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#2 — Saudades de ser um socialista de iPhone...
Reclamações sobre a necessidade de "virar influencer", mini-aulinha sobre capitalismo, anúncio de livro bom chegando e atualizações da colônia Agora Vai

Primeiramente, hoje é aniversário da minha irmã. Feliz aniversário, Iandra!
Agora vamos lá. Se na última newsletter eu estreei a seção Autismo, dessa vez eu vou estrear a seção…

Psicologia é uma ciência (muito problemática, em crise, mas shiu! é a minha ciência!) que pode ser aplicada em muitos campos profissionais. Sério, nós psicólogos podemos usar isso que estudamos pra uma caralhada de coisas. Mas no final, a profissão está montada para ser aplicada enquanto psicoterapia mesmo. Eu nunca quis ser psicoterapeuta, mas no final tive que ser… É o jeito.
Inclusive, está começando um movimento para transformar a psicoterapia uma atividade exclusiva de psicólogos e psiquiatras no Brasil. Se eu concordo? Super concordo! Na verdade, eu excluiria psiquiatras facilmente do rol e deixaria a psicoterapia como atividade exclusiva de psicólogos tal qual é a avaliação psicológica. Outros profissionais (principalmente os psiquiatras) burlariam e fariam do mesmo jeito? Com certeza, mas pelo menos seria ilegal e a gente apontaria o dedão na cara deles. Psicologia tem seus problemas, mas é o único curso que eu conheço que dá alguma base real para você ser psicoterapeuta. Uma dica: não façam terapia com quem não tem CRP ativo.
A história é a seguinte: Ícaro-shonen estava lá concluindo o ensino médio e sem nenhuma noção da realidade do mundo em que vivia. Como o pai dele é servidor público e o jovem Ícaro nunca passou fome mesmo tendo passado a vida toda apertado financeiramente, achou que não tinha muito a perder. Por isso ignorou completamente a consideração pelas dinâmicas de inserção econômica da sua realidade e pensou: caramba, agora que terminei a escola tá na hora da faculdade, né? O que eu gostaria de estudar e trabalhar?
A resposta foi simples. O jovem Ícaro gostaria de trabalhar com pesquisa para aumentar o conhecimento acumulado pela sociedade e ainda ser professor, porque ele gosta de falar das coisas que estuda. E ele gostaria de estudar algo que o ajudasse a compreender as pessoas, porque ele tinha certeza de que não compreendia muito bem elas — mesmo Ícaro sendo ele mesmo uma pessoa também, só que é fácil esquecer disso quando se é uma pessoa esquisita (aquele lance do autismo que falei na newsletter passada e tal).
Por isso, Ícaro escolheu fazer Medicina com especialização em Neurologia, porque com certeza as pessoas poderiam ser explicadas por seus neurotransmissores! Mas depois de umas semanas sem ter que pensar em escola e pesquisando como os cursos realmente funcionam, percebeu que na verdade a ciência que vai explicar o funcionamento das pessoas é a Psicologia. Por sorte, Ícaro nunca foi um proveiro excepcional e sua nota do enem não foi o suficiente para ser aceito num curso de medicina, daí ele pôde entrar no curso de psicologia sem levantar questionamentos por parte dos outros.
Bem, minha escolha decepcionou um monte de professores da escola que me consideravam um gênio que com certeza passaria em medicina. Mas eu me senti bem realizado com os estudos em psicologia desde o 1º período. Ao longo do curso percebi que fazer um mestrado e um doutorado poderiam ser grandes desafios, mas eu já me interessava muito pelo tema educação. Meu TCC foi uma revisão sistemática de literatura acerca do uso do modelo de equivalência de estímulos (dentro da teoria da análise do comportamento) para ensino-aprendizagem de leitura e escrita. Priorizei um projeto de extensão sobre orientação profissional também, trabalhei com três turmas de ensino médio. Aí achei que ia me formar e conseguir emprego como psicólogo escolar, dali pra frente seria mestrado, doutorado, concurso para professor universitário, pesquisa e trabalhos que melhorariam a educação no Brasil.
Realidade: eu me formei na pandemia e, mesmo com um professor me indicando para duas escolas particulares da cidade, ninguém estava contratando. Por ter me formado numa particular, não tive muitas oportunidades de encher meu currículo Lattes e eu estava geograficamente longe de todas as universidades com linhas e grupos de pesquisa que me interessam. O fato de eu não ter tido como prestar uma prova de proeficiência em língua estrangeira (mesmo meu inglês sendo quase fluente) colaborou. 2021 acabou e eu não estava trabalhando e nem entrando num mestrado.
Em 2021 na verdade eu tentei começar a dinâmica de atendimentos online, mas ninguém tinha disponibilidade. Eu estava oferecendo sessões em torno de 80 reais (algo que é MUITO BARATO, me deixa quase pagando para trabalhar), mas isso já era motivo para a maioria das pessoas não toparem iniciar o processo terapêutico. Daí comecei os concursos — algo que merece uma newsletter própria, porque tem sido uma saga mutcho loka — ferrei minha saúde, e não fui chamado para nenhum.
Em 2023 voltei a trabalhar com a dinâmica de atendimentos online, usando o computador do meu pai (que é muito bom), uma webcam bem ruinzinha e um headset que ele comprou pra mim. De início, fui com a lógica de “fazer alguma coisa com o que eu estou estudando” e me inscrevi numa plataforma de atendimentos online onde as pessoas pagariam 30 reais por sessão — um dinheiro que, sinceramente, só daria para pagar a anuidade do CRP se eu acumulasse um certo número de pacientes e atendesse por uns quatro meses. Só foi possível fazer isso porque meus pais estavam me sustentando ainda. Se eu quisesse independência financeira, pagar minhas próprias contas, ter minha própria casa, ter uma vida minimamente digna… Esse trabalho não serviria.
Algumas pessoas que comecei a atender nessa época já receberam alta e eu fiquei muito feliz por acompanhar a recuperação delas! Outras ainda estão comigo. Se você for uma dessas pessoas e estiver lendo, saiba que os meus problemas financeiros não são culpa sua. Psicoterapia online não é meu emprego dos sonhos, mas eu genuinamente amo poder usar o que estudo para te ajudar a melhorar sua qualidade de vida. É só que meu amor pelo trabalho e a relevância que ele tem na sua vida não contam na hora de pagar as contas.
A solução? Percebi que até conseguir ser chamado como servidor público num serviço que pague um salário minimamente digno para minha profissão, eu precisava chegar nas pessoas que podem pagar pelo meu trabalho.
O Conselho Federal de Psicologia possui uma tabela de referência de valores de honorários. O limite inferior para a sessão de psicoterapia individual é de R$213,93 . Eu sei que é fora da realidade da maioria dos brasileiros (daria uns 850 reais por mês gastos em psicoterapia) e, na verdade, tenho a opinião de que a psicoterapia individual não é o serviço mais eficiente que psicólogos podem prestar (a explicação detalhada desta opinião fica para outra newsletter). Entretanto é a única coisa que eu consigo oferecer como serviço atualmente e eu também preciso pagar minhas contas. E putz, quem me dera poder cobrar R$ 213,93 por sessão! Estou negociando em torno de R$ 130,00.
Eu sei do valor do meu trabalho: o quanto gastei na formação, o quanto gasto estudando ainda hoje, o tempo gasto nos atendimentos, estudando os atendimentos, saber que para alguns casos posso precisar pagar alguma supervisão de algum profissional mais especializado, etc. Eu sei que eu faço um bom trabalho. Mas eu preciso que as pessoas que precisam dele (e tenham dinheiro para pagar, já que o Estado não está querendo garantir serviços de saúde mental para quem não pode pagar) saibam disso também. E aí vem uma parte que odeio: MARKETING!
Em 2023 mesmo eu peguei o dinheiro que acumulei com outro trabalho (tava acompanhando os estudos de duas crianças que estudavam ainda no ensino fundamental, como se eu fosse um “tutor particular”) e fiz três coisas: (1) abri um instagram chamado icarodebrito.psi e comecei a gravar reels de psicologia, com a regra de postar 1 vídeo por dia, postar stories, caixinha de perguntas e etc, (2) assinei o curso do Luide “Formando Creators” para começar a estudar a lógica por trás da criação de conteúdo e (3) comprei um iPhone XS Pro Max seminovo.
Sobre criar conteúdo de psicologia para o instagram numa lógica que funcione: funciona mesmo, eu consegui um paciente que se enquadra no grupo de pessoas que podem pagar pelo meu serviço — inclusive ele está progredindo muito bem na terapia e é uma pessoa fenomenal e que valoriza de verdade meu trabalho, o que me deixa duplamente feliz. O problema é que eu odeio gravar reels e stories. Os stories eu até que consigo lidar um pouco melhor — mesmo ainda tendo dor de cabeça procurando a solução para o problema LEGENDAR STORIES (simplesmente não vou conseguir produzir stories na quantidade que a plataforma exige e ao mesmo tempo digitar no sticker de texto tudo o que estou falando, preciso de soluções práticas e parece que vai ser gravar stories em outro app — o que vai causar o problema de armazenamento do meu celular e etc).
ENFIM, com vários testes eu vi que esse negócio de ser influencer dá certo profissionalmente. Mas eu não gosto de criar conteúdo de vídeo — que é o que realmente tem dado certo. Tô escrevendo newsletter porque gosto, mas na real, isso aqui não tem muito potencial de alcançar pessoas e alavancar meu trabalho não. Vídeo curto é pior ainda! Quando eu vou explicar uma coisa, eu ligo o modo tagarela e simplesmente não consigo fazer um reels que preste. Cheguei bem cedo à conclusão de que preciso ir para o YouTube e alimentar o instagram com cortes, mas no meio do caminho havia um BURNOUT!
Continuei trabalhando desde 2023, mas meu instagram começou a pegar teia de aranha porque eu o abandonei completamente. De início foi para focar novamente em concursos públicos — deu certo parcialmente, já que eu sou o 6º colocado para trabalhar como psicólogo na Prefeitura de Uberaba nas cotas raciais. Tecnicamente fui aprovado, mas não dá para saber se serei chamado mesmo. Mas depois eu vi que o meu cansaço anormal era burnout mesmo e eu tive que reduzir minhas atividades ao máximo para não acabar hospitalizado. Só estou me recuperando agora, então voltei a mexer no instagram.
O plano é o mesmo: YouTube com cortes para instagram. Mas a situação mudou bastante. Não moro mais com meus pais, me mudei de estado e estou morando com minha esposa (no caso, tá dando para pagar as contas porque tenho uma quantidade razoável de pacientes ainda e não sou o único da casa a trabalhar… mas não estamos nadando em dinheiro também, então preciso aumentar meu fluxo de trabalho). Para gravar os vídeos para YouTube só preciso comprar um SSD para meu computador ter mais armazenamento (216 GB dá para nada) e colocar um papel de parede bonitinho na parede onde trabalho (a casa ainda precisa de uns reparos). Esse “só” preciso demanda dinheiro, então não tá rápido de resolver.
Aí decidi meter a cara no instagram mesmo para ter pelo menos um começo, né? Decidi desfazer do perfil icarodebrito.psi e aglutinar tudo no meu perfil antigo e pessoal que é o icarobpereira. Eu não deixo de ser uma pessoa só por ser psicólogo, e sou contra essa ideia de psicólogos zen super resolvidos da vida (mais assunto pra newsletter futura). Comecei a fazer a migração no dia 29 de Março, no dia 30 ainda gravei um monte de stories sobre autismo (ainda sem legenda, o que é uma dor de cabeça) e aí tive um baque: nossa, o iPhone facilitava tanto as coisas!
O que não contei: eu quis comprar iPhone porque minha irmã mais nova teve um iPhone que continuou funcionando bem num período de tempo em que eu troquei meus celulares Motorola umas três vezes. Aí achei que o preço incluía uma certa proteção contra a obsolescência programada. Só que é que nem diz o Choque de Cultura: “Achou errado, otário”. Esse meu iPhone XS Pro Max deu um problema na tela uma vez que me custou uns 500 reais para consertar, e pouco tempo depois ele teve uma queda ridiculamente insignificante que quebrou a tela a um nível que se tornava impossível a utilização do aparelho. Seria pelo menos uns 1000 reais para trocar as peças e dar a manutenção. Sério, tudo em iPhone é caro pra caramba! Como eu não tive dinheiro nem para isso e nem para comprar outro celular que presta, comprei um quebra-galho chamado Realme (custou uns 800 reais) e estou usando esse quebra-galho até hoje.
Nossa, é difícil viu. Até para divulgar o trabalho para ter dinheiro, a gente precisa de dinheiro. Seu pudesse só trabalhar para ganhar o dinheiro sem precisar trabalhar para poder trabalhar, ficaria feliz. Eu realmente odeio o capitalismo.
Não tem uma seção específica para isso e, sendo sincero, só tô continuando o papo de antes. Talvez você seja uma pessoa que esteja se perguntando: “o que o capitalismo tem a ver com isso, Ícaro? Você tem que agradecer ao capitalismo por poder trabalhar e ganhar dinheiro. Se odeia tanto o capitalismo, socializa tudo o que você tem e vai trabalhar de graça então”.
Caso você seja uma dessas pessoas, eu devo te informar que é bem possível que você não saiba o que é o capitalismo. Talvez você ache que qualquer relação de troca, mercado ou transação monetária seja o capitalismo, mas não é (e eu nem tenho o ônus da prova nesse caso, porque nem sequer existe consenso para a ideia de capitalismo se resumir a isso!).
Então separei essa seção para te explicar, em linhas gerais, o que é capitalismo e assim você entender do que eu estou falando — por causa disso eu pensei seriamente em chamar esta newsletter de “Mestres do Capitalismo” pra zoar o Nando Moura, mas resolvi pegar minha saudade de ter um iPhone para o título. E o pior é que justamente pelas minhas condições financeira eu provavelmente não vou comprar outro iPhone, acho que nem tá compensando tanto. Qualquer coisa que quebra vai custar meu rim!
Antes de mais nada, recomendo este vídeo da Sabrina Fernandes chamado “Socialista de iPhone?” e também uma errata que ela postou depois sobre alguns errinhos do vídeo.
Agora sim: o que é capitalismo? Roda a vinheta do Brasil Ícaro Escola!
Uma das definições que já ouvi é: capitalismo é um sistema socioeconômico baseado no lucro, na propriedade privada e no trabalho assalariado. Eu gosto mais da definição de que o capitalismo é um modo de produção baseado na acumulação infinita de capital.
Modo de produção: é porque nós, seres humanos, precisamos garantir nossas necessidades e fazemos isso através do trabalho. Daí nos organizamos em sociedade, dividimos o trabalho, e produzimos as coisas que precisamos. Como nós nos organizamos para produzir é um modo de produção. É, inclusive, matéria do Enem e de vestibulares, recomendo dar uma olhada se você não conhece o termo.
Para evitar confusões comuns, é importante saber que riqueza não é necessariamente dinheiro. Você não precisa de dinheiro, mas precisa das coisas que são trocadas pelo dinheiro. (É importante salientar que o dinheiro adquiriu outras funções além de mediador de trocas. Ele também é meio de entesouramento, crédito, e… Assunto mais avançado que vai ficar para outro dia). Se tivesse algum jeito de você ter acesso às coisas sem precisar do dinheiro, você não se importaria com ele.
É importante ressaltar também que dinheiro e mercado não são exclusivos do capitalismo, senão você vai cair naquela lorota de que existia capitalismo na Roma Antiga. O x da questão do dinheiro e mercado no capitalismo é a função que eles ocupam nesse modo de produção.
Mais uma coisa: primeiro vem a realidade e depois a teorização acerca da realidade. É ingênuo pensar que a realidade vá se adequar num sistema criado de forma completamente abstrata. A abstração serve para nos ajudar a compreender o que existe concretamente. Significa que julgar a existência ou não do capitalismo sob critérios baseados numa categoria subjetiva como “liberdade econômica” é inútil. Você vai acabar chegando à brilhante conclusão (/ironia) de que não existe capitalismo atualmente e vai ficar sem definição do que está acontecendo aqui e agora. Isso do aqui e agora a gente chama de capitalismo, então vamos falar dele.
Primeiramente, houve um processo histórico para criar uma grande quantidade de pessoas sem acesso a terra e a qualquer meio de produção viável para as necessidades concretas de seu tempo e lugar. Eu sou uma dessas pessoas (e provavelmente você também é). A gente não conseguiria viver de agricultura de subsistência nem se quisesse isso, não é? Então, teve um processo histórico para acontecer exatamente isso.
Se você não pode trabalhar para suprir suas próprias necessidades, o que resta? Torcer para quem tenha alguma coisa dividir com você. Por isso esse mesmo processo histórico também criou uma certa quantidade de pessoas (bem menor) que possuía a terra e os meios de produção, tudo o que aquela outra galera precisava. Daí vieram com o papo:
“Enton, se vocês trabalharem para mim, pago x dinheiro”.
As escolhas do resto eram aceitar — mesmo que as condições sejam uma merda, porque, né? Eles não tem nada para negociar e vão ter de aceitar de qualquer jeito; negar e morrer de fome ou doença; negar e arriscar o crime, que no final vai provavelmente acabar em morte também. E assim surgiu o trabalho assalariado.
Mas por que tanto esforço para criar donos de meios de produção e pobres despossuídos de tudo para criar trabalho assalariado? Porque é o jeito para esses donos de meios de produção conseguirem acumular mais e mais capital. O trabalho assalariado é onde eles conseguem roubar (essa palavra mesmo) para acumular mais, mais e mais.
Seria muito complicado explicar todo o ciclo de produção, troca, valorização de mercadorias e etc aqui na newsletter(isso mesmo, vai ficar para uma próxima), então vou supersimplificar como os donos dos meios de produção fazem isso:
Forma número 1: se você trabalha 8h, eles te pagam o equivalente a 4h do seu trabalho. E não estou falando de uma compensação pelo valor dos meios de produção (que vai incluir, por exemplo, manutenção de maquinário). Considerando só o que objetivamente vale o seu tempo trabalhado, deixando de fora todos os outros custos de produção, vão te pagar só 4h. Mas na hora de repassar para o preço da mercadoria, vão repassar como se tivessem investido as 8h de verdade. Ou seja, metade do valor que seria devido a você foi embolsado para poder se acumular em vez de se renovar em um outro ciclo de investimentos na produção.
Forma número 2: considerando a existência da forma número 1, surge uma melhoria na tecnologia ou na técnica de produção que aumenta a quantidade de valor produzido em x tempo. Significa que todo mundo vai ganhar mais dinheiro fazendo praticamente a mesma coisa. Então, para te compensar, você recebe um aumento. Se antes você recebia R$2.000,00 por mês, agora vai receber R$ 6.000,00 por mês. Porém, colocando o que aumentou no valor da operação toda, percebemos que antes, recebendo R$2.000,00, você produzia individualmente R$ 4.000,00. Então estava ganhando só 50% do que te era devido. Agora, recebendo R$ 6.000,00, você está produzindo individualmente R$ 18.000,00. Se antes você recebia 50% do que te era devido, depois do seu “aumento” você passou a receber só 25%.
O outro detalhe importante sobre o capitalismo para além dessa exploração do trabalho assalariado (e a garantia de que ela seja a única opção viável para essa grande galera que é chamada de classe trabalhadora), é que para isso aí funcionar precisa que toda a produção seja voltada para a troca. Eu disse lá atrás que existia dinheiro e mercado muito antes do capitalismo, mas antes não tinha uma exclusividade de produção para o mercado.
Por exemplo: no sistema feudal (que em muitas coisas é pior que o capitalismo sim, não tô sendo saudosista reacionário) tudo o que era produzido era com a intenção primária de suprir as necessidades das pessoas. Tinha a exploração do trabalho através da propriedade privada de terra e etc? Sim, tinha, mas era só para garantir que o servo trabalhasse para garantir as próprias necessidades + as necessidades da nobreza e clero, que não iam trabalhar para isso. O mercado era para aquilo que, por acaso, sobrasse da produção. Se tivessem uma colheita absurdamente boa de cebolas, em que todo mundo (incluindo os servos camponeses) pudessem comer cebola à vontade e ainda sobrar, aí eles iam trocar cebolas por outra coisa que não tinham.
Agora, no capitalismo, a troca é primária e a saciação de necessidades é secundária. Temos tecnologia para ter colheitas absurdamente boas com muita regularidade. Se a ideia fosse acabar com a fome no mundo, já temos como fazer isso. Só que se ficarem sobrando cebolas no mercado, o preço delas vai cair. Se o preço delas cair, a empresa produtora vai ter uma queda do seu lucro. Então dão um jeito de jogar cebolas fora ou algum outro tipo de intervenção econômica para não quebrar o sistema. É melhor pessoas passarem fome do que afetar o lucro das empresas.
Para algo tão irracional e inefetivo funcionar — porque, veja bem, essa produção exagerada e desperdício mais exagerado ainda tem como resultado a própria destruição da biosfera terrestre! — precisaram garantir que toda a produção fosse voltada para o mercado mesmo!
Olhe ao redor na sua casa e tente procurar algo que não seja mercadoria ou não seja produzido a partir de mercadorias. Mercadorias, neste caso, são coisas fabricadas com o intuito primário de compra e venda. Fazendo esse exercício aqui, consigo achar no máximo a cebolinha que a avó da minha esposa plantou e deu pra gente. Mesmo assim, ela precisou comprar o terreno onde planta sua horta. Até mesmo o lugar onde mora é uma mercadoria.
Então, muito resumidamente, ISSO é o capitalismo. Ele acaba moldando nossa dinâmica de vida todinha. Odeio essa merda.

BREAKING NEWS: Sexta feira (dia 11, dia 11, dia 11) é o lançamento de “Juramento de Sangue”, a continuação da duologia “Aliança de Sangue e Honra” da Gabi R. M. Moura. Como eu falei numa resenha para a VAL, “Aliança de Sangue e Honra” foi simplesmente a minha melhor leitura de 2023. É uma história de romance num cenário de fantasia em que algumas pessoas possuem poderes sobrenaturais e — me contendo para não infodumpar naquele worldbuilding — a maioria dessas pessoas com poderes se organizaram em clãs mafiosos. Cecília Haydan, que é herdeira de um clã em decadência e possui uma doença que é tipo um câncer mágico (e no meu headcanon, ela é autista, tem uma hipersensibilidade tátil muito familiar para mim) acaba tendo que se casar com Calisto Jartal (que possui uma deficiência na percepção mágica e dá para fazer o headcanon de que ele também é autista), o chefão de um clã forte. O casamento é porque uma fusão com a Jartal numa aliança de sangue e honra (nome do livro haha), a única esperança da Haydan permanecer viva. O problema é que Calisto e Cecília se odeiam. E o drama é maior ainda quando você percebe que eles eram melhores amigos de infância! Sério, o livro é muito bom e vocês vão querer ler o segundo depois de ler o primeiro. Aproveita a última semana de preço promocional da pré-venda e compra aqui.
Guerra Artoniana. Montei uma mesa online de Tormenta20 RPG envolvendo minha esposa Vanessa (que mora aqui comigo, amém), meu irmão mais novo Ítalo (que mora lá em Teófilo Otoni — MG com meus pais), meu primo João Victor (que mora em Colatina — ES), e o Daniel, um amigo nosso que mora aqui em Parauapebas — PA mesmo. Vamos jogar a Jornada Épica Guerra Artoniana, que foi jogada pela Guilda do Macaco . Daniel e João Victor são extremamente novatos em RPG, mas Vanessa e Ítalo já jogaram Dungeons and Dragons 5e por uns 6 meses antes.
Vanessa criou uma personagem muito interessante para essa mesa. É uma minotaura transexual. Acontece que não nascem minotauros fêmeas em Arton, daí se algum minotauro vai se identificar como mulher, tem que ser trans. O plot da personagem é o seguinte: ela era Arggath, o Guerreiro Selvagem, um gladiador que ganhava fama nas arenas de Valkaria. Até porque seu pai era Magnus Ferox, o Colosso, e sua mãe (humana) era Aiko Ferox, a Dançarina das Arenas. Mas esse mundo a colocava numa caixinha masculinista demais, então ela fugiu de lá para poder viver como Ágatha, uma aventureira. Foi assim que recebeu o pedido da Lady Ayleth de Karst no Reino de Yudennach para procurar seu pai, o Barão Abelard, que havia desaparecido. E lá ela encontrou os outros personagens.
No caso eles são Obsidian, o golem cavaleiro do João Victor (ainda sem história definida); Lânio, o Ronronador Raivoso, um moreau gato bárbaro que criamos para o Daniel (ele quer ficar forte para enfrentar as ruínas perigosas do Reino das Torres em Moreânia, onde sua melhor amiga acabou morrendo); Serafina Eleanara, a aggelus clériga de Lena curandeira (criei literalmente pro grupo ter um suporte enquanto são novatinhos); e Libur, o lefou caçador do meu irmão. E é sobre ele que eu quero comentar hoje.
Acreditam que o Ítalo resolveu fazer o personagem mudo só para evitar o role-play? Tá bom que meu irmão é um homem de poucas palavras, mas isso complicou demais a jogatina. Eu perguntava “o que vocês fazem?”, daí Vanessa na voz da Ágatha propunha alguma coisa, e o resto não fazia NADA. Se pressionássemos demais o Ítalo, ele falava: “Libur fez um joinha”. Agora vou ter que ver como lidar com essa mesa pra ser divertida para todo mundo.
Oxygen not Included. A atualização mais importante da colônia Agora Vai no momento é, infelizmente, triste. Tivemos a primeira morte da colônia. Enquanto trabalhava na expansão do reservatório de água, o duplicante Otto acabou falecendo por falta de oxigênio. Ele se arriscou demais para garantir mais água para a colônia e acabou nunca vendo a fazenda com a qual sonhava em trabalhar.

RIP Otto. Assim que der vamos fazer um túmulo apropriado para preservar sua memória.
No mais, ampliamos a colônia. Como sugeri antes ao citar a morte de Otto, ampliamos o reservatório de água e conseguimos água encanada na colônia — o que permitiu a instalação de sanitários e pias. Daí tive que criar uma estação provisória de tratamento de água para não acumular água poluída também.
Isso possibilitou a criação de uma estufa melhor para as plantações e atualmente meus dois maiores problemas tem a ver com geração de energia elétrica e manutenção do suprimento de oxigênio para todas as salas. Acho que vou precisar ir para o youtube ver mais vídeos do Peteresnan antes de continuar.
Por hora fiquem com a lista atualizada de membros da família Agora Vai:

O Turner fica no lugar do Otto como nosso fazendeiro, por enquanto.
Certo, falei um monte hoje, então vou ficando por aqui. Até mais e cuidado para não se sufocarem ao ampliar os suprimentos de água. A preservação da sua própria vida é de grande valor para sua comunidade.
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