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A Lenda de Larzo — Dobradinha "Prólogo" + "Capítulo 1"
Aqui você tem uma história e quase um reality show mostrando como alguém escreve uma história.

Oi, oi, pessoal. Hoje começamos a saga “A Lenda de Larzo”, um projeto iniciado com o intuito de escrever uma História de Fantasia Genérica, conforme apresentei na newsletter de ontem. Enfim, não vou deixar vocês esperando, então vamos começar com o Prólogo e o Capítulo 1.
Se preferirem, também podem ler pelo Scriv, tô deixando tudo por lá. Só não vai ter o Making-off no final, isso é exclusividade dos assinantes da newsletter.
Prólogo
O Deus-imperador Nicolas Albigorn estava satisfeito ao olhar para sua cidade.
Construída há quinhentos anos na Montanha Quebra-ondas, a Cidade da Bigorna era a Maravilha do Mundo. De seu palácio, no cume da montanha, o Deus-imperador podia ver tudo. Lá embaixo, o Porto Imperial, por onde fluíam riquezas que abasteciam todo o Império Albigorn. Navios iam, navios vinham, e seus comandantes mantinham a segurança através dos canhões dos fortes. Se hereges tentassem atacar a Cidade da Bigorna pelo mar, teriam seus navios afundados e nem mesmo as sereias e tritões seriam capazes de resistir à fúria do General Armes… Ou será que era a General Jina? Às vezes era difícil se lembrar quem é que estava no comando naquele século. Mortais morrem rápido demais.
Por isso, as estruturas eram importantes para o Deus-imperador. O porto existia ali há quatrocentos e cinquenta anos, assim como o Distrito Mercante, anexo a ele. O próprio Deus-imperador já vivera ali, no Tabernáculo, a casa luxuosa que hoje servia de centro de coleta tributária. Na época, ainda estava fazendo o mundo conhecer seu nome.
Seus exércitos eram abastecidos pelo aço divino forjado dos minérios da Quebra-ondas. Por isso estabeleceram lá as Minas Divinas. E quando conquistaram os gnomos que lá viviam, puderam criar a Cidade Interna, que se estendia por vários andares de edifícios, indo das minas até o topo da montanha, onde ficava agora o Palácio dos Céus, morada do Deus-imperador.
Nunca houve e nunca haverá cidade tão magnífica. Sua criação.
Ele só queria que ela estivesse ali também para contemplar o fruto de séculos de trabalho.
Margarete, a única que podia continuar com ele.
Nicolas Albigorn não temia mais aquela velha profecia. Tempo demais se passou desde que aquela velha dissera que um mortal pequeno e fraco usaria sua inteligência para derrotá-lo. Desde aquela época, ele já havia vencido inúmeras guerras contra grandes e pequenos, fortes e fracos, deixou de ser um mortal e se tornou o Deus-imperador. Mal algum poderia atingi-lo agora.
Infelizmente, Margarete acreditava na profecia. E acreditava que seu cumprimento estava próximo. Por isso partiu, e mesmo sendo Deus-imperador, Nicolas não poderia encontrá-la. Ela disse que um ou dois séculos não seriam nada perto da eternidade em que passariam juntos, mas esses últimos dois séculos tinham sido muito tediosos sem ela por aí.
De qualquer maneira, o Deus-imperador confiava em Margarete. Ela podia até estar exagerando quanto a profecia, mas tinha razão em enfrentar os hereges. E, no final de tudo, não haveria nada mais a temer.
Capítulo 1
A lua já estava no seu ponto mais alto no céu quando Larzo se encontrou com Evangeline do lado de fora da igreja. Ela estava mais do que pronta, alongando suas asas para aquela operação, o que foi um grande alívio para Larzo. Evangeline era tão graciosa quanto uma erote poderia ser, mas isso só quando estava voando. Em terra, ela era a pessoa mais desastrada que Larzo já havia conhecido, então era um verdadeiro milagre que tinha conseguido sair da igreja sem acordar os outros residentes.
— Muito bem, Evangeline! — Larzo fez um joinha na direção dela — A primeira parte do nosso plano já é um sucesso.
Evangeline soltou um suspiro pesado. Mesmo com o frio da meia noite, dava para ver algumas gotas de suor descendo sob a pele dela — muito a mostra, porque ela só usava um top e uma saia de linho branca, basicamente suas roupas de dormir. Larzo conseguia imaginar o porquê. A altura média dos erotes daquela região era de 170 centímetros, mas Evangeline não era dali. Era grandona desde criança, mas agora, aos 19 anos, tinha seus 190 centímetros, sem contar a envergadura de suas asas, que a fazia esbarrar em quase tudo em seu caminho. Além disso, tinha seus longos cabelos prateados que volta e meia se enroscavam nas asas e gerava desastres ainda maiores. Larzo já aconselhara Evangeline a cortar o cabelo, mas ela sempre dizia que sua autoestima seria cortada fora junto com ele, caso o fizesse. E, bem, ela tinha motivos para gostar do cabelo longo. Aquele prateado combinava muito bem com sua pele azul escura. E bom, para aquela noite ela tinha o arrumado num coque alto, então não teriam acidentes.
— É melhor esse dispositivo mágico funcionar — ela falou assim que viu o amigo se aproximar — você não tem ideia do sufoco que passei encolhendo minhas asas pelos corredores até chegar aqui fora. Sério, Larzo, não seria muito melhor você tentar se esgueirar pelo lado de dentro? Ou sei lá, chamasse o Theo pra isso. Vocês goblins são tão pequenininhos e levinhos que duvido que pudessem acordar a Madre.
— Primeiramente, a fechadura da porta do escritório tem um encantamento que avisaria o Irmão Humberto caso eu falhe na tentativa de abrir, por isso precisamos entrar pela clarabóia — Larzo apontou para cima, o que fez Evangeline revirar os olhos — Segundamente, Theo não é meu melhor amigo, você é.
Aquilo fez Evangeline sorrir. E não era como se Larzo quisesse bajulá-la ou algo do tipo, Evangeline sempre fora sua melhor amiga de verdade.
Seus primeiros cinco anos de vida tinha sido entre bandidos. Sendo um goblin, Larzo era pequeno e magro, o suficiente para caber em lugares que a maioria das pessoas não caberia, e sendo um órfão, não tinha escolha a não ser obedecer aqueles que pelo menos evitavam que morresse de barriga vazia. Mas não podia chamar ninguém ali de amigos ou família, tanto é que quando um assalto deu errado, eles fugiram e o deixaram lá, a mercê dos guardas. Sua sorte foi o grande coração da Madre Celéstia, a sacerdotisa que cuidava da Igreja da Vila Amora.
Por mais que a Vila Amora se situasse na Província de Calena, a região com maior população goblin de todo o Império Albigorn, não era como se as pessoas estivessem com vontade de adotar um goblin trombadinha. Mais tarde lhe diriam que a recusa das pessoas em adotá-lo era por causa do antigo estigma no Império Albigorn de que goblins são traiçoeiros e pouco confiáveis. Todos os goblins levavam vidas justas e austeras tentando superar esse estigma, então não seria de bom tom adotar uma criança de seis anos que tentava roubar as ofertas da igreja. Ainda mais tarde, a Madre Celéstia explicaria que nem mesmo aquele estigma faria sentido: goblins são pessoas, afinal, e não existia apenas uma nação goblin no mundo. Mesmo que alguma delas fosse traiçoeira no passado, qual seria o sentido de estigmatizar todas as outras?
Mas não importou, pois Madre Celéstia, uma humana, o adotou na família sacerdotal. E lá pôde conhecer Evangeline, outra órfã que se via excluída entre as crianças da Vila Amora por ser tão diferente. Larzo e Evangeline se entendiam e se apoiavam, e desde o momento em que decidiram brincar juntos pela primeira vez, nunca mais estiveram sozinhos.
— Terceiramente, Evangeline — Larzo começou, porque aquele laço inquebrável com sua melhor amiga não era seu principal motivo para arrastá-la até ali no meio da noite — Não foi Theo quem passou o último mês me atazanando para arranjar desenhos proibidos de abisses obscenas.
— Não eram só abisses, Larzo! — Evangeline protestou — Também tem desenhos de gnomas, humanas, elfas, medusas e até sereias nuas. Você já viu uma sereia nua? Eu aposto minhas asas que não!
— Olha, eu posso até te ajudar com suas loucuras, mas não significa que vou fazer o mesmo. Esse tipo de intimidade é…
— Exclusividade do matrimônio — Evangeline completou fazendo um falsete sarcástico — Eu sei, eu sei, e não estou aqui para desvirtuar o caminho do futuro presbítero da Igreja da Vila das Amoras. Só tenho minhas curiosidades artísticas.
— Claro… — Larzo riu.
Evangeline era sim uma exímia pintora e escultora, mas seu interesse em desenhos proibidos não eram meras curiosidades artísticas. Mesmo tendo sido condenada a limpar as latrinas várias vezes por espiar umas camponesas tomando banho, continuava rascunhando em segredo pessoas tendo relações íntimas. E não raras vezes, ela mesma se desenhava naquelas relações. A maioria dos seus desenhos envolviam goblins, humanas e erotes, uma vez que eram os tipos de pessoas cuja Evangeline conhecia a anatomia. Por isso, desde quando ouviram os rumores de que os sacerdotes confiscaram um caderno de rascunhos proibidos contendo desenhos de tantos tipos, Evangeline não conseguia pensar em outra coisa. Mas claro que ela própria não ia invadir o escritório privativo da Madre Celéstia sozinha, claro que pediria ajuda a seu amigo “goblin com pés de pluma”.
— Você é uma tarada folgada, Evangeline.
— Como se você não tivesse seus interesses também — ela passou as mãos pela barriga nua, numa tentativa de parecer sensual.
Aquilo fez Larzo revirar os olhos. Claro, conseguia reconhecer a beleza de Evangeline, mas ela era como uma irmã para ele, não conseguia pensar nela de outra forma. E a própria Evangeline não pensaria em Larzo daquela forma, ela sempre preferiu garotas. Aquilo tudo era só para irritá-lo.
— Vamos logo com isso antes que eu mude de ideia — ele disse por fim, segurando bem sua bolsa com os utensílios.
Evangeline riu e então pegou Larzo no colo, levantando voo até a claraboia no topo da igreja. Uma vez no ar, não foi difícil para Larzo usar suas gárzuas para arrombar a fechadura da janela. Um clique e ele já estava lá dentro.
— Quando eu terminar, te mando um sinal.
Evangeline fez um joinha e subiu para os céus, onde permaneceria escondida pela noite. Quanto a Larzo, agora era só acender a lamparina e começar o trabalho.
Segundo o que Evangeline lhe contara, o caderno em questão era um com a capa vermelha, e com uma cor tão chamativa não foi difícil encontrá-lo na estante da Madre. Larzo levou-o até uma mesa e preparou o dispositivo de memória. Era um artefato mágico, muito raro, e custara as economias tanto dele quanto de Evangeline para comprar nas mãos de Razeru, uma mercadora abis que passava por ali de tempos e tempos com itens exóticos. A parte que estava com Larzo emitia uma luz que capturava imagens, como uma pintura ultrarrealista em tempo real, e a outra parte que estava guardada em seus pertences transferia essas imagens para folhas de papel. Com aquilo, poderiam copiar rapidamente todo o conteúdo do caderno. E Larzo não podia enganar ninguém, ele estava muito interessado em testar aquele dispositivo.
Com tudo pronto, ele abriu o caderno.
Mas não tinha nenhum desenho nele.
Tinha um texto.
14 do Mês Terceiro do ano 526 do reinado do Deus-Imperador Nicolas Albigorn
Minhas recentes descobertas vão abalar nosso mundo. Mas devo começar a registrar do começo.
Hoje posso ser considerada uma herege do pior tipo, mas comecei minha missão por ser uma devota sacerdotisa do panteão, tendo uma ligação especial com Bramon, o deus supremo, aquele que teria cedido parte da sua essência para habitar entre nós como nosso Deus-imperador. Por isso fui numa missão no Mar de Areia, desvendar os mistérios do templo que tinha se revelado sob os ventos.
Eu e minha equipe demoramos bastante tempo tentando decifrar os hieróglifos nas paredes do templo, mas notei que os caracteres eram bem parecidos com a escrita goblin antiga da Província de Calena, onde nasci.
A primeira palavra que decifrei era uma das que mais se repetiam nas paredes: margarete. Não tem uma tradução exata para nosso idioma, mas pela aproximação com a língua goblin que ainda é falada por alguns, cheguei a essa conclusão. Aquilo claramente se falava “margarete”. E depois traduzi outra palavra que, dessa vez, tem tradução. Vida eterna.
“Margarete” e “vida eterna” estavam quase sempre juntas nas mesmas frases, por isso intuí que a coisa mais importante a se fazer seria descobrir o que é um margarete.
Larzo ficou tão absorto pelo relato daquele diário que até se esqueceu do motivo de estar ali. Não tinha tocado nem no dispositivo e nem mesmo folheado o caderno em busca dos desenhos. O problema maior, porém, foi não ter notado quando a porta do escritório foi aberta até ouvir a familiar voz da Madre dizendo:
— Esse livro não é para você, Larzo.
O sobressalto dele foi tão grande que quase caiu da cadeira — o que seria uma queda muito feia, considerando que ela foi pensada para o tamanho médio de um humano, não para um goblin de 100 centímetros. A Madre estava ali, de pé, com uma touca prendendo os cabelos loiros e um robe branco de linho cobrindo seu corpo. Em suas mãos, havia outro caderno vermelho.
— Deixa eu adivinhar, Evangeline te convenceu a vir aqui e obter alguns desenhos proibidos para ela.
Larzo não sabia o que falar. Mal sabia o que pensar. O que o havia denunciado, em primeiro lugar? Tinha certeza de que não haveria nenhum encantamento na janela da clarabóia.
— Não foi nenhum encantamento, sua infiltração foi perfeita aos olhos mortais — a Madre falou, como se estivesse lendo seus pensamentos — Mas os deuses veem tudo, então me impediram de vir guardar este tomo proibido durante o dia, para que eu viesse aqui na hora mais escura e te encontrasse violando nossas regras.
Então ela substituiu o caderno vermelho que Larzo lia por aquele que ela tinha em mãos. Larzo abriu o novo caderno e deu de cara com o desenho de uma górgona nua, com as pernas abertas, e com os dedos numa posição muito sugestiva. É, aquele ali era o alvo de Evangeline.
Evangeline! A Madre já desconfiava dela e, conhecendo como as coisas funcionavam na igreja, era bem capaz que sua amiga é quem se encrencasse. Já que as coisas tinham falhado, pelo menos aquilo Larzo impediria. Afinal, era ele quem estava lendo livros proibidos. Não havia nenhuma prova ali do envolvimento de Evangeline.
— Vim por minha própria vontade, Madre. Perdão, eu estava muito curioso com o conteúdo dos livros proibidos e não resisti à tentação. Aceitarei qualquer punição que…
— Não tente me enganar, Larzo. Eu sei que foi ideia da Evangeline. E sei desse dispositivo de memória aí também.
Larzo se sentiu tão encurralado como naquela vez, em sua infância, em que os guardas o prenderam. Não conseguia nem imaginar quantos anos limpando latrinas ele dividiria com Evangeline a partir dali. Seu futuro enquanto presbítero na igreja estava, com toda a certeza, arruinado.
— Vai, usa o dispositivo para copiar os desenhos da Evangeline — a Madre falou de repente, enquanto guardava o outro caderno vermelho na estante.
Por um segundo, Larzo achou que tinha ouvido errado, mas depois percebeu um sorriso brotar no rosto da Madre Celéstia.
— Eu já fui jovem com hormônios à flor da pele. Sei que não fará tão bem reprimir os desejos da Evangeline — ela explicou — É melhor que ela se descubra aqui, rodeada por seus amigos, do que exposta no mundo perigoso que há lá fora. Não concorda comigo?
Outro sorriso se acendeu no rosto de Larzo. Por isso admirava tanto Madre Celéstia e por isso queria ocupar seu lugar, no futuro. Ninguém poderia negar que ela cumpria suas obrigações perante os deuses, mas a fé dela não era cega para o sofrimento das pessoas ao seu redor. Ela até mesmo admitia que, muitas vezes, o fardo imposto pelo Deus-imperador em troca de sua benção e proteção era pesado demais, e usava as próprias ofertas recolhidas pela igreja para ajudar as pessoas da Vila Amora. Se mais pessoas como ela existissem no mundo, crianças como ele e Evangeline nunca teriam sido abandonadas.
— Significa então que nós vamos nos livrar das latrinas? — ele arriscou, aproveitando o bom humor da Madre.
— Só dessa vez.
Aquilo era o suficiente. Por hora, Larzo resolveu cumprir seu trabalho de registrar o caderno obsceno no seu dispositivo de memória. Mesmo assim, enquanto gravava imagens de mulheres de diversos tipos, não conseguia tirar da cabeça o que lera no outro caderno vermelho. “Margarete”, “vida eterna”, “goblins no deserto”. O que era tudo aquilo? Só de imaginar as respostas àquelas perguntas sendo queimadas fazia o estômago de Larzo revirar.
— Madre, você vai queimar esses livros? — acabou perguntando, por fim.
A Madre ficou surpresa com a pergunta, mas depois suavizou a expressão e se dirigiu novamente a escrivaninha onde Larzo terminava seus trabalhos escusos.
— Não queimamos conhecimento aqui na Vila Amora, Larzo. Seja herético ou não, é importante que alguém saiba. Por isso nós, da igreja, aprendemos a arte sagrada das letras. Somos guardiões do conhecimento.
— Mas por que proibi-lo então? — Larzo perguntou e, quando o fez, ficou surpreso por não ter se perguntado antes. É fácil não se importar com coisas importantes quando essas coisas não lhe interessam. Mas agora aquilo o interessava e muito.
A Madre suspirou e então continuou:
— Conhecimento não se trata de palavras vazias. Elas carregam significado, significado que pode alterar o sentido do sue próprio ser. Por isso nós protegemos as pessoas das heresias. Não queremos que significados caóticos tirem o ser delas da ordem.
— Eu… Não entendo.
— Não precisa entender, meu filho — a Madre passou as mãos nos curtos cabelos vermelhos de Larzo — Não agora. Mas essa é uma grande responsabilidade. Então me prometa que não lerá mais livros proibidos sem supervisão até que se torne um presbítero completo, tudo bem?
— Prometo — Larzo respondeu, sorrindo ao se lembrar do detalhe na frase da Madre: “sem supervisão”. Quer dizer que poderia voltar a ler o caderno vermelho, desde que supervisionado por ela.
— Você está fazendo comigo o que faz com ela, não é? — Larzo perguntou, depois de uns minutos — Sabe que minha curiosidade é grande demais e prefere que eu caia em tentação entre família e amigos do que lá fora.
A Madre sorriu.
— Você sempre foi um aprendiz rápido — disse — E sim, isso é o que posso fazer por vocês. Desde que os dois chegaram a minha vida, sei que o propósito dos deuses para mim é cuidar de vocês. Nós protegemos quem amamos, e eu amo você, Larzo, e amo Evangeline, de todo o meu coração.
E Larzo também amava a Madre Celéstia, de todo o seu coração.
Making-off
O prólogo foi basicamente como eu tinha imaginado quando escrevi a newsletter que foi lançada ontem. E não, eu não escrevi isso de um dia para outro. A verdade é que eu escrevo as newsletters semanas antes de lançá-las de verdade, deixo só a parte das “Atualizações” atualizada.
Acho que o que posso comentar é a ideia por trás dos nomes. Cidade da Bigorna é por causa do título Albigorn, que me lembra bigorna. Aí já imaginei sendo um lugar bom para a mineração e forja (daí “bigorna”), mas sendo capital do Império, seria bom a geografia ajudar. É uma montanha na costa. É bom para defender um porto e não tem jeito fácil de invadir com um exército. Parece uma boa capital de Império.
Os nomes “Quebra-Ondas” e etc é porque nomes de fantasia são assim mesmo, só que nos acostumamos com o inglês. Você provavelmente acharia o nome “Wavebreaker” maneiro, mas é basicamente “Quebra-ondas”. Pensei em “Quebrondas”, mas gostei mais da primeira forma não flexionada.
Agora vamos ao capítulo 1. Decidi que o nome do protagonista fosse Larzo. É diferente e me lembrou dois nomes que estavam vindo na minha cabeça direto: Lazlo, protagonista de “Um Estranho Sonhador” (da Laini Taylor), e Larza, que é o personagem jogável de um jogo criado num tutorial de RPG Maker do YouTube.
Vocês devem ter percebido que a Evangeline não é uma sereia maga, né? É porque aqui estamos com o Elenco do Larzo. Eu disse que considero que cada personagem pensado naquele planejamento inicial teria um elenco de outros personagens ao redor, e a primeira que criei é a Evangeline. Ela é basicamente uma anja, mas eu não queria usar o nome “anjo”, daí pensei: “o que substituiria?”. Como a imagem de anjos que temos (seres humanos com asas) é mais ligada às representações do Cupido, que é a versão romana do deus Eros, decidi chamá-la de erote. E o fato de ela gostar de uns desenhos pornográficos é só mera coincidência (e não, não teremos cenas hot nessa história).
Essa ideia de Larzo e Evangeline indo invadindo o escritório da Madre Celéstia (sim, é a sacerdotisa do planejamento) veio da seguinte forma: seria legal Larzo invadir algum local pra dar um foreshadow do que ele vai fazer na história, ou seja, ladinagens. Mas o que dois amigos criados em um ambiente religioso (de uma religião que reprime sexualidade) roubaria? Algo pornô, com certeza. E daí resolvi criar uma primeira separação entre os dois: Evangeline é quem vai se interessar pelo pornozão de verdade, mas Larzo se importa com ela o suficiente pra entrar nessa pira.
No meio resolvi colocar esse diário como uma peça de “mistério”. Daí, com isso em mente, fui escrevendo e saiu isso aí. Espero que tenham gostado.
Por fim, vou nessa e, como citei o livro, vou deixar minha avaliação aqui embaixo.

My rating: 5 of 5 stars
Uma das melhores leituras desse ano! Agora vou sofrer até conseguir o segundo livro.
A escrita é poética, mágica, e faz a gente viajar na imaginação mesmo. O mundo é muito vasto , interessante, bonito e feio ao mesmo tempo. E é uma coisa apaixonante acompanhar o desenvolvimento do Lazlo e da Sarai. Na verdade, todos os personagens são muito bem desenvolvidos.
Tem uma vibe bonita e bem contos de fadas, mas ao mesmo tempo, traz temas extremamente pesados sem nenhum pudor. E pensa na quantidade de conflito moral que a gente enfrenta nessas páginas? Putz! É um livro muito denso, mas com glitter.
Agora vou dizer, uma das partes que mais me prenderam foi o romance entre Lazlo e Sarai. Eu não esperava que fosse rolar algo assim, mas quando rolou... PUTZ. Foi a coisa mais fofa do mundo! Pena que essa fofura toda serviu para quebrar meu coração em mil pedaços (espero que o segundo livro faça justiça aos meus sentimentos).
Falando em romance, é muito interessante ver eles explorando sexualidade pela primeira vez. Principalmente Rubi e Feral, que estão na Cidadela, isolados do mundo. Nossa... E o que dizer da Minyia, que está presa ao passado (não só em aparência)? Ou do Eril-Fane, que não se sabe se é um herói ou um vilão? Tem tanta coisa aqui.
Eu ia dizer que o livro é lindo, sem defeitos, mas... Fiquei só meio decepcionado para a resolução do arco "Estranhisse do Lazlo, o Estranho". É uma resolução clássica desde a literatura gótica (uia, tô aprendendo, viu Escambau e Moacir Fio? /gente, não levem essa afirmação a sério, não tô com rigor acadêmico não), mas é que eu realmente não gosto dela
(view spoiler)
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