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#7 — Minha História Musical I: O Rascunho com Muitas Modulações
Falo um pouco sobre como ser evangélico me colocou num ambiente musical paralelo, mas também sobre como é impossível nos isolar completamente do mundo. Nisso apresento a vocês uma porrada de músicas, o conceito de barbershop quartet, e mostro que rock não é do capeta.

Dessa vez eu citei muitas e muitas músicas. A maioria delas é evangélica e talvez vocês pensem: “nem sou evangélico, vou ouvir esse trem não”. Mas salvo os momentos em que eu cito diretamente a letra, eu estou falando muito mais da melodia mesmo… Por isso deixei link para as músicas. Ouvi-las inteiras não é necessário, mas ouvir pelo menos pedaços deixa mais fácil entender o que quero dizer.
Pra facilitar a vida de vocês, fiz uma playlist com as músicas citadas: https://open.spotify.com/playlist/51g5dp9AhEkrQBnXBdePr4?si=516bc2dd700747d5
Algumas não tinham no spotify. “Aprender a Confiar” da Rafaela Pinho eu substituí por “Held” da Natalie Grant porque, bem, a música é da Natalie Grant. Mas de qualquer maneira, as que não tinham nem a música e nem uma substituta com a melodia igual no spotify ainda tem versão no youtube linkada aqui. Daí vai dar tudo certo.
Agora sem mais delongas, vamos falar sobre…

“Sem a música, a vida seria um erro”, é uma frase atribuída ao filósofo Friedrich Nietzsche. Apesar de eu saber escrever Nietzsche sem precisar consultar outras referências, não sei praticamente nada do pensamento nietzschiano, daí não posso falar muito sobre o que ele queria dizer com essa frase. Mas é, a arte, a expressão humana, tá aí pra todo mundo, mesmo se a gente não souber dar uma explicação racional-intelectual pra ela.
Música é uma das artes com a qual me envolvo. Pensei em escrever a minha história a partir do momento em que efetivamente comecei a estudar música, aos 16 anos. Mas a verdade é que nossa relação com as artes não é tão formal assim, do tipo que você precisa dissertar sobre tal arte para ter seu envolvimento com ela validado. Então vou começar do começo.
Quando eu nasci, meus pais já eram membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Isso é relevante porque acaba moldando o universo musical no qual fui concebido. Conheço muita gente fã de sertanejo e muita gente que cresceu frequentando rodas de samba e pagode, como é de se esperar em Minas Gerais, aqui no Brasil. Mas isso aí já tava fora das minhas referências na infância, porque a Igreja Adventista do Sétimo Dia (vou abreviar para IASD daqui pra frente) tem seus próprios costumes com relação a música.
Para uma boa análise dessa questão de costumes na IASD, suas motivações e seus impactos, eu recomendo o artigo “Uma história dos estilos de vida adventistas”, escrito por Brian E. Strayer e publicado na Revista Zelota. Se você não quiser ler (e tá tudo bem), vou só compartilhar algo da nota 25 do artigo, porque o Brian diz que
“Em um esforço para evitar a “formação de guetos” (isolamento Amish) e assimilação (como os metodistas),os adventistas estabeleceram “conjuntos limitadores” de regras em vez de “conjuntos centrados” baseados em relacionamentos.”
E aí que vem a nota 25:
“Giampiero Vassallo, em “What’s an Adventist, Anyway? Bounded Sets Versus Centered Sets,” Spectrum 41, no. 3 (Summer 2013): p. 74-80, define um “conjunto limitador” como o uso de características externas (as 28 Crenças Fundamentais, abstinência de álcool, cigarro, carne de porco, joias, etc.) para diferenciar adventistas de outros cristãos, vendo a teologia como verdade imutável, mantendo listas de membros claras, enfatizando evangelismo (conversão) ao invés de discipulado (nutrição), focando em diferenças em relação a outras denominações, e esperando que conversos sigam o modo adventista ocidental de fazer as coisas. Em contraste, um “conjunto centrado” focado em relacionamentos coloca Jesus (não doutrinas) no centro; reconhece variações entre os membros; valoriza diferenças de raça, etnia, cultura e estilos de adoração; acha o discipulado restaurador e redentor enquanto anda de mãos dadas com o evangelismo; vê o batismo como a profissão de fé de alguém ao invés de consentimento intelectual com doutrinas; e dá autoridade a líderes locais e nacionais que demonstram o poder de Deus em suas vidas.”
E eu posso atestar que, na tradição adventista em que eu cresci, não é bem visto ouvir “músicas do mundo”, isto é, músicas não-cristãs feitas para qualquer contexto que não fosse explicitamente “adoração a Deus”. Não tem uma regra clara e eu já ouvi muitas versões (tipo um cara que tentou separar entre “música sacra”, a que a gente sempre pode ouvir; “música secular”, que é uma música do mundo que não faz tanto mal, e “música profana”, que é pecado ouvir).
A explicação que eu mais ouvi acerca disso é praticamente uma fanfiction da Bíblia, uma vez que nada dela está presente no cânone bíblico utilizado pela IASD. Seria o seguinte: música te afeta quase a um nível lavagem cerebral e por isso é importante, tão importante que Lúcifer, que seria o Diabo, era o regente do coral de anjos na época em que não existia o mal e o pecado. Daí ele se vilanificou, virou malvadão, virou o Satanás, mas continuou manjando muito de música e usa isso para ferrar com os seres humanos.
Sei que você deve estar lendo isso e pensando “que triste” e, é, devo concordar, é triste. Todo o tratamento que não só a IASD, mas muitos dos cristãos evangélicos dão para a arte é deprimente. Mas não estou aqui para falar disso, só citei para dar contexto.
A primeira música marcante da minha vida é uma música infantil de ninar bem antiga que, infelizmente, não consegui achar nenhuma gravação online (eu poderia cantar, tocar a melodia no violino ou escrever a partitura? Sim, mas não vou fazer isso). Minha mãe colocava num toca-fitas (sim, peguei essa época) para eu ouvir quando bebê. A letra era assim:
São dez dedinhos nas suas mãos
São dez dedinhos também nos pés.
No rosto tem um pequeno nariz
E dois olhinhos fecham rápido assim.
As orelhinhas são para ouvir
E a boquinha para sorrir
Com as perninhas ele pode andar
E com os bracinhos, a mamãe abraçar.
Foi Deus quem fez, foi Deus quem fez
É um milagre de Deus pra nós
Foi Deus quem fez, foi Deus quem fez
É a herança que Ele nos deu.
A letra é sim doutrinação cristã. A maioria das músicas infantis cristãs tem esse viés educativo, de ensinar o conjunto de crenças da religião, mas não foi essa letra que me marcou. É mais a melodia. É uma música muito bem elaborada. A melodia é simples, delicada, e o arranjo é todo orquestrado, com piano, harpa e flautas. Parece uma coisa “contos de fadas versão Disney” — o que talvez explique o porquê de eu gostar tanto das “músicas Disney”.
Não dá para saber exatamente a associação de memórias que essa música traz, mas eu costumo ficar emocionado a ponto de chorar quando escuto (e pois é, eu não escuto há muitos e muitos anos, tenho só a memória mesmo). Acho que é porque ela me traz essa sensação de ser amado, de estar protegido, e estar aconchegado. Não acho que músicas sejam lavagem cerebral ou coisa do tipo, mas é impressionante como elas conseguem se associar a momentos da nossa vida e evocar sensações mesmo após anos, não é?
Mas não é absoluto (e eu não tenho um tratado para prever qual música vai ser marcante na sua vida ou não). Posso dizer que a maioria das músicas infantis cristãs me trazem nostalgia da infância, mas nenhuma outra foi marcante. No máximo vou fazer piada sobre a Alessandra Samadello ter transformado um dos episódios mais violentos do livro de Gênesis (a destruição de Sodoma e Gomorra) numa música animada que qualquer criança vai amar, ou me juntar com meus irmãos para cantar todo o DVD da Arca de Noé da Ana Paula Valadão (sim, o meme ambulante) por motivos de pura nostalgia da infância mesmo.
Meu comentário extra sobre músicas infantis cristãs: talvez pela preocupação excessiva em engajar as crianças, a maioria dos evangélicos parece ignorar todos os preconceitos contra gêneros musicais se for para crianças. A música que citei antes da Alessandra Samadello é muito puxada para o rock (e puxam mesmo pro rock quando é para fazer música animada) e Diante do Trono para Crianças passa por muitos e muitos gêneros musicais. Tem até o “Rap da Família”. Eu não ouvia Aline Barros quando criança, mas minha esposa sim, daí ela me apresentou a “Dança do Pinguim” que é, rufem os tampores, um funk carioca.
Quanto a minha formação musical não-cristãs, levou um tempinho para surgirem músicas marcantes. Claro, eu ficava cantando o dia inteiro a música de propaganda do Disque 31 e conheci Fur Elise do Beethoven através do caminhão de gás em Belo Horizonte dos anos 2000s. Mas no mais foram músicas de desenhos animados que só tem esse valor de nostalgia pra mim: as músicas de Cocoricó, do Castelo Rá-Tim-Bum, Backyardigans (teve até Bossa Nova nesse) abertura dos desenhos (Cyberchase, Beyblade, Camundongos Aventureiros e etc).
A primeira música não-cristã que me marcou foi “I’m With You”, da Avril Lavigne. Se eu tenho algo como uma música favorita, eu diria que é essa. Hoje eu sei que o álbum Let Go foi o álbum de estreia da Avril (meu favorito ainda hoje), que tinha só 18 anos na época, e que ela foi uma artista muito construída para o mercado. A “princesa do punk” não era tão punk assim, o que é bem anticlimático (para mais informações, tem esse vídeo aqui muito bom do Normose). Mas em 2002 eu tinha 4 anos de idade e definitivamente não conhecia o movimento punk, muito menos seu significado real.
Foi assim: viajei para Teófilo Otoni e, quando eu ia pra lá, costumava brincar muito com meu primo Derick. Ele é 5 anos mais velho que eu, mas o dilema dos netos mais velhos é que a gente não tem muita opção além de se aliar. Sério, todo o resto era bebê — Iandra, minha irmã, era recém-nascida em 2002 e meu outro primo, Guilherme, tinha só 2 anos de idade. Aí era eu de 4 anos e meu primo com 9 mesmo brincando e jogando videogame. Mas acho que fui conhecer “I’m With You” em 2003, quando tinha 5 anos.
Enfim, Derick estava no computador dele vendo clipes musicais — naquela época, assistir clipe era o que há. MTV fazia sucesso por um motivo, sabe? Eu provavelmente queria jogar Donkey Kong Country no emulador de Super Nintendo ou brincar no gravador de voz, mas Derick fez o que um bom primo mais velho faria para acalmar a criança mais nova enchendo o saco: me colocou pra ver os clipes também. Eu me lembro só de dois: “I’m With You”, da Avril Lavigne, e “Bring me to Life”, de Evanescence. A segunda música eu só fui começar a gostar lá na adolescência, porque a igreja me meteu muito medo de Evanescence relacionando o clipe de “Going Under” com a “besta que emerge do mar” no Apocalipse (gente versada em teologia, não tente entender, aquilo foi uma brisa muito louca).
Daí foquei em “I’m With You”. Obviamente, eu não entendi nada do que a Avril estava cantando, meu pai só começou a me ensinar alguma coisa de inglês quando eu tinha 7 anos. Nem mesmo que o nome daquela mulher ali era Avril Lavigne (isso aí eu fui descobrir muitos anos depois, muitos mesmo). Mas enfim, era uma balada rock, melodia lenta, harmonia envolvente, bem melancólica, pensada pra mexer com seus feelings. Até hoje eu amo o arranjo original da música, aquilo mexeu mesmo comigo! (E o fato de eu ter achado a Avril Lavigne bonita deve ter algo a ver também). Não consigo me lembrar se eu cheguei a insistir pro Derick colocar o clipe outra vez, mas eu lembro que queria assistir em loop — 5 anos de idade (provavelmente), galera, deem uma colher de chá.
Na época essa música apareceu como trilha sonora de Malhação, então ouvia ela por aí sendo tocada nas rádios e aniversários de 15 anos e etc. Então eu ouvi muito essa música por aí e, não adianta, era só a música tocar e eu parava tudo o que eu estava fazendo para ouvir com muita atenção.
Enfim, “I’m With You” vai aparecer mais vezes nessa história, mas eu chuto que essa música representou uma primeira virada no meu gosto musical. Assim, de volta à igreja, a gente tinha dois tipos de músicas cantadas ali congregacionalmente (sem contar músicas infantis): os hinos do Hinário Adventista — que é, na maioria, aquelas músicas do século XIX que as igrejas protestantes brasileiras simplesmente herdaram dos estadunidenses, e as músicas do CD Jovem, que são em maioria músicas compostas por brasileiros contemporâneos.
Existia uma rixa interna na igreja entre Hinário Adventista x CD Jovem. Principalmente as pessoas mais velhas, que por consequência tinham mais poder nas congregações, consideravam os hinos do Hinário Adventista como “música sacra de verdade”, enquanto o CD Jovem já seria “o mundo entrando na igreja” porque né? TINHA BATERIA, E TODO MUNDO SABE QUE BATERIA É DO DEMÔNIO /piada ironizando a fala da galera da época.
Geralmente tratam isso como um simples problema geracional (porque todas as contradições internas da igreja são ignoradas sob o pretexto de serem um “problema geracional”), mas eu sei que é uma parada mais profunda envolvendo elitismo cultural por parte das lideranças históricas da Divisão Sul Americana da IASD.
O irônico é que o tal Hinário Adventista tinha sido atualizado na década de 1990 (o que era recente) e hoje em dia recebeu outra atualização que inclui a maioria das músicas dos antigos CDs Jovens. Mas não, isso não é uma superação do elitismo, infelizmente.
Como uma boa criança nos anos 2000, é claro que eu amava CD Jovem. Toda vez que lançava um novo, eu ouvia todas as músicas com o encarte em mãos para decorar logo e saber cantar na igreja. Inicialmente, eu preferia as músicas animadas (como toda criança), mas chegou esse momento em que comecei a preferir as melodias mais lentas, com harmonia bem preenchida, orquestrada e envolvente. Posso citar algumas aqui que são lindas, como “Brilhar por Ti” e “Melhor Lugar do Mundo”. Eu realmente acredito que isso foi efeito “I’m With You”.
E bem, a música adventista brasileira nesse período tem um estilo bem próprio, se eu comparar com a média das músicas gospel por aí. E entrando na onda de nostalgia, vai aí uma pequena lista — que são basicamente músicas que passei a ouvir porque minha mãe ouvia. Sério, foca na melodia aí:
Razão pra Sonhar — Iveline
Eu Não Quero Ir — Priscilla Gollub
Tomou Meu Lugar — Alessandra Samadello
E aí vem os que são muito icônicos no mundinho adventista. Primeiramente, Leonardo Gonçalves. Sendo sobrinho do Williams Costa Jr., um compositor e maestro adventista brasileiro com muitas conexões, ele já começou ali no jeitinho para estourar. Mas o Leonardo Gonçalves tem seu mérito de ter uma técnica vocal incrível. Ele foi ficar muito mais conhecido no mundo gospel quando lançou o álbum “Princípio e Fim” em 2012 (e cancelado entre os evangélicos em 2022 por não ser um babaca), mas eu cresci ouvindo o que ainda considero ser o melhor álbum dele,: “Poemas e Canções”, o primeiro álbum, de 2002 (mesmo ano do Let Go da Avril Lavigne, hein).
“Getsêmani” já é a mais conhecida por todo mundo e é uma música incrível, mas vou deixar vocês com outras duas: “Volta”, que é a minha favorita, e “Poemas e Canções”, porque CARAMBA! Sério, ouçam a orquestração das duas músicas, as nuances e tudo o mais. Lindo pra caramba.
Segundamente, tem os Arautos do Rei. Eles são um grupo mais institucional, todos pastores adventistas, e a ideia é mais um evangelismo musical. Mas também são muito responsáveis pela cultura quarteteira dos adventistas. Para quem não conhece, é uma formação para quatro vozes masculinas: a mais aguda é o 1º tenor, daí temos uma médio aguda — que geralmente faz a melodia principal, o 2º tenor, então vem o barítono, voz médio grave super comum em homens, e então o baixo, voz grave que costuma exigir muito treinamento para ser bem executada. Deixando aqui algumas deles para sentir o clima: “Maior Amor”, “Eu não te Deixarei”, e “Chegou a Hora”.
Sobre a vibe quarteteira, vou falar logo logo. Mas agora preciso dizer que existiu uma cantora adventista que acabou tendo o efeito Avril Lavigne em mim: Rafaela Pinho. Ela não é do tipo cantora e compositora, daí eu acabei descobrindo que eu gosto muito da Suzanne Hirle, que compunha a maioria das músicas da Rafaela. (E a Suzanne Hirle é casada com o Felipe Valente, que eu ainda hoje gosto pra caramba… E esse gosto pode ser explicado porque as músicas deles são muito puxadas para o rock).
Da Rafaela Pinho a gente pode destacar “Máscaras” e “Aprender a Confiar”.
De todas as músicas que citei até agora, “Máscaras” é a primeira que foi marcante também pela letra. Não da letra toda, mas de uma parte específica
Estou aqui tentando olhar no espelho e ver
o rosto de alguém feliz, finjo ser o que não sou
Mas tudo acabou, no fundo eu estou
me sentindo triste, tão sozinha
Quero me esconder
Será que alguém me vê?
Essa aí foi lançada em 2012, quando eu tinha 14 anos, e eu já me identificava pra caramba com esses versos aí.
Ok, situando no tempo, ainda estou dando um panorama do meu universo musical durante a infância. Se você não ouviu as músicas, eu recomendo dar play só em alguns segundos para sentir a vibe delas. Vai fazer sentido depois.
Claro que eu também ia a uma escola que não é adventista e existia a rádio da van escolar. Num geral, eu ficava bem a parte porque eu não ouvia música do mundo, mas claro que criei familiaridade com as que eram mais repetidas. Daí vem: “Pump it”, do Black Eyed Peas, “Smack That” do Akon e uma queridinha da minha infância, “Axel F”, do Crazy Frog. Eu sei, nada melancólicas essas aí, mas eu também gosto de hip hop e de Crazy Frog. Tanto hip hop quanto Crazy Frog tem uma batida rítimica muuuuuuito boa, é gostoso de ouvir. E no caso de Black Eyed Peas, os caras sabem fazer uma boa seleção de sample, viu. Sério, porque “Miserlou” do Dick Dale é simplesmente incrível (aí, meu pé no rock não nega).
Mas era isso, nada muito estruturado. A coisa começou a mudar em 2007, aos meus 9 anos de idade, quando eu acabei entrando um pouco mais no universo musical do meu pai. Teve o show do A Capella, um grupo gospel estadunidense (negro, em sua maioria) que tinha como marca não usar nenhum instrumento musical, só voz. No máximo faziam um beat box ali (e foi minha apresentação ao mundo do beat box). Ver os caras ao vivo me deixou muito animado porque eles eram muito bons, e nem era a melhor formação de todas. Vou deixar alguns exemplos aqui.
“Well on My Way”, que é a música animada que eu gostava. Percebam aí que um deles faz um acompanhamento contínuo só com “papapapapapapapapapapa” e preenche bem a harmonia da música.
“We Bow Down”, que puxa mais para o meu gosto calminho e suave, mas dá pra arrancar uns arrepios pela harmonia.
“La Song”, que quase não tem letra, mas é muito boa pela harmonia só na voz.
Enfim, nem sempre o A Capella segue essa formação em quarteto, mas a base é a mesma. E isso me traz uma coisa interessante que a IASD desconsidera: isso aí é música negra, cara kkkkkk e poxa, é muito bom. A origem da formação tem a ver com os Barbershop Quartets, que nos bairros negros os homens se juntavam para cantar nas barbearias. Muitas vezes tinham mensagens anti-opressão escondidas na música. Por exemplo, tem uma muito boa chamada “Swing low, sweet charriot” que tem uma letra cristã. “Balance devagar, doce carruagem, vindo para me levar para casa”. Mesmo assim, por ter a “carruagem”, podia ser usada para avisar que a polícia estava vindo (isso na época das leis Jim Crow de segregação racial nos EUA). Claro que eu ouvi eles a vida toda sem nem saber desse background, então não sei o quanto de diferença fez na minha vida.
E isso nos leva a conhecer música gospel estadunidense e perceber que muitas das músicas que eu gostava eram, na verdade, versões em português das músicas de lá. Por exemplo, eu citei o “Eu não quero ir” da Priscilla Gollub, mas essa é uma versão em português de “I Don’t Wanna Go”, do Avalon (um quarteto misto que poderia ser o elenco de uma sitcom estilo Friends). Claro, isso vai levar a uma época em que eu ouvi muito Avalon, mas essa época foi mais para a adolescência e tem outros motivos.
Daqui, a maior marca é eu conhecer The Gaither Vocal Band. Embora eles não sejam um barbershop quartet sempre, com formações incluindo até seis integrantes, a base deles é essa. Entretanto, a base do estilo musical é o country tradicional, ou como gosto de chamar, música sertaneja estadunidense. Os evangélicos brasileiros não percebem que é country (e alguns ainda compram essa história de southern gospel para se sentir bem consigo mesmos) principalmente pela influência do Bill Gaither, que compôs músicas que aparecem aí nos hinários de várias igrejas, como “The King is Coming” e “Because He Lives”.
Então, o Bill Gaither é um grande produtor de música gospel, ricasso. Mas ele também pode ser conhecido como pai do Benjy Gaither, o dublador original do bode cantor de “Deu a Louca na Chapeuzinho”.
Eu desenvolvi gosto pelo estilo country do Gaither, ainda vou curtir muito se ouvir por aí “Sinner Saved by Grace”, “One Good Song”, e “The Love of God”. Além disso, tem uns arranjos muito bons. Tipo, sério, vale a pena parar para ouvir o arranjo deles de “You are my all in all” misturando a música com o Cânone em Ré Maior do Pacheabel.
Certo, se você ouviu essas aí do Gaither e entendeu a estrutura do barbershop quartet, então percebeu quem é o primeiro tenor, né? E que voz, minha querida audiência, que voz. O nome dele é David Phelps e, como é quase inevitável para ouvintes de The Gaither Vocal Band, me tornei muito fã desse cara. E isso me fez procurar pelo trabalho solo dele. E foi aí que ouvi “Virtuoso” e fiquei piradão naquele solo de violino ali. E sim, isso teve repercussões no futuro em que fiquei morrendo de vontade de aprender violino (mas isso fica para a parte II da história).
Por hora, vou deixar vocês com a versão que o David Phelps fez de “I Just Call You Mine”, que é mais famosa na voz de Martina McBride.
E a outra coisa é… “Virtuoso” é puxado para o rock, né? E daí vem The Gaither Vocal Band com “Journey to the Sky”. Dá pra notar que a pegada é diferente daquele countryzão, né? Pois então eu descobri que essa música foi gravada décadas antes por ninguém mais ninguém menos que uma das mães do rock enquanto gênero musical, a Sister Rosetta Tharpe. Então ouçam aí a Sister Rosetta cantar “Jorney to the Sky”. Além disso, se você já foi em alguma igreja evangélica, é capaz de já ter cantado esse rockzão aqui: “Jericho”. É que antes do Elvis, rock era “música de preto” também.
Claro que isso faz com que eu goste ainda mais de rock.
Enfim, tudo isso foi minha formação na infância (e não, eu não sabia da existência da Sister Rosetta Thorpe e também não sabia que a Avril Lavigne era a cantora de “I’m With You”). Mas em Belo Horizonte, tirando um pequeno período em que um cara tentou ensinar teoria musical na igreja e meu pai quis que eu participasse — o que deu errado, porque eu preferia brincar em vez de assistir aulas com os adultos —, eu não tinha ninguém para falar sobre música. Mas em novembro de 2007 me mudei para Teófilo Otoni (MG), terra natal do meu pai, e lá morava também Hugo, que é filho dos melhores amigos do meu pai (a mãe dele, Suca, acabou sendo madrinha do meu casamento). E aí o “não tenho ninguém para conversar sobre música” se transformou em um “caramba, eu não sei nada de música”, já que Hugo fazia aula de piano numa escola de música credenciada pelo Conservatório Brasileiro de Música.
E aí começa uma fase que envolve um interesse crescente por aprender a tocar algum instrumento e também um sentimento igualmente crescente de culpa por perceber que eu amo rock, que nessa época era taxado para mim como “música do capeta”. Mas isso aí vai ficar para parte II da história.

Assista pelo amor de Deus a playlist do Normose “Rock n’ Roll: morreu ou virou coisa de reaça?”, que é a melhor coisa que eu vi sobre rock, que deve ser meu gênero musical favorito de todos os tempos da minha vida. Eu fiquei bem decepcionado ao perceber que sim, Avril Lavigne é punk esvaziado em sua forma máxima… (continuo ouvindo ela) Mas fiquei bem orgulhoso porque Green Day representa demais. E sério, recentemente eles cantaram “American Idiot” mandando uma indireta paro Elon Musk que foi gostosa demais haha.
Avril morreu e foi substituída? Sério, só de citar a Avril eu fui lembrar dessa teoria kkkkkkkkkk se você não sabe, vê esse vídeo aqui no Canal Nostalgia.
Doona: Depois de muito tempo lançado, resolvi assistir este dorama sobre uma ex-idol de K-pop que acaba se envolvendo com um estudante de engenharia civil. É muito divertido no desenvolvimento, mas o final eu achei uma bostinha. Aquela coisa, né? Maratonei, foi divertido, mas… Puxa, podiam ter desenvolvido melhor aquele final. Definitivamente não vou ler o Webtoon na qual o dorama foi baseado, o “The Girl Downstairs”.
Goodreads. Atualizando também o que achei das leituras, hoje ficamos com

My rating: 2 of 5 stars
Li até 30%, mas é tão bobinho que não dava pra continuar lendo. A escrita soa muito infantil (não direcionado a crianças, mas como uma pessoa imatura escreveria). Tipo um Jornada do Herói imaturo, com a estrutura um pouco defasada. Então é mais do mesmo, mas abaixo da média do mesmo. A narração não se decide entre terceira pessoa limitado ou onisciente. Infelizmente tá chato demais pra eu continuar lendo.
Atualização de 2025 tendo lido todo o livro:
Dá até pra se divertir desligando o cérebro com uma história genérica de fantasia, mas é muito meme em muitos momentos. Em partes pela escrita bagunçada, mas não aquela bagunça organizada que cria sentimentos, e sim algo tipo: "quê?".
Além disso, todos os personagens parecem ser muito burrinhos, com exceção da vilã Kendra (que também teve seus momentos cérebro derretido). O plot dessa vilã, de ter uma vida determinada e viver sendo traída por quem confia, é a única coisa que me interessou de verdade nesse universo. Mas é mais fácil eu escrever uma fanfic do que eu ler o resto (mas nada é impossível para Deus, irmãos e irmãs).
O outro motivo para ser muito meme é porque essa história é extremamente branca. Sei que é mera reprodução de uma literatura super embranquecida, mas mesmo livros consagrados soam bobos ou ofensivos por esse detalhe. Esse aqui não foi ofensivo, mas da vontade de rir com a descrição "mas ele era alto, bonito, LOURO", tipo o famoso "loiro, bonito dos olhos azuis" (E não, não é uma sátira, nem tudo é uma sátira, as pessoas podem acabar escrevendo coisas ridículas a sério mesmo).
É um livro ok, mas não chega a ser bom. Não li outra coisa da Karen ainda, mas não recomendaria As Crônicas de Myriade. Foi o início da carreira dela, mas não acho que sejam livros prontos e bons o suficiente pra valer o investimento. (Li porque peguei Kindle Unlimited de graça e quis alguma fantasia não -dark, mas também mais levinha... a vontade foi tanta que até ignorei um monte de coisa que eu não gosto).
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E por hora é isso. Até a próxima, pessoal.
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