos almejam serem capazes de executar o Mundo Onírico, uma magia que, até o presente momento, é apenas uma hipótese. Ao projetarem suas falsas sensações em uma pessoa enganando todos os seus sentidos, poderiam criar um mundo de ilusões indistinguível do mundo real.
A hipótese mais aceita sobre os Clones de Charles é que aquela magia, nunca mais reproduzida por outro mago ilusionista, é uma aproximação do Mundo Onírico. Os clones não eram reais, mas Charles fez com que seus inimigos pensassem que eram. Os golpes recebidos não eram reais, mas os inimigos sentiram a dor e reagiram. Tudo isso está de acordo com a Teoria das Ilusões Perceptivas, o modelo teórico mais aceito no estudo da Magia de Ilusão.
Leonardo rejeitava essa teoria, assim como Zenit. Primeiro porque nenhuma magia de ilusão básica é focada apenas em uma pessoa. Sejam ilusões visuais, sonoras ou táteis, todas as pessoas na área da magia são capazes de percebê-las. Criar ilusões individuais, como a magia Mensagem Telepática, exige muito treino.
Em segundo lugar, era inegável que a Teoria das Ilusões Perceptivas, embora seja a mais aceita e consolidada, é contraditória com os princípios materialistas que guiam o governo, as ciências e a economia luminoviana. Esta teoria segue uam filosofia idealista, baseada naquela ideia de que as coisas só existem na medida em que são percebidas — ideia surgida como tentativa de provar a existência de Halar, o deus único cultuado pelo antigo Império Thalassar e por todos os países da cultura setentrional. Segundo o que diziam, se existimos é porque Alguém com A maiúsculo, o Halar, estava observando ininterruptamente. Somos todos criação dele.
Para os materialistas, se uma árvore cai, faz barulho, não importa se existe alguém lá para ouvir ou não. A árvore e o barulho existem independentemente de ter alguém para percebê-los. Existe realidade para além da percepção humana, e isso não implica na hipótese de um ser superior que, convenientemente, só poderia ser aquele cultuado pelos colonizadores.
A Magia de Ilusão não poderia ser exceção. E Leonardo mostraria isso porque, afinal de contas…
Aquela dispensa era uma ilusão. Sendo reitora, Zenit deveria saber que não faria sentido avaliar Leonardo apenas com testes baseados na Teoria das Ilusões Perceptivas. Não importava a quantidade de poder mágico ou se o controle de mana de Leonardo era tão absurdo a ponto de direcionar os sentidos. Clones de Charles, a magia de seu bisavô, era seu objetivo e Leonardo tinha dado tudo de si para reproduzir aquela magia. Não estava nem perto de conseguir, mas também não tinha chegado ali sem resultado algum.
Por isso, fechou os olhos, respirou fundo e deixou a mana fluir pelo seu corpo. Em seguida, fez os gestos que vinha treinando há anos: movia as mãos como se estivesse em uma olaria moldando um jarro de argila. Abrindo os olhos, proferiu então as palavras:
— Clones de Charles.
Em seguida, do seu lado, surgiu seu clone.
Bem, pelo menos era de se inferir que aquela coisa estranha fosse o clone de Leonardo. Leonardo era um rapaz de tamanho médio, mas ainda considerado meio baixinho, na verdade. Tinha 1,68m de altura, o que era comum entre xalvitas, mas o fazia parecer um anão perto de um zorvathano. Ele estava um pouco gordinho, então tinha braços e pernas grossas. Seus cabelos cacheados estavam quase sempre arrumados com o auxílio de uma bandana para levantar o volume. Seus olhos eram castanhos e sua pele marrom escura, mas num tom vivo.
O “clone” de Leonardo até tinha seus traços, os cabelos cacheados e a bandana. Porém sua pele parecia a de uma pessoa albina que, ainda por cima, estava com icterícia. Os braços e pernas eram finas, mas faltava-lhe o braço direito. O ombro ainda parecia sólido, mas o resto ia ficando translúcido, então transparente, e então desaparecia, como se a magia estivesse incompleta. Os olhos eram amarelados, e a altura também estava errada: aquela coisa devia ter uns dez centímetros a mais que Leonardo. Podia até ser uma ilusão, mas não tinha nenhum uso prático. Zenit já vira crianças que fizeram melhor.
— Creio que o senhor não tenha entendido — a reitora consertou os óculos na cara e voltou a falar, com uma voz que soava cansada — O senhor foi dispensado, significa que foi reprovado no nosso processo seletivo. Isso não foi um convite para tentar refazer a prova prática de magia.
— E mesmo se fosse, essa demonstração tá um lixo — Vincet, que até então esteve calado assim como os outros cordenadores de magia, falou — O velho Charles Xalvita deve estar se revirando no túmulo com essa tentativa tosca de reproduzir sua magia.
Leonardo ignorou os comentários. Ele era um mago ilusionista, não deveria se deixar levar.
— A realidade existe para além das nossas percepções imediatas — Leonardo disse, citando o ensaio Zenit que constestava a Teoria das Ilusões Perceptivas — a Magia de Ilusão não é o que parece. Os melhores magos do passado eram capazes de ultrapassar os limites da aparência ao mesmo tempo em que não se prendiam ao que imaginavam ser a essência da magia, com isso, eram capazes de performá-la tal como ela é.
Os olhos azuis de Zenit, que até então estavam tranquilos com um aspecto quase entediado, agora faiscavam.
— Se acha que vai conseguir alguma coisa com essa bajulação barata, julgou errado. Para ser um Mago da República não basta simpatizar com a minha posição acadêmica. Luminova precisa de ações concretas.
E aquilo era o que Leonardo estava para mostrar. Sorrindo, fez o que não lhe foi permitido durante a prova prática. Com um comando, o clone imperfeito andou na direção da mesa do Conselho dos Magos. Assim como todas as ilusões visuais, ele atravessou a mesa. Mas o que surpreendeu a todos foi o que a ilusão fez com sua mão esquerda.
— Ele pegou minha caneta? — Isolda perguntou, espantada.
Para tentar garantir que aquilo na mão da coisa que agora se projetava da mesa não era outra ilusão, ela pegou a caneta de volta e passou testou em seu caderno de anotações. Funcionou. Aquela era sua caneta de verdade. Vendo isso, Leonardo dispersou a magia. A caneta continuou nas mãos de Isolda.
— O princípio da Magia de Ilusão não é tão diferente da Magia Elemental. Não se trata de enganar os sentidos, se trata de transformação de mana em matéria que possa ser percebida. Magia de Ilusão é, na verdade Magia de Criação… Ou Transformação, mas falei Criação porque é o nome que está no ensaio da senhora — Leonardo continuou falando — No momento em que a senhora considerou os resultados de um teste baseado em uma teoria que a senhora mesmo admite ser idealista, eu soube que o teste ainda não havia acabado. Uma nova geração de magos ilusionistas precisa estar disposta a superar os limites impostos pela tradição colonial que ainda resta em nossa sociedade. Por isso disseram que eu reprovei, não é? Para que eu tivesse a oportunidade de mostrar que não vou me acomodar com os limites atuais.
Zenit permaneceu boquiaberta, pasma com o que havia acabado de acontecer. Vincet, por outro lado, não demorou a reagir com uma sonora gargalhada.
— Leonardo, você é o garoto mais estúpido que eu já vi desde que comecei a trabalhar na Academia — ele continuou rindo até lacrimejar, o que deixou Leonardo confuso. O que estava acontecendo? — Não era nenhum teste extra para ver se a nova geração de magos vai superar limites. A gente tinha te dispensado de verdade.
— Mas ele demonstrou certa genialidade agora — Geraldo, o coordenador da Magia de Cura, respondeu, lançando um olhar ferino para Vincet — A ilusão dele ganhou materialidade na ponta dos dedos da mão. É o mais próximo que qualquer um de nós já viu da reprodução correta da magia Clones de Charles, além de ser a primeira evidência concreta para a hipótese da senhora reitora Zenit.
— Além do mais — Isolda falou, fascinada com a caneta em suas mãos que tinha sido tocada pela magia de Leonardo — o propósito dessa entrevista é nos dar a chance de ver algo que passou desapercebido nas demais etapas de seleção. Eu vi o suficiente para mudar meu voto. Por mim, ele está aprovado.
— Também o aprovo — Geraldo falou.
Em seguida os demais membros do conselho manifestaram suas decisões. Renata, da Magia Artífice, não o aprovava. Segundo ela, faria mais sentido que Leonardo se dedicasse a pesquisa acadêmica acerca de magia, não havia tanto espaço para tanta experimentação nos Magos da República. Maria, da Magia Espacial, concordava com Renata. Zenit abdicou do voto, dizendo que seu envolvimento pessoal com as capacidades que Leonardo acabara de demonstrar a impediam de tomar uma decisão clara. Com isso, a decisão final dependia do voto de Vincet.
— Rapaz — ele começou, ainda com um sorriso no rosto — Eu gostaria de te dizer que, pessoalmente, acredito nas mesmas coisas que você e a reitora. Mas falei sério quando disse que tínhamos realmente te dispensado, e acredito que Renata tenha um ponto. A pesquisa acadêmica é um apoio para a formação dos Magos da República, mas não nosso objetivo. Aqui estamos atuando na defesa da nação e isso é muito maior do que nossos anseios individuais. Você entende isso, não é?
Leonardo murchou. Tinha nutrido esperanças de que poderia entrar para a Academia Solstício de Ferro com aquela demonstração, mas agora Vincet havia lhe mostrado como fora inocente. As coisas nem sempre acontecem só porque se sonha com algo. A transformação da realidade em algo que se quer passa também pela aceitação daquilo que não se quer, mas que é real.
— Por isso você vai ter que ralar muito nas aulas — Vincet continuou falando — Pode gastar seu tempo livre desenvolvendo melhor suas ideias acerca dos Clones de Charles, mas ainda precisa dominar a Magia de Ilusão convencional para se formar como um Mago Ilusionista da República. Eu acredito na nova geração de magos, então vou me encarregar de treiná-lo. Voto que seja aceito.
— Muito obrigado pela chance! — Leonardo disse, se voltando para agradecer a cada membro do Conselho de Magos, mesmo as coordenadoras que votaram pela sua exclusão. Estava tão feliz que nem conseguia formular pensamentos acerca daquilo.
A expressão da reitora Zenit se suavizou no mesmo momento, olhando para Vincet como se ele fosse uma criança travessa. Então ela se virou para Leonardo, levantando uma mão para que ele fizesse silêncio para escutá-la:
— Mesmo com a decisão do conselho, não posso mudar suas notas. Isso significa que você será aprovado como o aluno de menor Coeficiente de Desempenho da Academia.
— Compreendo — Leonardo respondeu, ainda sorrindo e sem compreender de verdade.
— Trabalhamos com exames semestrais durante os quatro anos de curso — a reitora falou — Na sua posição, reprovar no primeiro exame significa desligamento do programa de formação. Caso isso aconteça, você será realocado para um curso de formação disponível na Universidade de Drova ou em um posto de trabalho de baixa qualificação da sua região natal, conforme a demanda regional e as suas preferências já registradas no Ministério de Trabalho. Entendido?
— Entendido.
— Agora está realmente dispensado, cadete. Sem mais surpresas para hoje, por favor.
Leonardo agradeceu mais uma vez e saiu da sala, pegando a documentação de matrícula com a secretária. Finalmente entraria para a Academia Solstício de Ferro e mal podia esperar para mostrar seu broche de cadete para Nyx.
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