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#6 — Estamos no fim do mundo, mas ainda tem jeito
Falo das Inteligências Artificiais para mostrar como o capitalismo está ameaçando a SUA sobrevivência, recomendo uma leitura guiada e dou atualizações da aventura dos Lâminas do Caos.


Na verdade, se entendemos o mundo como o Planeta Terra, ele ainda vai durar mais uns bilhões de anos. E se o entendemos como o universo, aí vai durar indefinidamente. O fim do mundo a que me refiro é o fim do mundo humano. Isso aí, a gente pode morrer sem deixar legado, sem deixar futuro.
Há um tempinho atrás assisti um vídeo no instagram do Átila Iamarino (biólogo, pesquisador, e que furou a bolha do Nerdologia na época da pandemia COVID-19 porque ele é especialista em virologia). De início, eu achei que seria um dos tropeços dos divulgadores científicos de internet: falar de algo sensacionalista pra puxar views, mas no final, acabar falando groselha. Era sobre estarmos, supostamente, vivendo um cenário apocalíptico em que uma Inteligência Artificial Geral estaria destruindo a humanidade para consumir recursos.
Se quiser dar uma pausa na newsletter e assistir ao vídeo, é legal. Mas se não quiser, o resumo: Inteligências Artificiais Gerais (tipo uma máquina conseguir pensar no nível de complexidade que nós pensamos) estão muito longe de existirem, mas os geradores de texto que chamamos de IAs (os LLM, Large Language Models) já consomem recursos pra caramba e estão arriscando nossa existência.
Também sou muito cético na hora de acreditar em coisas assim, então vou explicar melhor.
Um ChatGPT da vida faz o seguinte: ele acessa um grande banco de dados e gera um texto (agora também conseguem gerar imagens e sons, baseados no mesmo princípio). Para você achar a ferramenta “inteligente”, o que ela faz é ler o seu prompt, o comando que você digitou na interface, e fazer uma análise estatística de quais palavras são encadeadas em prompts parecidos. Se você diz “Oi”, a análise estatística pode indicar que a resposta mais desejada seja “Olá, tudo bem?”. E claro, com o machine learning esse sistema vai ficando mais preciso e mais complexo.
Mas esse banco de dados não está só numa flutuação mística imaterial. Ele precisa de máquinas físicas para funcionar, e estes seriam os data centers. Prédios com vários computadores ligados 24 horas por dia, 7 dias por semana, ininterruptamente. Caso os data centers caiam, não tem como nenhuma IA funcionar. Nosso problema começa aí: um data center exige muitos e muitos recursos.
Em primeiro lugar, vamos falar do gasto energético. Segundo o Olhar Digital, até 2026 nosso consumo global de energia elétrica pode dobrar por causa das IAs e das criptomoedas. Estima-se que o gasto de energia por hora em data centers vai se equiparar ao consumo inteiro de países como a Suécia. Imagina aí, um prédio gastando a mesma quantidade de energia elétrica que a Suécia inteira!
Pois é.
Para dar conta dessa demanda energética, países como os EUA estão apostando duro no aumento da geração de energia elétrica. Segundo uma matéria da CNN, o presidente Donald Trump está trabalhando para reverter regulamentações ambientais e aumentar a queima de carvão mineral, o que vai aumentar o nível de poluição da atmosfera, prejudicar a qualidade do nosso ar (condição necessária para nossa sobrevivência) e acelerar as mudanças climáticas.
Além disso, um data center também consome MUITA ÁGUA, porque é energia demais fluindo ali, vai aumentar a temperatura. Para que os componentes dos computadores não se estraguem pelas altas temperaturas, é preciso mantê-los refrigerados o tempo inteiro. E isso gasta água, e é água que não tem como ser reutilizada.
Se você, assim como eu, cresceu preocupado com o gasto doméstico de água… Enfim, mesmo se fôssemos extramemente gastadores não conseguíríamos chegar perto do consumo de água de um data center.
E, infelizmente, a demanda por recursos ainda não acabou por aí. Afinal, os computadores são construídos por componentes metálicos que exigem mineração em torno de todo o mundo. E como os países centrais (os ditos “desenvolvidos”) estão numa corrida tecnológica para o desenvolvimento das IAs, podemos prever a construção de mais e mais data centers, que gastarão mais e mais recursos minerais (que são finitos e não-renováveis), mais água e mais energia.
Sim, isso vai ter um impacto direto nos desastres ambientais que tem aumentado sua escala de destruição a cada ano. Não são fenômenos aleatórios da natureza, são consequências da ação humana mesmo.
E piora ainda mais: isso pode aumentar as guerras.
Vamos lá: vocês acham mesmo que os EUA tem, dentro do seu território, todos os recursos necessários para construir data centers? A resposta é um sonoro não. Como o Átila explicou em seu vídeo, para os EUA seguirem com seu plano de construir mais data centers e vencer a corrida das IAs contra a China (principalmente), é necessário que eles comprem os materiais de outros países… Mas claro que eles vão querer comprar aos preços mais baixos possíveis. Se possível só extrair sem pagar, melhor ainda. E eles não vão jogar limpo.
Vamos lembrar então de uma coisa. Em 2019 houve um golpe de Estado na Bolívia derrubando o agora ex-presidente Evo Morales, e esse golpe teve muito apoio dos EUA e principalmente da Tesla, empresa de carros elétricos pertencente a Elon Musk. O próprio Elon Musk admitiu a participação no golpe. Pra quê o Elon Musk fez isso? Não é por ser um filantropo interessado na política interna boliviana, mas porque a Bolívia detêm grandes reservatórios de lítio que o Elon Musk gostaria de explorar. Lítio é um metal essencial para a construção de baterias, necessárias para a construção dos carros elétricos vendidos pela Tesla.
Bom, agora Elon Musk faz parte do governo Trump nos EUA e ele tem uma empresa de IA, a xAI. Então podemos imaginar com certeza que movimentos dessa natureza podem acontecer outra vez com outros países (não que precisasse da presença do Elon Musk, os EUA atuam dessa maneira há séculos).
E existe também a questão do processamento desses metais em componentes para os computadores. A China se especializou nisso e, até pouco tempo atrás, os EUA compravam isso da própria China. Agora em guerra comercial, é óbvio que não vai funcionar mais. Donald Trump e Xi Jiping se digladiam com suas imposições de tarifas de importação e isso vai afetar o acesso aos recursos necessários. Bem… Essa parece ter sido a estratégia da China desde o começo. Nacionalizar toda a produção para fazer outras potências dependerem dela, e não o contrário.
Quanto aos EUA… Bem, nesse cenário é que surgiram as conversas sobre anexar o Canadá, a Groenlândia, sobre reclamar a América Latina como quintal deles, e sobre exigir que a Ucrânia demonstre gratidão pelo apoio de guerra.
Enfim, nossas vidas estão em risco, cada vez mais em risco, e o que recebemos em troca é uma tecnologia que gera textos. Não vou ser hipócrita de falar que IAs não são legais. Puxa, é muito legal mesmo. Mas elas não são tão necessárias assim. A inserção do Gemini no Google, da MetaAI no pacote WhatsApp, Instagram e Facebook, e o Grok no X não foram grandes revoluções tecnológicas. Se todas elas sumissem agora, faria pouca diferença. Ah, um recurso legalzinho sumiu.
O que estou querendo dizer é que o preço para conversar com versões aprimoradas do Robô Ed tá alto demais. Eu não gostaria de morrer por causa disso, nem que uma geração que venha depois de mim morra por isso.
Mas também estou querendo dizer algo a mais. Pensem aí: não é difícil ligar o ponto A no ponto B e perceber que não temos como manter essa tecnologia da maneira que ela está, com o custo que ela nos traz. Então nós, como humanidade, poderíamos dar um passo atrás e suspender essa onda de Inteligências Artificiais no lugar de construir mais data centers. Ninguém vai morrer de fome por isso (muito pelo contrário). Por que não fazemos isso então?
Falando em nome da maior parte da população mundial, eu diria que não fazemos isso porque não podemos. Mesmo falando tudo o que eu falei aqui, eu, Ícaro, não tenho poder nenhum para parar esse processo. Imagino que vocês também não (e, se eu estiver errado, pelo amor de Deus, PAREM). Então a pergunta certa é: por que as pessoas que podem parar esse processo não param?
Porque elas não querem. Elas não dão a mínima para a gente. Na verdade, eu tenho minhas dúvidas se esse pessoal se importa com as próprias vidas. Mas é o seguinte:
Nosso mundo, neste momento, se organiza da seguinte forma: em vez de todo mundo trabalhar para garantir suas necessidades, todo mundo vai trabalhar para garantir a existência de um mercado. Então assim, tudo o que nós precisarmos, nós vamos comprar. Dessa forma, tudo o que é produzido será vendido ou descartado — do tipo que vira lixo, não vai ser próprio para uso.
Para algo assim funcionar, é necessário que se divida as pessoas em dois grupos. De um lado, teremos os possuidores de meios de produção — meios de produção, por sua vez, é tudo aquilo que precisamos para produzir as coisas que a gente usa: terra, ferramentas, maquinário, e até mesmo técnicas de produção e layout de tecnologias específicas (daí existe a tal da propriedade intelectual e as patentes. Não é porque alguém inventou um modelo de celular na Alemanha que outro alguém pode, aqui no Brasil, reproduzir o mesmo modelo — mesmo que tenha acesso às matérias primas). De outro lado, teremos pessoas que não possuem nada, e como elas também não possuem os tais meios de produção, não existe a possibilidade de elas trabalharem por si mesmas a fim de conseguir as coisas que elas precisam.
Lembrete: você não pode refutar essa minha descrição falando da sua vizinha empreendedora que vende bolo-de-pote na praça, porque ela não detêm por si só os meios de produção do bolo-de-pote (a não ser que seja dona de uma fazenda produtora de todos os ingredientes básicos e de uma fábrica processadora destes ingredientes, aí nesse caso ela está do lado dos possuidores e provavelmente só vende bolo-de-pote na praça por hobby). E ela conseguir dinheiro sem ter um patrão não significa que ela trabalha por si mesma para saciar suas necessidades, porque ninguém necessita de dinheiro. A gente necessita das coisas que trocamos por dinheiro.
Por conta de suas raízes históricas, chamamos o grupo de possuidores de burgueses e o grupo de despossuídos de proletários (claro que nossa sociedade é mais complexa que isso, mas ainda existe essa contradição entre burgueses e proletários).
Certo, num mundo em que tudo é comprado com dinheiro, os burgueses aproveitam seu status de possuidores dos meios de produção para acumularem muito, muito dinheiro (expliquei o básico de como fazem isso numa newsletter passada). Daí eles vivem como reis. Mas óbvio que não são pessoas super unidas, na verdade estão competindo sempre para ver quem vai ganhar mais dinheiro — e da competição capitalista todo mundo já sabe. Na verdade, o sonho de um burguês é ser dono de monopólio. Eu sei, monopólios são ruins, todo mundo fala contra monopólios e oligopólios, mas os burgueses estão sempre tentando fazer isso porque… Aí eles conseguem ter tudo o que querem.
Óbvio que para manter isso funcionando dessa forma é necessário poder em termos de legislação, uso da violência e etc. E é por isso que a Idade Contemporânea começou com as Revoluções Burguesas, que foi o momento em que a classe burguesa tomou o poder de Estado em vários países (e isso foi se espalhando por outros países por causa de vários processos). Ah, e não foram revoluções pacíficas não, foi violento e tudo o mais. O ponto é que os burgueses venceram e constituíram os Estados do jeito deles. Pode ser uma Monarquia Constitucional como o caso da Inglaterra (pós revoluções Puritana e Gloriosa, que pra mim é um processo só que gosto de chamar de Revolução Inglesa), onde os burgueses mandam através do Parlamento, ou pode ser uma República Presidencialista como foi o caso dos Estados Unidos da América (com a Revolução Americana). O negócio é que se cria um aparato de Estado que podemos chamar hoje de Estado Burguês (ou se quiser escrachar melhor o que acontece, Ditadura do Burguesia).
Então quem vai mandar nas leis, nos exércitos, nas regulamentações de comércio e etc é justamente a burguesia. Os Estados Unidos de hoje são um exemplo muito explícito desse movimento, podemos ver um governo repleto de magnatas bilionários: o próprio Donald Trump e Elon Musk são, assim, bilionários muuuuuuito bem sucedidos mesmo (e não começaram do zero, tá?). Mas é assim na maioria esmagadora dos países. Em cada caso, a burguesia dá um jeito de interferir nas questões de Estado — Estado este que já é montado para facilitar a vida de um burguês.
Como Marx e Engels falaram em 1848 em seu Manifesto do Partido Comunista
O moderno poder de Estado é apenas uma comissão que administra os negócios comunitários de toda a classe burguesa.
Ok, a esse ponto você viu minha citação de Marx e Engels e pensou: “ah, esse papo não é verdade porque é ideológico”. Mas a verdade é que não estou falando de uma ideologia, estou falando de uma análise da realidade. Marx e Engels me convenceram por terem boas análises da realidade concreta. Em 1848 ainda, no mesmo livro, Manifesto do Partido Comunista, eles falam o seguinte:
As relações burguesas de produção e de intercâmbio, as relações de propriedade burguesas, a sociedade burguesa moderna que desencadeou meios tão poderosos de produção e de intercâmbio, assemelha-se ao feiticeiro que já não consegue dominar as forças subterrâneas que invocara. De há decénios para cá, a história da indústria e do comércio é apenas a história da revolta das modernas forças produtivas contra as modernas relações de produção, contra as relações de propriedade que são as condições de vida da burguesia e da sua dominação. Basta mencionar as crises comerciais que, na sua recorrência periódica, põem em questão, cada vez mais ameaçadoramente, a existência de toda a sociedade burguesa. Nas crises comerciais é regularmente aniquilada uma grande parte não só dos produtos fabricados como das forças produtivas já criadas. Nas crises irrompe uma epidemia social que teria parecido um contra-senso a todas as épocas anteriores — a epidemia da sobreprodução. A sociedade vê-se de repente retransportada a um estado de momentânea barbárie; parece-lhe que uma fome, uma guerra de aniquilação universal lhe cortaram todos os meios de subsistência; a indústria, o comércio, parecem aniquilados. E porquê? Porque ela possui demasiada civilização, demasiados meios de vida, demasiada indústria, demasiado comércio. As forças produtivas que estão à sua disposição já não servem para promoção das relações de propriedade burguesas; pelo contrário, tornaram-se demasiado poderosas para estas relações, e são por elas tolhidas; e logo que triunfam deste tolhimento lançam na desordem toda a sociedade burguesa, põem em perigo a existência da propriedade burguesa. As relações burguesas tornaram-se demasiado estreitas para conterem a riqueza por elas gerada. — E como triunfa a burguesia das crises? Por um lado, pela aniquilação forçada de uma massa de forças produtivas; por outro lado, pela conquista de novos mercados e pela exploração mais profunda de antigos mercados. De que modo, então? Preparando crises mais omnilaterais e mais poderosas, e diminuindo os meios de prevenir as crises.
Esse caráter autodestrutivo da manutenção da dominação burguesa neste modo de produção que chamamos de capitalismo já está sendo observado desde aquela época, no século XIX. Só que as crises mais poderosas não vão só aniquilar uma massa de forças produtivas, vai aniquilar nossa própria vida. Não dá para conquistar novos mercados, só explorar ainda mais os mercados já existentes — afinal, a Terra não é infinita. Mas esses mercados também veem seus limites.
Nos enfiaram goela abaixo as IAs, mesmo que ninguém precise de uma dessas no uso corriqueiro de redes sociais, e isso nos explora mais profundamente enquanto mercado. Mas o limite? Caramba, manter esse mercado aberto consome recursos vitais para nossa sobrevivência!
Estou dizendo que esse cenário não é novidade da tecnologia das IAs, é uma regra da vida capitalista desde que ele surgiu. Porém, quanto mais o tempo passa, pior a situação fica. Não são só nossos interesses enquanto classe social (porque APOSTO que você é tão proletário quanto eu) que estão em jogo, mas nossa própria vida, nossa própria sobrevivência, e a sobrevivência das futuras gerações.
Eu acho que os burgueses que estão no poder são muito burros. Mas não importa o que eu acho. O que importa é que eles estão no poder.
A notícia boa: eles não são maioria, então é possível se unir para parar isso. Vai exigir muito estudo, estratégia, organização e muita solidariedade, mas é possível. O Manifesto do Partido Comunista é uma dessas propostas para mudar os rumos da história, escrito há 200 anos. É a proposta que acabou me convencendo. Desenvolvimento tecnológico não parece ser o problema, a meu ver, e sim a falta de um planejamento racional do uso dessa tecnologia e na organização do trabalho. Se a gente não tá precisando de data centers e eles, inclusive, estão drenando recursos essenciais para nossa vida… Então danem-se os data centers, porra! Vamos olhar para nossas necessidades reais e buscar soluções mais inteligentes (e sim, o comunismo é muito sobre isso e você perceberia se lesse a proposta real).
Sei que existem outras propostas por aí e acredito que a gente deva debatê-las, porque após os debates críticos vamos conseguir selecionar qual é a nossa melhor opção real. Entretanto uma coisa é certa: não dá para continuar do jeito que estamos.
Dá tempo de adiar o fim do mundo. Seria um livro inteiro para orientar o que deveríamos fazer agora, concretamente, então vou soltando uma coisa aqui e outra ali (mas vocês podem pesquisar e ler mais por conta própria, assim como eu faço). Por hora meu conselho seria parar um pouco e refletir: qual é o seu lugar na história?
Pensem nisso antes de defender interesses de bilionários que não estão nem aí para vocês. Pensem nisso quando virem uma proposta governamental (não importando se o governo em vigor se declare de esquerda ou direita) que privilegia a produção de comida para exportar em vez de se preocupar com produzir comida para te alimentar de maneira completa e saudável. Já vai ser um começo.
Bônus: Estou digitando isso pelo computador e usando internet. Seria impossível realizar meu trabalho enquanto psicólogo sem essa tecnologia. PORÉM, tanto a internet quanto este computador são tecnologia estrangeira, de patentes estrangeiras, e enquanto eu uso eles, estou alimentando o capital estrangeiro. Por que continuo usando? Bom, eu não tenho escolha, já que meu país considera ok o modelo em que vamos vender soja bruta para comprar computadores. Mas vale a pena pensar: quantas toneladas de soja valem um computador no mercado mundial? E se temos recursos naturais para construir nossos próprios computadores, porque desmatamos florestas para plantar mais soja? Eu falei sobre IA, mas poderia ter falado do agronegócio também.

Manifesto do Partido Comunista. Um jeito fácil de você tentar tirar suas próprias conclusões sobre isso surgiu. Em seu canal, Bruno Reikdal fez uma playlist de leitura comentada deste livro panfletário do século XIX que continua muito atual. Você pode acessá-la por aqui.
Lâminas do Caos. E nós jogamos mais algumas sessões de TormentaRPG e demos continuidade a nossa aventura.
Para cumprir com seus objetivos como novo Presidente da Guilda dos Mineradores, Ezequias Heldret, apelidado carinhosamente de Rê (por Mérida), aceitou pagar 2.000 T$ por aventureiro para que os Lâminas do Caos explorarem uma antiga mina anã em busca de um dispositivo que permite a forja de aço-rubi, a liga metálica que permite a criação de armas efetivas contra os monstros da Tormenta.
Como os Lâminas do Caos são altruístas, eles relutantemente aceitaram a missão /ironia cômica. Logo ao saírem da loja Minérios Maravilhosos, encontraram com Lónien, uma jovem moça desesperada para encontrar seu irmão Jaren. Segundo ela, desde que fora expulso por Ezequias da Guilda dos Mineradores, Jaren ficara obcecado com a mina. Graças ao seu grande altruísmo /ironia, os Lâminas do Caos aceitaram ajudar Lónien já pensando num futuro em que ela abriria uma apotecária e daria descontos na compra de bálsamos restauradores, elixires de mana e poções de curar ferimentos.

Presidente Ezequias Heldret da Guilda dos Mineradores, descendente da família Heldret, dono da loja Minérios Maravilhosos, inventor, humano lefou interessado em pesquisar a Tormenta.
Já no caminho para as minas, enquanto passavam perto das Montanhas Uivantes, foram atacados por um grupo de anões liderados por uma anã chamada Stroka. No decorrer do combate, conseguiram derrotar a maioria dos anões, mas nem mesmo o poderoso Arkon Inferis estava conseguindo lidar com Stroka. A mulher tinha ataques muito, muito pesados, e suas defesas não eram nada ruins. O problema é que todos do grupo conseguiam fugir dela para se esquivar dos ataques, o que fez Stroka desistir e deixá-los fugir. “A Guilda não me paga bem o suficiente para encarar essa porcaria!”, ela disse, revelando que, tal qual Dilma Roussef quando foi presidenta do Brasil, Ezequias Heldret parecia estar levando um golpe de seus aliados ali, hein.
Chegaram à mina e exploraram o primeiro andar, que estava cheio de mercenários. Não demorou muito para encontrarem outra anã parecida com Stroka, dessa vez chamada Zhura, mantendo sete mineradores como reféns. O plano inicial era um ataque furtivo para surpreender Zhura e seus comparsas, mas Darius tropeçou no próprio pé e denunciou a posição deles.
Só restou uma coisa: resolver no gogó.
Eles mentiram para Zhura dizendo que Stroka tinha desistido de trabalhar para a Guilda dos Mineradores porque o salário não sofria mais reajustes, eles não cobriam plano dentário, e nem tinha auxílio morte-e-ferimentos de comparsas. Zhura ficou full pistola com as próprias condições de trabalho e resolveu que levaria todo o seu bando para fora da mina, indo se encontrar com Stroka nas Montanhas Uivantes, levando uma vida como mercenária freelancer outra vez. E os sete mineradores foram salvos pelos direitos trabalhistas negados a mercenárias!
Dentre os sete, havia um chamado Thrun que explicou que estavam ali a mando de Ezequias quando os mercenários atacaram. Os mineradores estavam muito intimidados, então os Lâminas do Caos concordaram em escoltá-los de volta a Yuvalin — mas não sem antes explorar todo o andar. Encontraram uma chave anã que serviria para ativar algum dispositivo antigo, documentos revelando pontos fracos dos trolls de rubi, e um mural na parede mostrando o processo de criação de um golem.
Fizeram a escola, se recuperaram de seus ferimentos, e no dia seguinte voltaram à mina para explorar o segundo andar. Ele estava repleto de explosivos e tinha mais mercenários, mas estes não pareciam trabalhar para a Guilda. Analisando uma lista de afazeres de um deles, descobriram que eram mercenários contratados por Jaren, o irmão de Lónien!
Jaren e Lónien eram de uma família rica longe dali, mas Jaren perdera uma fortuna num jogo de wyrt e fora deserdado. Sua meta era recuperar o dinheiro e voltar para sua família, por isso tentou o jeito mais fácil: ser político corrupto. Ele desviava recursos da Guilda dos Mineradores para seu próprio bolso. Ezequias descobriu e o expulsou, então Jaren queria vingança.
Infelizmente, os Lâminas do Caos acharam o cofre onde ele guardava suas economias: 11.000 T$. Como eles não tem apego a coisas materiais /ironia, embolsaram tudo antes de desmontar armadilhas de bombas e irem confrontar Jaren.
De início, tentaram resolver tudo no gogó, falando de Lónien e etc. Mas Jaren estava louco de vingança, armando tudo para explodir aquela mina e enterrar os sonhos de Ezequias forjar aço-rubi. Não tiveram escolha a não ser lutar.
Arkon precisou lutar em desvantagem, sendo flanqueado por Jaren e por outro humano mercenário que conseguia aproveitar brechas para atacá-lo. Porém, resolveu focar em Jaren: se arrancasse a cabeça da serpente, o resto do corpo não se mexeria. Mérida tentou dar apoio a Arkon, mas havia um mago mercenário que quase a matou com as temíveis setas infalíveis de Talude, uma magia muito popular criada pelo antigo reitor da Academia Arcana. Darius é quem deveria dar apoio a Arkon, mas achou que conseguiria fazer suas flechas atravessarem a armadura arcana do mago matador e desperdiçou muito tempo do grupo.
Os golpes pesados de Arkon é quem decidiram tudo: prestes a morrer, Jaren implorou por sua vida e prometeu voltar com eles, entregar todo o seu equipamento — inclusive sua espada longa de injeção alquímica de ácido — e mandar os mercenários desmontarem as bombas.
Com a luta acabada (e com Vanessa muito brava porque Mérida quase morreu depois de o mago rolar dois dados críticos seguidos contra ela), Darius encontrou umas tábuas em língua anã antiga. Mérida usou sua magia Compreender e conseguiu ler instruções detalhadas da forja com aço-rubi, escritas por uma tal de “Tallaka, inventora anã de Doherimm”. Resolveram levar isso com eles de volta a Yuvalin.
Chegando outra vez na cidade, entregaram Jaren a Lónien — que se ofereceu para se juntar aos Lâminas do Caos como curandeira (ainda é uma NPC, nenhum jogador a controla), eles pediram uma refeição e ganharam um banquete! — e foram até Ezequias relatar as atividades suspeitas da Guilda e entregar as tábuas de Tallaka. Ezequias não ficou muito feliz ao perceber que não podia confiar na guilda que ele próprio presidia, mas ficou exultante ao receber tábuas de uma inventora anã autêntica. Tão exultante que ofereceu melhorar as armas dos Lâminas do Caos de graça!
Isso não foi o suficiente para aplacar a raiva da Vanessa por ter recebido dois ataques críticos seguidos, mas pelo menos podemos ficar tranquilos sabendo que a história continuará nas próximas semanas (assim que Vanessa, Daniel e eu conseguirmos nos reunir para jogar novamente).
Retorno ao Goodreads. Aos pouquinhos resolvi voltar a usar o Goodreads pra comentar minhas leituras. Não vão ser resenhar completas como eu tentava fazer antes (porque preguiça), mas vou tentar deixar uma visão geral do que acho dos livros. Se quiserem, me sigam lá.

My rating: 5 of 5 stars
Mais uma de Brasil Cyberpunk (acho que vou até ter que escrever sobre o tema já que gostei de duas histórias nessa estética, né?). Dessa vez o ano é 2070 e estamos na cidade de São Paulo (SP). Todos os documentos das pessoas foram substituídos por um número digital chamado RUC (Registro Único do Cidadão) e daí todos os seus dados ficam armazenados no LUC (Login Único do Cidadão). Tem câmeras para todo o lado e você faz tudo por meio de um sistema quase infalível de reconhecimento facial, desde transações bancárias até transporte público e, claro, uma vigilância absoluta por parte do governo.
Falando no governo, como todo bom cyberpunk, é uma ditadura empresarial. O presidente é identificado pela protagonista Jéssika como Bozo Neto (que pesadelo! Ainda bem que o Jair Bolsonaro vai já ir se acostumando com a prisão). E a segregação das periferias foi para outro nível: conjuntos de prédios gigantescos ligados por arcos e geridos por empresas privadas, formando Estados paralelos: essas são as zonas-arco. As pessoas de lá moram e trabalham lá a troco de um salário de fome e não possuem direito de sair de suas zonas-arco.
A protagonista Jéssika saiu de sua zona-arco, a iFord (por ser controlada pela empresa iFord), através de esperteza, esforço e estudos e se tornou programadora das boas, sendo explorada lá na cidade mesmo. Para ela é tipo sair da pobreza e ir para a classe média, mas continua explorada trabalhando 16 horas por dia e não tendo vida. Até que ela fica obcecada por Lyna, uma youtuber do canal The Make Up Hacker que faz maquiagem para enganar o reconhecimento facial. Aí percebe que um monte de gente da vida dela — sua mãe e sua amiga da faculdade, Mary X — tão envolvidos com um grupo revolucionário: a Aliança Libertadora Nacional (sim, aquela mesma). Ela acaba se envolvendo com a ALN também e adivinha quem tá lá? A Lyna.
A noveleta é muito divertida, com um ritmo que deixa a gente preso para saber as próximas ações. Sendo narrado pela Jéssika, tem muita coisa que parece jargão de programadores, mas isso não é nenhuma barreira para quem não manja (eu). Só reforça a autenticidade da personagem. Gostei também de um monte de referências comunistas ali, como a ALN, citação da Angela Davis e o “sem perder a ternura” (título de um dos capítulos) do Che Guevara. Só acho que a limitação de palavras me roubou um monte de cenas que eu queria ler, tipo um desenvolvimento mais detalhado da relação entre Jéssika e Lyna e aquele final mostrado em cena, não sumarizado. Mesmo assim, eu me diverti horrores e a história alugou um triplex na minha cabeça.
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Se quiserem ler essa história também, ela é gratuita e você pode acessá-la aqui.
História de Fantasia Genérica. E o título escolhido foi, rufem os tambores, “A Lenda de Larzo”. É um título genérico que eu criei quando estava colocando a história no Scriv, mas nossa leitora e querida amiga Micarla gostou o suficiente para sugerir manter. Então que assim seja: um título genérico para uma história de fantasia genérica. O Prólogo + Capítulo 1 vão sair aqui na newsletter amanhã (com atualizações do making-off), mas você já pode ler lá no Scriv se preferir.
E ficamos por aqui. Até a próxima, pessoal!
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