#4 — Escreva com Amnésia

Uma fagulha de escrita sobre quem quiser escrever sobre a perda de memória sistemática do povo brasileiro + algumas considerações sobre História do Brasil (Cap. 1, Formação Histórica do Brasil), o que achei da primeira temporada da série "Halo"

Primeiramente, feliz páscoa — não quero falar sobre páscoa hoje, então só desejo um dia feliz mesmo.

Sobre o horário, ninguém exceto minha esposa mandou feedback acerca disso. Então vou considerar a determinação da Vanessa, minha esposa, líder suprema, a lei: lançar 8h da manhã é mais legal porque aí dá tempo de se organizar pra ler.

Sei que alguns de vocês são antigos assinantes das Fagulhas de Escrita e eu disse que as incorporaria aqui. Devo dizer que o dia enfim chegou.

Para quem ainda não viu nenhuma fagulha, a ideia é a seguinte: eu quero fomentar cada vez mais ficção brasileira que tenha questões brasileiras como tema e o Brasil como fonte. Há décadas empurram ficção estrangeira goela abaixo, colonizando nossa imaginação e ameaçando nossa própria cultura e história. Claro que tentamos resistir, mas a resistência é difícil e trabalhosa.

É um dos motivos que me levaram a querer estudar mais sobre história do Brasil em todos os seus âmbitos, e também nossa formação étnico-cultural. Sei, porém, que nem todo mundo que escreve tem tempo para tanto estudo. Daí resolvi compartilhar as ideias que me vêm ao longo dos estudos (e também, quando for pertinente, algumas indicações de leitura) e deixar isso livre pra quem quiser se apropriar delas.

Afinal, eu não vou dar conta de escrever tudo. E mesmo se tivesse condições para isso, uma mesma ideia pode se materializar de formas muito diferentes. Porque a ideia, o prompt, é só uma fagulha para incendiar sua imaginação. Já estou ansioso com o que essas fagulhas de escrita vão produzir.

Sem mais delongas…

Fagulha de Escrita #1 — Amnésia

Vamos imaginar um reino fantástico. Pode ter o que você quiser: dragões, elfos, orcs, fadas, bruxas, magos, cavaleiros, príncipes e princesas encantadas… Pode nem ser um reino, pode ser uma república, pode ser uma sociedade dividida em clãs. Você quem sabe. Só tem uma coisa certa sobre esse lugar que estamos imaginando:

O governo é tirânico.

Sendo um governo centralizado ou não, existe nele um grupo de pessoas que vivem na abundância de tudo o que elas querem sem precisar trabalhar. Não é um grupo grande em comparação com o restante da população. E toda essa população trabalha bastante para sustentar este grupo, sofrendo uma série de abusos diários.

Claro que essas pessoas já se revoltaram antes. Claro que, no início de tudo, houve bastante resistência. Mas ninguém se lembra. Na verdade, ninguém se lembra nem dos abusos que sofreram no dia anterior. Trabalhou sem receber pagamento? Sofreu violência física, verbal ou sexual? Teve seus bens roubados? Se isso aconteceu por parte das pessoas poderosas, ninguém vai se lembrar.

Isso porque essas pessoas poderosas encontraram algum meio mágico de apagar as memórias de todo mundo sempre que lhes conviesse.

Mas algumas pessoas comuns, mesmo não se lembrando, perceberam que há algo estranho. Tem algo faltando, algo em seu passado que não faz sentido. Então elas começaram a se organizar para descobrir o que esqueceram e tentar impedir a amnésia. Você escreverá sobre alguém (ou alguéns, caso queira múltiplos protagonistas) desse grupo. Conte a história de como vão recuperar suas memórias roubadas e o que farão com elas.

Esta ideia vem de uma realidade muito conhecida pelo Brasil, a realidade de um território colonizado há 500 anos e que, até hoje, não se emancipou de suas classes dominantes. A primeira coisa que nos roubaram foi a memória.

É difícil para nós, pessoas negras, respondermos coisas simples como: "de onde veio minha família?”, “de qual povo africano descendo?”. É comum também saber da existência de alguma ascendência indígena, mas não saber nem de qual povo estamos falando. Não reconhecemos a cultura, não nos identificamos com as lutas e opressões atuais, e tudo isso porque nós não nos lembramos.

Como era o Brasil pré-cabralino? Como viviam os povos nativos antes de 1499? É difícil conhecer essa parte da história. Mas piora.

O que foi a Confederação dos Tamoios? Quem foram seus líderes? E a Guerra Guaranítica? Quem eram aqueles indígenas lutando contra imposições da Coroa Portuguesa?

Isso sem contar as insurgências negras. Revolta do Engenho de Santana, Guerra de Palmares, Conjuração Baiana… O quanto sabemos disso? O quanto sabemos também da Conjuração Baiana, Cabanagem, Balaiada, Revolta da Chibata?

É difícil até se lembrar do que aconteceu recentemente.

Quem apoiou o golpe de 1964 e instaurou a Ditadura Empresarial-Militar? Por que torturadores foram comparados com aqueles que lutaram pela liberdade, com a desculpa de “excessos de dois lados”? Por que esses mesmos torturadores morreram velhos e ricos, passando uma gorda herança para frente? Na verdade… Quem são eles mesmo? Essas pessoas aqui realmente cometeram atrocidades? Nós não lembramos.

Daí não lembramos também de quem apoiou o golpe de 2016, que inaugurou uma era de contrarreformas em todas as melhorias que havíamos conquistado. Na verdade… Havíamos conquistado alguma coisa? O Brasil não foi sempre assim não? E puxa… Teve mesmo um presidente, eleito em 2018, que deixou mais de 700 mil pessoas morrerem de uma doença evitável? Quem esteve com ele durante esse tempo? Quem e por que apoiou tamanha negligência de caráter genocida? O que aconteceu com essas pessoas?

O que acontece com as pessoas que articularam uma tentativa de golpe no 8 de Janeiro de 2023? Elas realmente existiram?

Nós não lembramos porque essa memória é constantemente roubada de nós. Se tem algo que todo brasileiro conhece bem é essa “amnésia mágica” que os poderosos nos impõem. Precisamos falar mais sobre isso. Precisamos nos lembrar.

Deixo como recomendação de leitura:

“Nós Somos a Cidade”, de N. K. Jemisin, publicado pela Editora Suma: parece que o roubo de memória que portugueses e espanhóis inauguraram na população negra expatriada para as Américas foi uma tendência repetida por todas as potências coloniais. Recomendo prestar atenção no personagem Manny, avatar de Manhattan, que também não se lembra de nada. Spoiler: ele é negro.

“A República de Palmares e a disputa pelos rumos da nacionalidade brasileira”, de Jones Manoel, artigo publicado na revista Opera Mundi: Talvez essa leitura (e os livros indicados na bibliografia) já te ajude a recuperar um pouco da memória que nos foi roubada. Precisamos nos lembrar de Palmares!

“A Batalha pela Memória: reflexões sobre o socialismo e a revolução no século 20”, de Jones Manoel, em pré-venda na Editora Ruptura: Não li o livro, mas o título e a sinopse são um exemplo da vida real de um movimento para recuperar aquilo que nos foi roubado.

E aproveitando o ensejo, acho que é uma boa hora para inserir a seção de

Fundo preto, um livro aberto verde e o texto: "Estudos Gerais"

Hoje falando de História do Brasil.

Seja para escrever histórias, seja para entender melhor de onde eu vim, ou entender porque diabos centenas de pessoas lotam a Avenida Paulista para defender um genocida fascistóide que trai a própria pátria pedindo ajuda para uma potência imperialista (tô falando daquela cena ridícula do Bolsonaro tentando falar em inglês), eu tenho esse interesse de compreender cada vez mais a história do Brasil. Então resolvi começar com um clássico.

Capa o livro Formação Históricaa do Brassl nua edição surradina. NA capa se vê toda as bandeirs que o Brasil já tevee.

Olha aí o velho surradinho. E eu gosto muito dessa capa com todas as bandeiras que o Brasil já teve.

Foto de uma página do livvro Formação Histórica do Brasil onde se vê marcs de sublinhaddo e comentáros À lápis

Como é de segunda mão, eu ainda consigo ver os sublinhados e notas de estudo do dono anterior.

É um livro muito difícil de achar e só tem uns scans horríveis na internet (se quiserem encarar, tá aqui). Mas achei esse vendendo na Estante Virtual há uns 2 anos e minha amiga Duda me deu de presente de aniversário na época. Obrigadão, Duda.

Essa edição é de 1973 e, naquela época, esse livro era muuuuito usado. Eu acho ele muito completão e fácil de ler, não é uma comunicação exclusiva entre historiadores. Porém tem uma grande vantagem: na maioria dos casos, o Nelson deixa bem claro seu rigor científico e expõe bem seus argumentos e a base deles. As notas nos finais do capítulo são uma fonte de informações à parte. Por isso eu achei que seria um bom começo (meu outro motivo é: eu tenho o livro).

Minha ideia inicial para estudo foi fazer um resumo de cada capítulo — resumindo tanto as informações do texto corrido quanto das notas no final. O arquivo do primeiro capítulo, “Introdução”, ficou com 7.721 palavras. Se alguém quiser ler (até porque a ideia é substituir a leitura direta do livro quando os fins não são acadêmicos), responde esse email que eu mando o pdf do meu resumo. Mas por hora, vou mandar um resumo do resumo aqui e fazer alguns comentários.

Sodré começa definindo o objeto da história como as transformações da sociedade, usando como unidade de análise os modos de produção. Ele cita os seguintes modos: comunidade primitiva → escravismo → feudalismo → capitalismo → socialismo (deixa de fora os outros dois que costumam ser considerados nas publicações mais atuais, o modo de produção asiático e o modo de produção comunista). Na primeira parte, ele caracteriza em linhas gerais do modo de produção primitivo até a passagem para o modo de produção capitalista, já que os objetos de análise estarão circunscritos nestes modos.

Então, na segunda seção, Sodré demonstra como a passagem do modo de produção feudal para o modo de produção capitalista na Europa Ocidental impulsionou as Grandes Navegações. Na terceira seção, sumariza a história de Portugal e do grupo mercantil. Na quarta, explica porque não considera a fase mercantilista das Grandes Navegações como modo de produção capitalista, embora aquele fosse o momento de transformação do feudalismo em capitalismo, assim como não considera o capital comercial e o capital usurário como causas desta transformação.

Na quinta seção, argumenta que o momento das grandes navegações não constitui capitalismo em Portugal apesar da centralização monárquica, e sim outro tipo de feudalismo; e explica a necessidade mercantil das navegações e da colonização como foi montada. Na última seção, dá um panorama da empresa das navegações, que estava se apoiando muito no comércio do especiarias no final do século XV, e monta todo o cenário da colonização portuguesa no Brasil.

Resumo do capítulo 1 de Formação Histórica do Brasil (Nelson Werneck Sodré) por Ícaro de Brito Pereira

Meu primeiro comentário é já sobre o que considero uma falha desse livro ao falar sobre a Formação Histórica do Brasil: o Sodré desconsiderou demais os povos indígenas. Isso porque Sodré considerava os povos indígenas do território que seria o Brasil em 1500 como comunidades primitivas. Isto é, ele considera que os povos indígenas em 1500 se organizavam segundo o modo de produção primitivo, que é o mesmo modo de produção dos grupos humanos no período paleolítico e neolítico. Pois é.

Tem um motivo pra essa leitura equivocada: Nelson Werneck Sodré era marxista. Não falei muito sobre ele, mas vai aí um resumo: ele era versado em ciências sociais, sobretudo história, e em literatura também. Acho que hoje ele tá mais conhecido por sua contribuição sobre a história militar do Brasil (que ainda vou estudar), até porque ele era um general do Exército Brasileiro. E também era comunista, um intelectual muito influente do Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Voltando ao assunto, Nelson era marxista, então também acreditava na visão marxista de progresso. Em mais um dos resumos grosseiros que trago aqui na newsletter, essa visão de progresso seria a seguinte: nós, seres humanos, precisamos de certas coisas para viver (comida, água, segurança, etc) e a nossa atividade para garantir essas coisas, ou em outras palavras, produzir essas coisas é o trabalho. Daí a gente tem formas de organizar o trabalho e desenvolvimento de técnica e tecnologia para esse trabalho também, aí vamos chamar isso de forças produtivas. A visão de progresso no marxismo é que podemos entender as transformações nas sociedades olhando para o desenvolvimento das forças produtivas dentro dessas sociedades (claro que não é um olhar reduzido a isso, a gente está falando de uma unidade de análise, um ponto de partida para ver as outras coisas). Por isso tem todo esse foco nos modos de produção e etc.

Não manjo tanto de antropologia — embora tenha muito interesse. Até o momento, só vi um vídeo do Prof. Márcio Caniello sobre Lewis Morgan, o antropólogo estadunidense cujos estudos serviram de base para Friedrich Engels escrever seu livro “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”. Uma crítica que o professor fez à antropologia marxista é que ela se subscreve na antropologia evolucionista (do Morgan, por exemplo) por causa da visão de progresso. E o problema da antropologia evolucionista é que sociedades e culturas não evoluiriam da mesma forma que as espécies. Não há um melhoramento por causa do aumento de tecnologia, por exemplo.

Enfim, é uma crítica interessante e que me faz pensar até mesmo em psicologia (mas vamos comentar do Skinner, que não é marxista, e do modelo de seleção por consequências em outro dia). Mas eu responderia que a visão de progresso no marxismo não necessariamente significa uma evolução no sentido de melhoramento. Não significa que o capitalismo seja melhor do que o feudalismo simplesmente por ter um aumento nas forças produtivas. É uma ideia simplista demais. É só que as sociedades se transformam mediante este aumento das forças produtivas, e isso afeta a cultura e tudo o mais. Então para mim funciona sim essa visão de progresso que nos faz prestar atenção em modos de produção e essas outras coisas da economia política.

Óbvio que eu sou apenas um jovem estudante independente e não posso falar em nome de todos os autores marxistas. Mesmo assim, posso dizer que eu mando essa crítica para o Nelson Werneck Sodré.

Então, Nelson, você não deixou no seu livro (até agora) nenhuma base para afirmar que os povos indígenas deste território que chamamos hoje de Brasil configuravam modo de produção primitivo em 1500. Tem base para isso? /genuíno. Entendo que o estado das pesquisas nos anos 1970 era diferente, mas poderia simplesmente dizer que não há fontes o suficiente. Hoje, em 2025, a gente tem evidências inclusive de que a Floresta Amazônica é uma agrofloresta, com muita intervenção humana planejada ali. Afirmar que os povos originários eram modo de produção primitiva é precipitado demais. E mesmo se for verdade, você acha mesmo que os povos indígenas não tem contribuições substantivas para a formação histórica do Brasil só porque eram comunidades primitivas? /crítica. Isso aí tá certo não, meu parça.

E essa é a minha grande ressalva contra “Formação Histórica do Brasil”, do Nelson Werneck Sodré, o que vai exigir que eu consulte depois outras bibliografias para saber acerca da história dos povos indígenas do Brasil (inclusive, aceito sugestões).

Dito isso, concordo que a abordagem que ele fez nessa introdução seja importante. O Brasil começou com a colonização portuguesa nesse território. Se não fosse isso, existiria outra experiência aqui, mas não o que é o Brasil de fato. Sendo assim, é muito importante conhecer Portugal e os portugueses. É muito importante saber: por que é que eles resolveram vir pra cá? Por que fizeram o que fizeram?

E daí enquanto eu lia esse capítulo de introdução que é uma pincelada beeem geral na história de Portugal, percebi que… Caramba, eu não estudei isso na escola. E olha, minha escola era considerada boa e eu costumava prestar atenção nas aulas de história (quando eram realmente aulas). Eu não me surpreendo com a negligência no ensino da história da África e da história dos povos indígenas, mesmo com a Lei 10.639/2003 que obriga o ensino de história e cultura africana nas escolas e a Lei 11.645/2008 (promulgada no meu aniversário de 10 anos de idade) que reforça a obrigatoriedade da lei anterior, mas acrescenta também a história e a cultura dos povos originários do Brasil. Mas eu sinceramente me surpreendo com essa negligência quando o assunto é história de Portugal. Parece que há um descaso generalizado do Brasil quando o assunto é o próprio Brasil.

Um exemplo é quando falam da Revolução do Mestre de Avis, em que Sodré fala de uma treta historiográfica para saber se vale enquadrar esse evento como uma revolução burguesa (quando a classe burguesa toma o poder das mãos da aristocracia, coisa que aconteceu na Revolução Americana, nas Revoluções Inglesas e na Revolução Francesa, por exemplo) marcando ali um capitalismo adiantado em Portugal, ou se não vale. Sodré defende, inclusive, que não vale. Defende que o mercantilismo que levou Portugal a colonizar o Brasil ainda tinha uma lógica feudal, ainda não dava para falar em capitalismo propriamente dito ali nas Grandes Navegações. E ele tem bons argumentos — que eu mal consegui acompanhar porque nem sabia o que foi a Revolução do Mestre de Avis. Caso você não saiba também, fica aqui a versão ensino médio pré-vestibular do assunto.

Então depois de explicar sua visão acerca de capitalismo, mercantilismo e feudalismo para defender que Portugal teve feudalismo sim, mesmo que numa formatação diferente do que houve em outros países da Europa Ocidental (com muito mais influência de mercado, por exemplo), Sodré consegue reconstruir o cenário de uma forma que nos é muito familiar, mas ao mesmo tempo nova. As Grandes Navegações ocorreram por causa da acumulação de capital comercial. Comércio de açúcar e de especiarias, esse era o negócio português. Essa parte eu estudei na escola sim.

Mas algumas coisas soaram como novas para mim porque, na época da escola, eu não tinha correlacionado (ou nem fiquei sabendo): Portugal não foi a única nação muito comercial da Europa Ocidental na Idade Média. Na verdade, eles começaram sendo auxiliares do comércio veneziano. Com o açúcar começou assim mesmo: Veneza produtora, Portugal distribuidor… Situação que vai se inverter depois. Teve essa disputa com a Espanha quando encontraram as terras americanas, então Tratado de Tordesilhas foi ANTES da viagem de Pedro Álvares Cabral (que não foi nada acidental, diga-se de passagem); e em 1500 Portugal estava já começando a quebrar as próprias pernas para se manter uma potência comercial, daí começou uma relação bem próxima com a Holanda — que arranjava os navios para ter uma participação nos lucros de Portugal, mas também servia como distribuidora do açúcar que Portugal já produzia ali nas colônias das ilhas atlânticas da África. E foi um olhar novo pensar que o modo de organização ali era feudal, não capitalista.

Com isso percebemos uma coisa: em 1500, Portugal tinha zero interesse em colonização. Por que eles vieram então? Isso aí é assunto para o capítulo 2 do livro, daí trago comentários acerca dele em outra semana.

Fundo preto, um sinal circular de setas verdes, e a inscrição Atualizações.

Uma nova experiência! Comi o ovo trufado/ovo de colher pela primeira vez na vida. Quando essa moda começou, eu já morava numa casa com 5 pessoas e meu pai era o único com alguma renda. Então esse era o tipo de luxo que nossa família não podia arcar. Com minha irmã fazendo faculdade em outra cidade e eu vivendo minha vida em outro estado, acho que meus pais agora podem comprar um desses ovos de páscoa gourmetizados. Como eles estão viajando, na casa do meu avô — roça, não pega internet direito — não sei se vão comer ovos trufados, mas eu sei que EU COMI HAHAHA. Vanessa e eu compramos para dividir entre nós.

Ovo d páscoa trufado, de chocolate. Metade é chocoolate preto e metade chocolate branco, com três brigadieros em cima. Ele está numa caixa com um laço amarelo.

Tava bem bom isso aí!

Achei muito gostoso, mas sendo chocolate com recheio só de chocolate, também foi doce demais. Ano que vem vou tentar um de maracujá ou limão, algo mais ácido/azedinho para quebrar um pouco o doce. E se eu ainda estiver no Pará, vou ver se alguém faz isso com trufa de cupuaçu. Sério, isso com cupuaçu ficaria muito gostoso. Minha esposa falou isso e foi mindblowing, eu preciso experimentar um ovo trufado de cupuaçu.

Halo. Sei que tem outras temporadas lançadas em algum streaming por aí, mas só fui assistir agora que a primeira temporada da série foi lançada na Netflix. Nunca consegui jogar Halo, de fato, porque eu não consigo jogar first person shooters. Mas eu já gostava porque acompanhei a história pela playlist que o Sidão do Game fez no youtube. Dito isso, fiquei sabendo que os fãs da franquia odiaram a série… E também parece que é uma história alternativa, não tá no cânone considerado nos videogames. Mas foda-se, eu gostei da série.

Das coisas que mais gostei, posso destacar a abordagem crítica contra o imperialismo da UNSC (o governo centralizado da humanidade no universo). Logo no primeiro episódio, somos apresentados a Kwan Ha no planeta Madrigal, que é filha do líder revolucionário de Madrigal numa guerra anticolonial contra a UNSC. Infelizmente, já no início, morre todo mundo (menos a Kwan) num ataque dos Covenant — uma aliança alienígena fundamentalista religiosa, resumindo. Mas em nenhum momento vão passar pano para a UNSC e, pelo menos no resumo dos games apresentados pelo Sidão do Game, acho que os videogames ficam muito naquela de “UNSC tem seus defeitos, mas é o que representa a humanidade <3”. Imperialistas do caralho, dá pra defender não (até porque o projeto Spartan-II e a visão de transcendência humana da Dra. Halsey é uma parada muito eugenista, aquela ali só não é nazista porque não existe o partido do bigode ali naquele universo).

ENTRETANTO… Também gostei de um aspecto bem legal da série. A dinâmica da realidade não é moral, sabe? É verdade que a UNSC é uma bosta e eu gostaria muito de ver as colônias externas conseguindo sua independência e detonando com aquele sistema ali, mas os Covenant não dão a mínima para essas questões humanas. Eles chegaram à conclusão de que humanos são uma espécie inferior que precisa ser varrida (lá vem ideias supremacistas também) e páh, é isso, não importa se são das colônias externas ou da UNSC. Aí traz a questão: você, da colônia externa, dá conta de lutar contra a UNSC e contra os Covenant ao mesmo tempo? Vai precisar bolar sua estratégia, né? Adianta nada estar certo se no final você vai morrer sem concretizar seu ponto.

E é claro que a UNSC, boba nem nada, aproveita da guerra contra os Covenant para forçar as colônias externas a se submeterem a elas. Na aparência vai o papo “precisamos nos unir como humanidade para sobreviver aos ataques Covenant”, mas na essência é “AGORA SIM A GENTE CONSEGUE CONTROLAR ESSA BAGAÇA MUAHAHAHAHA”. Bando de desgraçado.

Enfim, essas nuances em Ficção Científica Militar são bem legais. Talvez um dia desses eu escrevo uma newsletter conectando o que penso de Tropas Estelares, Guerra do Velho e Halo (basicamente as únicas FC militares que conheço. Se tiverem mais indicações, podem mandar).

Oxygen not Included Com o fracasso da colônia Agora Vai, iniciamos outra colônia chamada Modesto. Mesma história de ter dado errado a colonização e caírem dentro do planeta (ou era asteróide?) e não na superfície.

Enfim, já joguei uns 111 ciclos dessa colônia, então vou aproveitar mais para apresentá-la.

Segue a lista atualizada dos 9 duplicantes que fazem parte dessa colônia: Abe, Burt, Ellie, Marie, Quinn, Steve, Stinky, Travaldo e Turner.

Aqui vemos quartos para 10 duplicantes e uma cozinha

Aqui temos um depósito com muitas caixas de armazenamento, um laboratório, e a sala principal onde tem o portal dos duplicantes ficou como um refeitório bonitinho. E eles agora tem esses gatinhos que se chamam pipsqueacks.

Aqui temos as salas de geração e armazenamento de energia. Embaixo, temos um gerador a carvão e três geradores a hidrogênio. Em cima temos as baterias e um sistema de automação para interromper a geração de energia quando as baterias estão cheias.

Aqui temos os banheiros. Em cima temos os vasos sanitários e pias, em baixo temos os chuveiros.

Aqui está o depósito de água poluída, ainda sem tratamento.

Muitas coisas aconteceram nos 111 ciclos da Colônia Modesto, como a vez em que Stinky ficou preso numa parte da colônia ao fazer manutenção no reservatório de água e acabou fazendo xixi ali — coisa que foi feita rapidamente, a água já foi descontaminada.

Embora não tenham tido tantas crises quanto a Colônia Agora Vai, inclusive chegando à marca de 100 ciclos sem perder nenhum duplicante, a Colônia Modesto enfrentou um grande desastre recentemente. No 101º ciclo, ao desfazer canos temporários de drenagem de água para o reservatório, Quinn cometeu um erro fatal: ela desfez o chão do reservartório e iniciou um grande vazamento de água.

A colônia entrou em alerta vermelho por 3 ciclos, enquanto eles repunham o chão do reservatório e trabalhavam para levar a água de volta ao reservatório. Foi necessário cavar bastante para que toda a água se acumulasse em um lugar só, onde puderam construir uma bomba que a drenasse de volta ao reservatório. Entretanto, durante esse tempo houve uma inundação da sala de geração de energia, o que causou um pane geral no sistema elétrico durante esses 3 ciclos.

Parecia que estava tudo perdido, mas com muito trabalho e dedicação, os duplicantes da colônia Modesto conseguiram drenar de volta toda a água. Precisaram instalar um gerador manual para conseguir mais hidrogênio e pôr os outros geradores para funcionar, mas deu certo. Como muita água foi perdida, encontraram outra reserva de água e a drenaram também para o laboratório. Em cerca de 10 ciclos, a colônia voltou ao normal e nenhum duplicante faleceu.

Agora temos alguns problemas a resolver: (1) a sala de geração de oxigênio está muito quente, o que está elevando a temperatura de toda a base; (2) a água poluída está se acumulando, precisamos criar uma estação de tratamento dessa água para reutilizá-la e (3) a distribuição de energia ainda não está perfeita. Os cabos não estão mais quebrando, mas às vezes a parte da cozinha dá picos de queda de energia. Talvez seja algum problema no transformador.

E como resolverei? Vendo a playlist tutorial do Pesterenan, com certeza.

Canal Nostalgia mandando bem! A semana passada começou com um vídeo muito bom do Canal Nostalgia: “O Brasil Antes de 1500: a história não contada”. Eu comentei no texto que existem evidências de que a Amazônia é uma agrofloresta pré-cabralina, e nesse vídeo o Felipe Castanhari apresenta essas evidências — fora outras coisas interessantes sobre civilizações do Alto Xingu e também os marajoaras. Sério, se você não viu, assista. É uma base para começar a questionar outra vez: dá mesmo para considerar os povos indígenas pré-1500 como “comunidades primitivas”? Não deveríamos mudar nosso olhar pra compreender formações sociais diferentes do que a gente aprende numa historiografia eurocentrada?

Mas é isso. Feliz páscoa e até semana que vem.

Reply

or to participate.