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#8 — Minha História Musical, Parte II: Ainda um Prelúdio
Como eu não comecei a aprender música, meus dilemas com "músicas do mundo", culpa por ser rockeiro, e o momento em que eu FINALMENTE comecei a aprender música. Além disso, dou atualizações minhas na VAL.

Nessa newsletter eu também citei várias músicas, então fiz outra playlist para facilitar: https://open.spotify.com/playlist/5udtLCXXaoNdCekg0AOWm1?si=63398d9998a74085
Anteriormente eu contei sobre como minha relação com a música foi mediada pela igreja adventista e como outras influências foram se acumulando para eu gostar de músicas melancólicas. Parei na parte onde me mudei para Teófilo Otoni (tinha 9 para 10 anos de idade) e comecei a conviver com Hugo, um amigo que fazia aula de piano.

O choque maior não foi nem Hugo fazer aula de piano, mas ter mais gente na igreja que também fazia aula de música na mesma escola. Só do grupinho de amigos a que fui apresentado, tinha Pow (Paulo Henrique, mas todo mundo só chama ele de Pow e ele escreve com essa grafia, não é Paul) e Laís. Mas aí dentre outros adolescentes mais velhos tínhamos também Thamires que tocava umas flautas doce muito doidonas — eram flautas tenores e contralto, mas eu não sabia na época ainda; e Sillas, que tocava violino.
Hoje em dia nem todo mundo deles seguiu carreira musical, mas o negócio tinha rendido muito. Hugo hoje é formado em Licenciatura em Música pelo UNASP, tem pós-graduação em Regência pela mesma instituição e trabalha como ministro de música numa igreja adventista do interior de São Paulo e como professor de música numa escola adventista na mesma cidade (qual cidade? Nem lembro). Laís, por sua vez, se formou com Bacharelado em Piano pela UFMG e dá aula particular pra um pessoal super-rico em Belo Horizonte (MG). E não é porque ela foi uma das melhores amigas que tive durante a infância/adolescência e eu tenho uma grande consideração por ela, mas Laís é realmente uma professora muito boa!
Sillas hoje é advogado, mas ele foi meu primeiro professor de violino. Então vamos chegar lá em algum momento.
Voltando então para os meus 10 anos de idade na igreja em Teófilo Otoni. Uma grande diferença que eu notei é que, ao contrário da igreja que eu frequentava em Belo Horizonte, essa aqui era muito musicalizada. Primeiramente, tinha um piano. Não era um teclado, era um piano mesmo. Então todos os louvores congregacionais eram acompanhados pelo piano ao vivo, e não soltados do playback como eu era acostumado. Aquilo pra mim foi muito UAU. Segundamente, a igreja tinha um Coral Jovem — meus pais ensaiavam nesse coral toda sexta-feira a noite, inclusive. Ok, hoje eu sei que se tratava de um coral amador, mas eu também não estava acostumado com a ideia de ter um coral na igreja. E assim, ele teve seus altos e baixos, mas eu me lembro de períodos que era um coral muito bom (considerando que se tratava de um coral amador e as pessoas não tinham tanto conhecimento técnico sobre música).
Com o tempo, fui percebendo que o cenário musical da igreja adventista em Teófilo Otoni era mais complexo. Não sei dar todos os detalhes históricos e etc, mas vou compartilhar o que observei.
Teófilo Otoni, Minas Gerais, foi uma das primeiras cidades do Brasil a ter uma Igreja Adventista do Sétimo Dia. Acho que lá tem a igreja adventista mais antiga de Minas Gerais, inclusive (a igreja do São Jacinto Rural, já fui lá várias vezes… pessoal da roça faz umas comidas muito gostosas). E floresceu bastante a tradição musical adventista ali — mesmo que eu diria que o polo seria São Paulo, com o curso de música do UNASP e com a Gravadora Novo Tempo.
A igreja do bairro São Jacinto (não-rural), que eu frequentava, surgiu do desmembramento da igreja do bairro Grão-Pará, a igreja mais próxima do centro da cidade. E, pelo o que eu sei, desde sempre as duas desenvolveram ali seus grupos musicais durante sua história e, entre as pessoas mais antigas (que devem ter vivido lá os anos 80 e todos esses grupos musicais e tal), tinha uma certa “rivalidade” entre as congregações dos dois bairros.
No São Jacinto, existiu um conjunto musical chamado Inspiração e que parece ter sido realmente muito bom. Não é coisa de CD gravado e etc, a galera de lá não é rica, tô falando mais da qualidade. Além disso, tem o grupo Maranata que é mais tradicional, músicas cantadas acapella e com uma tessitura homofônica (acho que é esse o nome): basicamente tem uma linha melódica principal e as outras vozes só compõem as notas dos acordes, ainda acompanhando essa melodia principal. Não é tão complexa quanto a polifonia (o que estamos mais acostumados, com várias melodias se complementando numa única música), mas não é tão uníssona quanto a monofonia (todo mundo faz a mesma melodia).
Para servir de exemplo dessa homofonia a que me refiro, vou deixar esse vídeo do Arautos do Rei cantando um combo de músicas antigas: Música Celeste + Manhã Radiosa (nossa, minha avó materna AMAVA essa última, impossível não me lembrar dela).
O Maranata ainda está ativo e eu vi várias apresentações deles, mas o Inspiração ficou no século XX mesmo. Pelo o que entendi, o Coral Jovem que eu conheci era o filho espiritual do grupo Inspiração. MAS ENFIM. O interessante é que ambos os grupos eram dirigidos por dois irmãos, Josafá e Clemente Borges. Josafá cuidava do grupo Inspiração e meu pai conta que, na época, você tinha que fazer testes para poder cantar com eles. Tinham muito rigor técnico e tal. Clemente, chamado por todos lá de tio Kelé (ele trabalhou muito tempo como motorista de van escolar, até eu já fui da van do Tio Kelé), ainda cuida do Maranata e é uma biblioteca humana de músicas antigas. Sério, ele sabe de cabeça todas as vozes de todas as músicas que o Maranata canta. Mesmo a tessitura homofônica sendo relativamente simples, eu ainda acho isso um feito e tanto.
A pianista da igreja era Andressa, filha do Josafá, e era ela quem ensaiava o Coral Jovem na época que eu conheci. Então ali tinha uma tradição musical bem consolidada.
Não sei dizer tanto sobre a igreja do Grão-Pará, mas dentre os membros que me lembro naquela época tinha o Têmis Handeri (cantor e produtor musical gospel, então sim, aqui temos CD gravado e essas coisas) e uma pianista e professora de música chamada Line Novaes que tinha montado uma banda instrumental para aquela igreja (ela vai aparecer mais na história). Além disso, membras daquela igreja foram as que fundaram a Escola de Música Arte Som, onde Hugo, Pow e Laís faziam aulas de piano.
Enfim, de lá pra cá tivemos mais grupos, mais bandas instrumentais, mais cantores. Um comentário que posso fazer sobre a tradição musical adventista em Teófilo Otoni (e talvez no meio evangélico como um todo) é que música chama muita atenção mesmo. Então nas igrejas é comum a criação de uma “elite musical”, pessoas que se tornam mais especiais, quase celebridades locais, só porque são ótimas musicistas e isso tende a ser muito problemático. Tem vários motivos pra isso, mas é algo que a gente acaba vivenciando muito quando tem um ambiente igrejeiro com uma tradição musical própria.
Certo, voltando à minha história, bem quando eu tinha lá os meus 10 anos de idade surgiu a iniciativa de ter uma banda instrumental mais completa na nossa igreja também. Inicialmente eu lembro de ver Andressa no piano, Avedir (pai do Hugo) no saxofone e Sillas no violino. Mas depois Sillas foi para a congregação no Grão-Pará e tiveram uma ideia bem legal para o São Jacinto, começar pela base: então Hugo, Pow, Laís e Thamires começaram a tocar flauta doce nos cultos. Eles já eram musicalizados e flauta doce soprano é um instrumento cuja execução básica é muito simples (mas não subestimem a flauta doce porque existe uma tradição musical fortíssima pra ela, como esse concerto de Bach para flauta doce).
E foi nesse contexto que, pela segunda vez em minha vida, tive a oportunidade de aprender música. Já que eu estava sempre brincando com eles e, volta e meia, assistia aos ensaios… Avedir perguntou se eu queria aprender a tocar flauta. E minha resposta foi: não.
Dessa vez meu motivo não era querer brincar em vez de estudar. Eu já queria aprender música. Hugo me convidava para as apresentações de final de ano da Arte Som e eu amava assistir, ficava: UAU! Porém… Nessa época eu encuquei que queria aprender a tocar violão, porque eu via muito essas músicas com voz e violão e daí achava violão maneiro. Quem nunca, né? E como meu foco era o violão, não tinha interesse em aprender flauta doce.
Se arrependimento matasse…
Mas enfim. Acabou que eu nunca aprendi a tocar violão. Tentei uma vez quando um violão da vovó Deja (avó paterna) parou lá em casa. Procurei na internet um tutorial básico grátis e tentei seguir os passos. Mas considerem que (1) o acesso à internet entre 2008 e 2011 era mais limitado, e foi nessa época que eu tentei achar; (2) aprender um instrumento musical sozinho é muito difícil porque não é um processo divertido, envolve aprendizagem motora, muita repetição consciente até os movimentos ficarem automáticos e (3) provavelmente por causa do autismo, meu desenvolvimento de coordenação motora fina não é tão bom. Sério, se fizessem minha ficha de RPG, eu teria -2 como modificador de Destreza.
Então vamos para um outro fator importante da minha formação musical: Disney Channel. Como High School Musical tinha sido exibido em TV aberta, eu já gostava desde antes de meus pais trocarem a internet por TV por assinatura (Sky, eu ainda lembro). Mas quando fizeram, comecei a ter acesso aos programas adolescentes da Disney Channel. E eu estava na minha pré-adolescência, então fui super publico alvo de tudo.
Bom, eu já gostava de High School Musical e tinha assistido tanto o 1 quanto o 2 algumas vezes. Mas em 2008, quando eu tinha 10 anos de idade, lançou High School Musical 3. Eu já disse que gosto de música melancólica, né? Isso se estende pra música romântica, então pra playlist da minha vida temos aqui as músicas “Right Here, Right Now” e “Can I Have this Dance?”. As duas foram até parar na playlist que eu criei pra tocar no jantar do meu casamento com a Vanessa (a única coisa desse evento que eu mesmo decidi).
E no mesmo ano, 2008, ainda me apresentaram ao filme “O Som do Coração”, que me deixou doido! Amei demais aquele filme. Inclusive por causa de duas músicas: “This Time” e “Something Inside”.
This Time ainda tem uma letra que me acompanhou demais nas minhas primeiras decepções amorosas, anos mais tarde. Porque saca só o refrão:
Eu estive sentado observando a luz passar do lado de fora
Estive esperando um sonho entrar pelas minhas cortinas.
Me pergunto o que aconteceria se eu deixasse tudo isso pra trás.
O vento estaria atrás de mim?
Eu conseguiria te tirar da cabeça dessa vez?
E “Something Inside” simplesmente dava match com as idealizações que eu comecei a fazer sobre amor e relacionamentos (tema para uma newsletter futura o lance da “namorada imaginária”, hein), além de começar com a introdução do “Concerto em Mi menor para violoncelo”, do Edward Elgar… Podemos ver aí uma aproximação do Ícaro com a música erudita.
É a primeira coisa que você vê ao abrir os olhos
A última coisa que você diz ao dizer adeus
Algo dentro de você está chorando e te conduzindo.
Porque se você não tivesse me achado,
Eu teria te encontrado.
Eu teria te encontrado!
Mas de volta ao Disney Channel, 2008 também foi o ano em que surgiu Camp Rock. O filme consegue ser mais ridículo que High School Musical, mas eu amei na época! Aí começou a estourar Demi Lovato (tive crushzinho nelu? Sim, com certeza) e Jonas Brothers (banda favorita de todos os tempos da minha irmã mais nova, e tudo começou com nós dois assistindo Camp Rock). Daí é, eu também achava o máximo “This is Me”… Só que também me fez perceber, ainda nessa época, que a Disney Channel não tinha me introduzido exatamente esse rock adolescente midiático. Eu gostava pra caramba de outra música que é cantada no filme “Diário da Barbie” (nesse, a Barbie tem uma banda de rock… Cara, os filmes da Barbie eram muito legais!), também chamada “This is Me”.
Mas enfim, não era só Disney Channel com seus programas adolescentes musicais. Enquanto eu assistia Cartoon Network, as vezes passava clipes musicais. E foi assim que eu conheci a Katy Perry (não, não me tornei um fã dela, malz galera). DIRETO passava o clipe Hot N Cold. E eu amava esse clipe porque achava muito divertido ver a Katy Perry perseguindo o noivo (eu não entendia a letra, então nem deu pra pegar o contexto). E a Nickelodeon tinha uma série chamada “Naked Brothers Band”, que era sobre dois irmãos que montaram uma banda de rock. A Disney voltou depois e lançou uma série dos Jonas, e eu também assistia direto, até porque lá tínhamos essa pérola que é a “Pizza Girl”, que eu simplesmente achei engraçado demais.
Quando eu visitava Hugo, ele também tinha um DVD de clipes musicais com cenas de jogos e lá eu tive contato com uma pérola tão grande que sim, vou insistir que vocês deem uma pausa na leitura para assistir: Final Fantasy VI ao som de “Lutar Pelo que é Meu”, do Charlie Brown Jr. Sério, é uma piração danada ver a Tifa meter o socão no cara ao som de "Então deixa eu te beijar até você sentir vontade de tirar a roupa”.
Por que isso é relevante? Bom, se vocês lembram bem do que expliquei na última newsletter, não era considerado apropriado que adventistas escutassem músicas não-cristãs. Então isso simplesmente não era permitido pra mim (enquanto eu morei com meus pais, evitei ouvir “músicas do mundo” na frente deles). Mas no caso dos canais de TV, a música era tolerada porque eu não estava ali pela música, estava para assistir aos filmes ou séries… E no caso do DVD, a gente só queria ver cena de joguinho. Mas a verdade é que, secretamente, EU ESTAVA PELA MÚSICA SIM!
E assim como eu, era o resto da galera da igreja. Com uma diferença: eu realmente tentava seguir tudo certinho (rigidez cognitiva do autismo e talz), enquanto o pessoal da igreja não tinha problema em transgredir as regras. Em Belo Horizonte, na escola, eu sentia um incômodo por ser diferente e não conhecer as músicas que todo mundo tava cantando. Só que chegar à igreja era de boa porque eu estava entre meus iguais. Em Teófilo Otoni, quando eu percebi que o pessoal da igreja ouvia muita música do mundo, comecei a me sentir estranho de novo, no prejuízo. Me apegar a esses canais de TV foi o jeito mais “ok” que consegui para me conectar com esse universo que todos tinham acesso, menos eu.
Só tinha um problema: o rock. Eu sei, eu assisti Camp Rock, mas aquele som ali era muito leve. Rock mais pesado já era considerado “do capeta” (mesmo com as ironias que eu citei na newsletter passada, inclusive de na igreja cantarmos Sister Rosetta Tharpe e etc). Eu até poderia ignorar o rock e tudo o mais igual a maioria fez. Era época do Rock Wins e o povo da escola se dividia entre rockeiros e funkeiros, mas eu era crente, né? Carta branca para não me posicionar.
Mas daí a professora de inglês da escola resolveu trabalhar com músicas. E ela gosta MUITO de Guns N’ Roses. Daí eu assisti ao clipe de “November Rain” e aquilo foi amor à primeira ouvida, principalmente o solo final (essa parte me dá arrepios até hoje!), aquele no qual o Slash sobe em cima do piano de cauda. E a partir daí que começa minha relação conturbada com me sentir culpado acerca de rock.
Fosse na lan house quando ia fazer trabalhos de escola, fosse quando estava sozinho em casa no período em que voltei a ter internet, comecei a procurar mais músicas de Guns N’ Roses. Teve a clássica “Sweet Child O’Mine”, mas também “Welcome to the Jungle” e “Patience”. Mas é, “November Rain” era o top 1 da banda pra mim. Só que eu fui atrás de outros rocks.
Como eu tinha sofisticado minha forma de ouvir música do mundo sem ser julgado, usei muito o Karaokê do Pânico pra procurar músicas (veja só, não é pela música, é pela comédia). Daí conheci Linkin Park com “Numb”, por exemplo (e putzgrilla, eu gosto pra caramba de Linkin Park). Como vocês podem ver, isso também me afastou bastante do cenário brasileiro de música. Era mais fácil disfarçar com músicas estrangeiras do que com músicas brasileiras, já que ninguém entende as letras em inglês — no máximo meu pai entenderia alguma coisa, mas ele não era fluente também.
E aí ficava aquela coisa: baixava as músicas no meu mp3 (aquele que cabia umas 10 músicas só), ouvia no fone de ouvido, e depois ouvia alguma pregação demonizando rock, ou lia algum livro da igreja com uma teoria pseudocientífica dizendo que rock faz mal pra saúde (sim, tem umas loucuras dessa), me sentia culpado e apagava tudo.
A maioria das “músicas do mundo” que eu ia ouvir então eram de outras coisas que não fossem rock. Daí foi ok eu começar a ouvir Taylor Swift, principalmente “Love Story” (amava essa), Mandy Moore (daí ouvi “I See the Light” e fiquei doido para assistir Enrolados, olhava na locadora toda semana pra ver se já tinha saído), e Avril Lavigne (QUE TECNICAMENTE É ROCK NÉ, mas eu não sabia), que comecei com “When You’re Gone” e algumas menos conhecidas, como “Why”, “Darlin”, “Everybody Hurts”, e “I will be”.
Pausa rápida pra citar um fato: eu tava ouvindo Avril Lavigne por influência do meu primo Derick e da Laís, que gostava bastante, mas eu não tinha percebido que ela era a cantora de I’m With You, aquela música que eu amo desde os 4 anos de idade. Só fui perceber quando peguei o celular de uma amiga pra ouvir as músicas dela (coisa muito comum nos anos 2010s, jovens), ouvir “I’m With You”, reconhecer, ver quem canta, perceber que é a Avril, ficar feliz pra caralho, ouvir a música em loop umas 20 vezes, chegar em casa, baixar no 4Shared (LEMBRAM DISSO?), e continuar ouvindo pelo resto da minha vida (inclusive agora) para não correr o risco de me esquecer outra vez. E é, essa é a história de como Avril Lavigne se tornou a artista número 1 do meu Spotify quase todos os anos. E como eu continuei ouvindo essa música sempre, ela já carrega as memórias boas da minha vida inteira (mesmo que a letra seja melancólica). Não vai ser a última vez que eu a cito aqui.
Rock cristão não era uma estratégia ok para mim porque minha igreja também condenava, então não… Não deu pra ouvir Oficina G3, Catedral (cover gospel de Legião Urbana?) e nem Rosa de Sarom (que eu gosto pra caramba hoje em dia, graças à minha esposa, mas nós somos fãs especificamente da era Guilherme de Sá na banda). Minha estratégia? Uns DVDs que meu pai tinha em casa: 4Him, Michael W. Smith (tipo essa aqui que eu acabei de descobri que é, originalmente do U2), Avalon e David Phelps (citado na news passada). Mesmo assim, isso me rendeu um sermão do meu pai sobre eu estar me tornando “um rockeiro evangélico”, o que era totalmente ruim (mesmos os DVDs sendo dele).
A outra estratégia foi Lifehouse, porque alguma igreja gringa resolveu fazer uma dramatização sobre Jesus usando a música “Everything”. Daí até meus pais descobrirem que a música não era cristã, consegui ouvir muitas músicas da banda. Minhas favoritas são “Blind”, “Good Enough” e “You and me”
2012 então foi um ano fatídico. Por causa de uma bolota gigantesca de problemas, eu perdi praticamente todos os meus amigos e a garota por quem eu era apaixonado (primeira vez me apaixonando, inclusive, sempre uma bosta) não estava conversando comigo. Daí fiz um amigo na escola que era tipo meu companheiro pra dor de cotovelo adolescente e ele era da galera rock wins, então fui apresentado a mais rocks que combinavam muito com meu estado de espírito.
Começando por Creed, vou dar destaque a 3 músicas:
One Last Breath (com a letra “Me segure agora, eu estou a seis passos do precipício e acho que seis passos não é tanto assim)
My Sacrifice (CLÁSSICA)
Rain (porque a gente ria muito entendendo a letra como I feel it’s gonna rain VAI SE FUDEEER, era like this for days)
Mas daí também tinha Avenged Sevenfold, que era a favorita do Matheus (esse meu amigo). Ele ouvia muito “Warmness on the Soul” (por ter levado o fora de uma menina lá), mas eu fiquei fã de verdade foi de “So Far Away” (o final me arrepia também). E, claro, Bon Jovi. Ele usava “Always” pra me zoar, mas eu curtia mesmo “Livin on a Prayer” e “It’s my life”.
Difícil escapar do rock, né? Eu gosto muito mesmo. A um nível que acabei escolhendo conviver com a culpa por gostar da música diabólica por anos (até descobrir que é tudo balela racista). Até tive que superar o medo de Evanescence pra poder curtir “My Immortal”.
Então em músicas brasileiras, que eu prestava atenção, comecei a focar mesmo nas da igreja (já que o rock era uma pequena transgressão secreta complexa que só dava para fazer em inglês). Eu tive minha fase de ouvir todas as formações do Arautos do Rei (quarteto), como tinha entrado pro Coral Jovem da igreja eu comecei a ouvir muito Novo Tom, Nova Voz e esses conjuntos de vozes mistas, mas acho que os mais marcantes foram Os Arrais. A música deles é muito simples, mas as letras eram maravilhosas. E naquele momento lá (2012/2013) em que tudo tava horrível na minha vida, eles lançaram o álbum “Mais”, que tinha umas letras tão bonitas que eu ouvi o álbum umas 4x seguidas de uma vez assim que consegui baixar pelo 4shared.
A minha música favorita é Rojões, que vou reproduzir parte da letra:
Ouço o som da multidão
que vitoriosa chega de mais uma guerra.
Lindos refrões ecoam nos portões
Louvando o Rei e exaltando o seu nome.
E eu quis morrer na batalha ao lutar pelo reino até o fim
Mas fui convocado a cantar das vitórias e guerras que nunca vi
Me reduziria ao pó de onde eu vim
Mas eu não enxergo o que ele vê em mim.
Acho que essa me chamou atenção por causa do sentimento de insignificância e vontade de significar. A música fala muito sobre isso e era como eu me sentia.
Mas enfim, minha ultimate estratégia para conseguir ouvir as músicas que eu gosto mais livremente veio a partir da minha conexão com música instrumental. Meu gosto por violão já tinha sido passado para violino por dois motivos. O primeiro tem a ver com um brinquedo que a vovó Deja tinha me dado na infância, que era um violino que tocava musiquinhas (a maioria de Bach); o segundo é porque eu vi várias apresentações da Arte Som e ficava muito impressionado com o repertório para violino.
Daí vi um vídeo do David Garrett tocando November Rain do Guns N’ Roses.E pronto, tava instalado. Comecei a ouvir David Phelps tocar qualquer coisa. Eu gostava muito do som do violino, podia ouvir rock à vontade fingindo que era só música instrumental e… Acabei começando a conhecer música erudita europeia. Meus amigos faziam aulas de música e falavam um monte de coisas que eu não entendia, mas daí eu comecei a reconhecer peça musical e compositor melhor do que eles. Aquela coisa de tocou três notas e eu sei que estamos falando de “Dança Húngara no. 9” de Johannes Brahms.
Mas com David Phelps eu também fui conhecer mais Nirvana (inclusive, ele parece MUITO com o Kurt Cobain); Metallica, Oasis, e etc. Daí eu estendi para outros músicos youtubers que eu estava achando. Primeiro Taylor Davis (responsável por me apresentar Kingdom Hearts porque eu gostei muito dela tocando “Hikari”), depois The Piano Guys (destaque para essa mistura de Viva la Vida com Love Story), e depois Lindsey Stirling (que é meme para os violinistas, mas poxa… esse arranjo dela de My Immortal é muito bom).
Então meu pai, vendo que eu ficava ouvindo coisas de violino o dia todo, comprou pra mim um violino em 2014. E assim comecei a estudar música mais formalmente… Só que a história tem um pouco mais de detalhes, então vou deixar para a próxima newsletter. Até agora foi só um prelúdio, mas o primeiro movimento só veio quando eu tinha 16. Eu tenho que dar a devida atenção.

Goodreads. E mais uma atualização do Goodreads. Esse aqui eu li depois de reler “Os Cem Mil Reinos” com minha esposa Vanessa.

My rating: 5 of 5 stars
A N. K. Jemisin faz a gente desgostar do Itempas no primeiro livro pra fazer a gente gostar dele aqui. Sério, gostei mais de "Os Reinos Partidos" do que de "Os Cem Mil Reinos". A Oree Shoth é uma personagem ainda mais interessante que a Yeine (e eu amei as aparições da Lady Cinzenta aqui). Foi bom sair da intriga palaciana para ver o chão do mundo, ver as transformações que causou, as tensões entre as religiões... e ver como Itempas processa aquilo tudo.
Amei mesmo.
Quanto ao final... Achei muito justo. A gente gosta do Itempas e etc, mas não dá para apagar as consequências dos eventos de "Os Cem Mil Reinos". É doloroso, mas faz todo o sentido do mundo!
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VAL. Dois textos meus foram publicados na VAL recentemente. O primeiro, em homenagem ao Maio Nacional, é minha resenha do livro 999 do Wilson Júnior. “999 — Seria a peste bubônica uma Covid-19?”; O segundo é uma reflexão acerca de questões políticas que nos incomodam na literatura e nossa necessidade de escapar: “A leitura perdida entre o escapismo e a alienação” (e sim, eu estou xingando “Perdida” da Carina Rissi nesse texto, nem me dei ao trabalho de assistir a série derivada desse livro racisat).
Por hoje é só tudo isso. Até semana que vem!
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